A história de mais de 140 anos da família Royer no Brasil está cada vez mais perto de ter um local específico de preservação e o memorial ficará no interior de Venâncio Aires. Isso porque está em andamento a reforma da casa de Mathias Royer, primeiro imigrante da família no país. Ele ergueu a residência em 1880, quando Venâncio ainda pertencia ao município de Taquari – 11 antes da emancipação de Santo Amaro.
A casa fica em Linha São João, região de Vila Estância Nova, e a reforma começou há cerca de um ano. Embora construída há mais de um século, a maior parte da estrutura original será mantida. O que precisou ser trocado totalmente foram telhado e forro, mas mantidas as tesouras. Quanto ao madeirame nas paredes (que caracteriza o estilo enxaimel), as aberturas e o assoalho, houve apenas o restauro, com lavagem, aplicação de inseticida contra cupim e pintura. Os grandes barrotes, sob o assoalho, estão bem preservados. “Pouquíssima coisa precisou ser tirada. Uma ou outra parte podre da madeira que tivemos que substituir. Mas 90% da estrutura conseguimos manter original”, destaca Arno Royer, 65 anos, bisneto do imigrante e vice-presidente do Instituto Família Royer. Segundo ele, do que foi possível identificar em madeira usada na casa, há grápia, guajuvira e angico, árvores comuns na região na época. As pedras de areia também foram tiradas da propriedade.
Custos
A compra da área de 8,5 hectares em Linha São João foi efetivada em 2021. Até agora, foram gastos cerca de R$ 100 mil com a restauração da casa, que tem 176 metros quadrados. O dinheiro foi arrecadado com os próprios familiares que integram o Instituto Família Royer, fundado há três anos, e que conta com cerca de 130 associados, descendentes espalhados pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Paralela à reforma, que deve ser concluída ainda em 2024, está projetada a revitalização de toda a área, com construção de um pavilhão de eventos, cabanas germânicas como pousada e uma capela. A ideia é que o local possa ser usado pelos familiares para encontros e ser visitado aos finais de semana, fomentando também o turismo rural na região.
Segundo Arno Royer, muita gente já tem passado no local, inclusive uma escola esteve por lá no ano passado. Por isso, há um caderno que serve como livro de registros. Arno e a esposa Elisa, 62 anos, ainda têm trabalhado no ajardinamento e reflorestamento. Também já foram plantadas dezenas de árvores frutíferas nos fundos da propriedade.
De volta às origens
Para se dedicarem ao projeto, Arno e Elisa trocaram Itapiranga, em Santa Catarina, pela Linha São João no início de 2023. Desde então, têm trabalhado na reforma. “Muito da mão de obra estamos fazendo e o primo Paulo, que é de Venâncio, também ajuda nos fins de semana. Ele fez as aberturas da cozinha [peça anexa nos fundos da casa]. Contamos com ajuda de um pedreiro para troca do telhado, reboco novo [antigo era de barro], piso e banheiros”, explicou o aposentado.
Na peça dos fundos, foi tirado todo o reboco para evidenciar as grandes pedras de areia. É nela que está improvisada uma cozinha para uso de Arno e Elisa. Para dormir, o casal ocupa o próprio motorhome. Essa moradia é provisória, porque o aposentado, assim que terminar a reforma da casa do bisavô, vai construir a própria residência. “Viemos com a ideia de restaurar e acabamos comprando uma área próxima para ficar. Nos sentimos bem aqui, nossa filha está perto [mora em Canoas]. É como voltar para ‘casa’, para a origem, onde tudo começou. Tenho muita gratidão por viver tudo isso e ajudar a preservar a memória da família”, ressaltou o aposentado.
Centro Geriátrico
• O memorial dos Royer é a primeira etapa de um projeto maior e que prevê a construção de um Centro Geriátrico na mesma propriedade. Como a previsão é de investimento superior a R$ 6 milhões, dependerá de uma grande captação de recursos, por isso é algo pensado apenas para o futuro. Atualmente, projeto semelhante está em andamento no município de Itapiranga, em Santa Catarina, estado onde moram muitos descendentes dos Royer.
História
Mathias Royer veio para o Brasil em 1860 e inicialmente morou onde hoje é o município de Barão, na Serra gaúcha. Em 1880 chega ao então Faxinal dos Fagundes (futura Freguesia de São Sebastião Mártir, como era chamada Venâncio até a emancipação, em 1891).
O imigrante nasceu em uma região entre a Bélgica e a França, atualmente Luxemburgo, um pequeno país europeu comandado por um grão-duque. Ou seja, os Royer têm origem francesa, mas a relação com alemães está presente. Prova disso, é que a casa construída por Mathias é no estilo enxaimel, técnica associada aos germânicos. Muitos dos descendentes, aliás, falam a língua alemã.
Encontro da família
• No dia 5 de maio, um domingo, haverá o segundo encontro da família Royer. O evento será realizado na comunidade Nossa Senhora de Lourdes, em Vila Estância Nova.