Comunidade se une para revitalizar Capela Católica de Linha Andréas

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Há 50 anos, Capela Católica de Linha Andréas foi inaugurada. Templo foi erguido em homenagem a Santo André.

Na história dos municípios gaúchos e assim também o foi para Venâncio Aires, uma igreja é, por questão histórica e cultural, o ‘centro’ de uma comunidade. Muito do desenvolvimento dos lugares se deu no entorno de templos religiosos. E para quem conhece o interior de Venâncio sabe que suas respectivas sedes geralmente têm uma igreja – ou católica, ou evangélica, ou as duas, como é o caso de Linha Andréas, onde as construções já fazem parte do cenário e da vida de várias gerações.

Imagem de Santo André foi esculpida há cerca de 50 anos por Valter Diehl (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Lá, na localidade banhada pelo arroio Sampaio, a Capela Santo André vive um 2024 especial, afinal, no ano em que completou 50 anos de inauguração, passa por uma grande reforma. “Eu espero muito ver essa igreja bonita novamente”, destaca o professor Jones Fernando Richter, 42 anos, um dos nomes que está encabeçando o projeto de revitalização. Ele é vizinho do templo onde recebeu o batismo, a 1ª comunhão e a crisma, e revela um detalhe: o desejo de reformá-lo vem de muito tempo, já que todo dia de manhã, ao abrir a janela da cozinha, a primeira coisa que vê é a capela. Foi o pai dele, aliás, Helio Richter (1943-2012), quem doou as terras para a igreja, em 1970, quando começou a construção.

Início da mobilização

Para conseguir iniciar a reforma, estimada em R$ 98,3 mil, foi necessária uma grande mobilização. Além dos recursos com parte do lucro das festas intercomunitárias, da anuidade dos quase 100 associados da comunidade católica e coleta das missas, há doações espontâneas dos moradores e empresários. “Faz mais de 20 anos que não teve uma reforma total e há um bom tempo a comunidade planeja isso, mas sabemos que precisam recursos. Fomos atrás e conseguimos começar. O presidente da comunidade católica, Claudio José Richter, me deu carta branca e por isso estou ajudando a encabeçar a obra. Mas se trata de um trabalho de muitas mãos”, observa Jones Richter.

Segundo ele, foi feito um ofício, em substituição ao tradicional livro ouro, e que também foi estendido a outras pessoas físicas e jurídicas que queiram contribuir com algum valor. Quando a obra estiver pronta, a ideia é divulgar, em um mural, os nomes de todos que ajudaram.

Associados da comunidade, Adriana Masseroni, Ernesto Richter, Jones Richter, Silvania Richter e Claudio Richter (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Capela antes de iniciar a reforma (Foto: Arquivo pessoal)

O que prevê a reforma da Capela Católica de Linha Andréas

Além da troca do telhado e novo ripamento da estrutura da cobertura, já houve lavagem das paredes externas e internas. Também está previsto o conserto e restauração de rebocos, substituição de calhas, além de algumas portas e venezianas e troca de vidros quebrados; substituição do forro e alçapão na torre; pintura externa e interna; pintura dos bancos originais; novos ladrilhos hidráulicos na superfície do antigo altar; canaletas na fiação elétrica interna; reforma do muro frontal, escadaria de acesso e construção de muro lateral; drenagem, canalização na lateral e fundos do prédio; e ajardinamento. A equipe responsável pela obra é de uma empresa de Lajeado.

Um caminho de ladrilhos hidráulicos

A restauração da Capela Católica de Linha Andréas também vai possibilitar ‘fechar’ parte do piso com ladrilhos hidráulicos. Esse revestimento artesanal e que é conhecido assim por não sofrer queima e ficar imerso na água como parte do processo de fabricação, compõe o corredor central da igreja, desde a porta até onde ficava o antigo altar. Há cerca de 50 anos, os ladrilhos foram adquiridos na indústria de Arnoldo Sulzbacher, de Venâncio Aires, e a colocação foi feita pelo senhor Pedro Ervino Wille.

Quando a igreja foi ampliada, em 1982, o altar mudou de lugar. Com isso, onde ele ficava, restou um piso apenas concretado. Agora, o espaço será preenchido com 136 ladrilhos hidráulicos de 20×20 centímetros. Para conseguir chegar o mais perto possível do revestimento original, Jones Richter conta que buscou orientação com profissionais de várias cidades, até que lhe indicaram a Fábrica de Mosaicos de Pelotas. Um molde foi feito em Minas Gerais para fabricação peça por peça.

Ladrilhos hidráulicos formam o corredor central e mais peças foram encomendadas para preencher espaço onde ficava o antigo altar (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Comemoração

Quando a obra estiver totalmente concluída, a Comunidade Católica Santo André pretende realizar uma missa festiva para comemorar a reforma e o cinquentenário da inauguração da capela, que ocorreu em janeiro de 1974. No entanto, não há uma data exata para isso acontecer, já que a obra deve seguir ainda por alguns meses.

Das missas na escola até o sonho de uma capela

Se hoje a Comunidade Católica Santo André conta com 95 associados, há mais de 50 anos foram 38 pessoas que começaram essa história. Ela foi fundada em 1º de dezembro de 1968, no prédio da antiga Escola Rural Linha Andréas, onde até então os moradores católicos se reuniam para as missas. O padroeiro virou Santo André, homenagem ao nome da ‘picada’ que constava na planta das colônias de Santa Emília, datada de 1882.

