Em 1875, foi construída a primeira capela de São Miguel, 16 anos antes de Venâncio Aires se tornar município.
“Em 16 de maio de 1875, o padre Guilherme Ley partiu de Santa Cruz do Sul a cavalo até Linha Brasil, onde ficou por três dias. Depois chegou à Colônia de Santa Emília e permaneceu ali nos dois dias seguintes, exercendo os ministérios sacerdotais na capela nova construída lá pelos colonos.”
Esse texto, de um arquivo jesuítico, está num quadro dentro da Igreja São Miguel, em Vila Santa Emília. Narra o início da história daquela comunidade pioneira de Venâncio Aires, responsável pela construção de uma capela de madeira em honra a São Miguel, há exatos 150 anos, e que é considerada a primeira igreja do território venâncio-airense.
Essa primeira capela não existe mais, foi demolida há mais de 100 anos para construção de uma nova igreja (conhecida por ser uma das mais bonitas do interior do município). Mas, sendo uma comunidade que resgata e preserva a história, não se poderia deixar de celebrar aquele primeiro templo. Por isso, para marcar o 150º aniversário da primeira igreja, a comunidade de São Miguel-Santa Emília prepara uma festa. O evento será realizado no dia 25 de maio, um domingo, no ginásio de Linha Duvidosa. Na programação, missa com o bispo da diocese de Santa Cruz, Dom Itacir Brassiani, almoço e muita música (veja box).
Orgulho da história
Os mais antigos diziam: vamos à missa ‘atrás do monte’. A referência geográfica faz todo sentido, porque quem parte de Vila Santa Emília para chegar até a Igreja São Miguel, precisa subir e descer o chamado ‘Kunkelsberg’ (morro Kunkel) ou, como também é conhecido hoje em dia, ‘morro do 25’, por causa da Linha 25 de Julho. Naquele ‘entre morros’ de belas paisagens, em direção ao Vale do Sampaio, está a igreja construída em 1921 e que segue lá, caprichosamente preservada.
Antes dela, aquela ‘esquina’ que leva para Linha Duvidosa de um lado e Vila Teresinha de outro, era o ponto de encontro das famílias católicas no templo de madeira, erguido em 1875 – 16 anos antes de Venâncio Aires se tornar município, época que ainda era chamado de Faxinal dos Fagundes. Mas essa história é ainda mais antiga, porque a comunidade católica de São Miguel existe desde a década de 1860, com a chegada dos primeiros colonos germânicos. “A primeira capela existiu durante mais de 40 anos. Mas ela acabou ficando pequena, porque a comunidade cresceu muito”, explica Laura Teresinha Becker Finkler, integrante da comissão organizadora da festa de 150 anos.
Preservar
O presidente da Comunidade São Miguel, Sergio Luis Konrad, se diz orgulhoso por participar desse momento. “Essa história preservada é motivo de orgulho para todos que pertencem à comunidade”, destaca Konrad, lembrando ainda do nome de Roque Finkler, que era integrante da comunidade e faleceu em julho de 2023. “Graças aos Roque, que tinha o dom para pesquisa e estava sempre buscando informações. Então também estamos fazendo esses estudos para que isso não se perca.”
Para Aloisio Finkler, um dos ministros, celebrar os 150 anos representa a origem da religiosidade cristã e católica no município. “Por ser a comunidade em que se acomodaram os primeiros imigrantes, trazendo a crença e valores da religião, e colocaram em prática ao construir o primeiro templo para se reunir e celebrar a fé.”
Programação da festa
- 9h: missa na Igreja São Miguel com o bispo Dom Itacir Brassiani. Depois carreata até o ginásio de Linha Duvidosa, onde será levada uma réplica da capela de madeira.
- 10h30min: apresentação do histórico da comunidade.
- 11h: Teatro da companhia Curto Arte, com apresentação ‘Memórias de Herta’.
- 11h30min: Almoço ao custo de R$ 40, com salsichão, carne de rês e porco, carreteiro e saladas.
- 12h30min: Musical Novo Encontro.
- 15h30min: Leilão de produtos coloniais.
- 16h: Orquestra La Montanara.
Pesquisas sobre São Miguel
Uma das maiores fontes de pesquisas da comunidade é o livro ‘Colônia de Santa Emília’, de Cláudio Carlos Fröhlich (1933-2019), nascido na região de São Miguel. Ele inclusive está sepultado no cemitério atrás do templo. Além da atuação como pesquisador e escritor, Fröhlich trabalhou na Secretaria Estadual da Fazenda e na Procuradoria Geral do Estado.
É no livro ‘Colônia de Santa Emília’ que está a referência sobre o pioneirismo da capela de madeira. Isso porque, foi em janeiro de 1876, meses depois de construída a igreja em São Miguel, que houve a bênção da pedra angular da primeira capela de São Sebastião Mártir, que deu origem ao núcleo urbano de Venâncio. Ou seja, ‘atrás do monte’ em Santa Emília já havia um marco histórico da vida religiosa no município.
120 – é o número aproximado de associados da Comunidade São Miguel. Muitos são moradores de Vila Santa Emília, Linha Duvidosa, Linha Palmital e Vila Teresinha.
Atual templo de São Miguel vai completar 104 anos
Na comunidade onde a história antecede a história do próprio município, a atual Igreja de São Miguel também já é centenária – foi concluída em setembro de 1921. Na época do centenário, ela passou por reforma em reboco e pintura, além da restauração do altar. Todos os elementos, peça por peça, foram desmontados e enviados ao Mosteiro da Santíssima Trindade, em Santa Cruz do Sul, onde houve o restauro.
O próximo objetivo da comunidade é reformar o cemitério católico, que fica nos fundos da Igreja São Miguel. Segundo o presidente, Sergio Konrad, há dinheiro no caixa para fazer a obra e se aguarda apenas a disponibilidade da equipe de pedreiros.
Como muitos túmulos estão em terreno íngreme e outros antigos estão se deteriorando, a ideia é construir um muro de contenção e, nele, reservar espaços para colocar placas de epitáfios das sepulturas que não têm mais condições de recuperação. Assim, serão preservados os nomes de todos já enterrados lá.