Conforme consta no livro ata e que serviu de base para a maior parte das informações históricas desta reportagem, entre os fundadores estava o dentista Balduino Adolfo Vogt, que se tornou o primeiro presidente da comunidade, e o comerciante Odilo Richter (1931-2004), que doou as terras onde está o cemitério católico. Odilo é pai de Claudio José Richter, 68 anos, atual presidente da comunidade, e Ernesto Carlos Richter, 67 anos, que doou parte das terras do cemitério e também para nova ampliação da igreja, em 2015, para construção da sala de catequese e que também serve de cozinha nos dias de velório. “É um grande orgulho ver isso tudo acontecendo. Eu casei aqui e minhas filhas foram batizadas aqui. Se Deus me deu essa oportunidade de ter ajudado, é uma honra”, comenta Ernesto.

Um registro da Escola Rural de Linha Andréas, em 1962. Até a conclusão da capela, as missas eram realizadas neste prédio (Foto: Arquivo pessoal)
Alberto Wazlawosky, responsável pela construção da capela, e o então presidente da comunidade católica, Rudiberto Albino Pohl, no lançamento da pedra fundamental (Foto: Arquivo pessoal)

Claudio, que está na terceira gestão como presidente, diz que a ansiedade é grande para ver tudo pronto. “Seguimos buscando recursos, porque vai se aproximar de R$ 100 mil. Mas está valendo muito a pena e a capela vai ficar ainda mais bonita do que já é”, disse o comerciante aposentado, que casou na igreja Santo André em 1980, com Silvania, hoje com 66 anos. Foi na mesma capela que os dois filhos foram batizados, fizeram a 1ª comunhão e depois a crisma.

A possibilidade de uma capela

Claudio e Ernesto lembram dos tempos da escolinha rural, onde eram celebradas as missas, primeiro pelo cônego Augusto Estanislau Mallmann, da Paróquia Santa Catarina, de Linha Brasil, e depois pelo padre Irno Norberto Gräf. “Mas o espaço começou a ficar pequeno, então começaram a falar na possibilidade de ter uma capela”, conta Claudio. O ‘empurrãozinho’ veio com a intensificação das atividades religiosas e, já na gestão do presidente Rudiberto Albino Pohl, o sonho começou a ser realizado. Era fim de abril de 1970 quando pedras e tijolos começaram a chegar num pedaço de terra de Helio Richter. Poucos dias depois, em 17 de maio, foi entalhada a pedra fundamental na fachada da capela. Dentro dessa pedra, está uma urna, uma espécie de cápsula do tempo, que guarda, conforme registrado no livro ata, a ata de fundação, os nomes de pessoas que contribuíram com doações, nomes de autoridades políticas da época, e edições de dois jornais: a Zero Hora de 16 de maio de 1970, que trazia um pôster com uma foto de Venâncio Aires, e do Correio do Povo, de 17 de maio, dia do lançamento da pedra fundamental da Capela Católica de Linha Andréas.

1ª turma da 1ª comunhão na Capela Católica de Linha Andréas

Sendo uma obra que exigiu uma grande mobilização da comunidade, seja com dinheiro ou mão de obra, a capela Santo André levou alguns anos para ser concluída, sendo que a obra foi intensificada em 1972. Mesmo que ainda sem reboco, a igreja realizou, em dezembro daquele ano, a 1ª comunhão de 20 crianças. Foi a primeira turma que recebeu esse sacramento na capela.

No registro em preto e branco, está a professora Araci Erica Richter, hoje com 80 anos, que foi a catequista daquela turma. Ela é mãe do professor Jones, um dos nomes à frente da revitalização. Também está na foto Mário Masseroni, 80 anos, que na época era professor em Andréas. A filha dele, a professora Adriana Cristina Masseroni, 51, atua como ministra desde 2011.

Adriana conta que não chegou a ser batizada na nova capela porque ainda estava em construção, mas fez a 1ª comunhão, a crisma e casou na igreja. “Não tem como descrever a alegria que é ver essa igreja ficando ainda mais linda do que já é. Vai ser um cartão-postal para Linha Andréas.”

Primeira turma a realizar 1ª comunhão na nova capela, em 17 de dezembro de 1972, com a catequista, professora Araci Erica Richter; padre Irno Norberto Gräf e professor Mário Masseroni (Foto: Arquivo pessoal)
Sino pesa 200 quilos, foi adquirido em Santa Catarina (Foto: Arquivo pessoal)

Em 1974, a inauguração da Capela Católica de Linha Andréas

A festa de inauguração da nova capela ocorreu em 6 de janeiro de 1974, marcada pela realização da 1ª comunhão da segunda turma e da primeira turma a celebrar crisma no novo templo, com a participação do então bispo Dom Alberto Frederico Etges. “Tinham filas e filas até na rua, porque naquele dia, jovens e pessoas mais velhas fizeram crisma e foi a primeira vez que veio um bispo”, lembra Silvania Richter, esposa do atual presidente.

Também em 1974 foi comprado o sino da capela. O item pesa 200 quilos, foi adquirido em Santa Catarina através da Comercial Bromberg de Porto Alegre e instalado pelo senhor Nestor Posselt. Ao lado da capela foi instalado, em 1978, o cemitério católico de Linha Andréas. A primeira pessoa a ser sepultada lá foi Balduino Adolfo Vogt, o primeiro presidente da comunidade Santo André.

Diretoria

  • Atualmente, a diretoria da Comunidade Santo André é composta pelo presidente Claudio José Richter, pelo secretário Fernando José Siebeneichler e pelo tesoureiro Márcio Francisco Henckes. A comunidade é atendida pelo pároco da Paróquia Santa Catarina, de Linha Brasil, padre Pedro Bernardo Rockenbach.


Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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