Conheça a história de Elear Stahl Böhm, 68 anos, moradora do bairro Morsch, em Venâncio Aires, desde 1980.
Quando Elear Stahl Böhm, 68 anos, mudou-se para o bairro Morsch, como o marido Lindolfo Böhm, em julho de 1980, a rua Félix da Cunha ainda era de chão batido, a vizinhança era bem menos populosa e ela sequer imaginava que se tornaria referência na produção de bolos e doces. Nessa história, não houve receita pronta, mas sim doses generosas de dedicação, vontade de aprender, horas e horas na cozinha e muito ‘boca a boca’, que tornaram Elear a ‘confeiteira do bairro Morsch’.
Tudo começou quando as filhas Jalila e Juliara eram crianças e a então dona de casa Elear se esmerava na preparação dos doces e salgados para as festinhas de aniversário, na garagem de casa. “Quando vi, as encomendas começaram a chegar. Um foi falando para o outro e as pessoas passaram a me procurar. Não tinha telefone na época, então iam pessoalmente na nossa casa fazer as encomendas”, relembra.

O destaque da época eram os doces caramelizados, além dos banhados em glacê. Os docinhos em formato de pintinho, sapo e joaninha, assim como os palhacinhos, com chapéu feito de papel, também têm espaço especial nas memórias da confeiteira. Naqueles primeiros anos, a modelagem dos doces era feita praticamente toda de forma manual. Bonecas de plástico, compradas em lojas de aviamentos, eram usadas como molde para rostos dos doces. Além disso, florzinhas de biscuit (não comestíveis) eram utilizadas para decorar os docinhos.
Foi nesse meio que a caçula Juliara, 37 anos, cresceu e também viu despertar o gosto pela produção dos doces – atualmente, ela atua ao lado da mãe. As primeiras tarefas como ajudante de confeiteira eram colocar os doces nas forminhas e enfeitar com os biscuits. Na época, a fabricação era na cozinha da própria casa e muitos aspectos desafiavam a produção de Elear. “Não tínhamos ar condicionado. No verão, para trabalhar com chocolate, só era possível à noite, quando não era tão quente. No fim de ano eram tantas encomendas e festas de fim de ano das fumageiras, que virava a noite trabalhando”, recorda a confeiteira.
Entre os desafios também estava o acesso aos ingredientes. O açúcar de confeiteiro era comprado em Santa Cruz do Sul. “Para muita coisa era preciso ir, de ônibus, a Porto Alegre, onde também fiz os primeiros cursos, na Casa do Padeiro”, relembra. Bem antes do acesso facilitado à internet, Elear aprendia nos livros de receita e em programas de culinária. “Na TV, assistia aos programas da Marta Ballina, sobre doces decorados”, recorda.
Ela também ressalta a importância de Elaci Metzdorf, cliente que virou amiga e, em suas viagens, trazia novas receitas para Elear testar. Inclusive, em uma festa de casamento da família Metzdorf, Elear foi auxiliar cozinheiras baianas que vieram a Venâncio Aires preparar os doces. “Sou muito grata à Elaci, pois sempre que descobria uma receita, trazia para mim”, reconhece a empreendedora.
Com o passar do tempo e a evolução do negócio, uma cozinha específica foi construída, novos equipamentos adquiridos e a família Sthal Böhm focou na produção de doces tradicionais e finos e bolachas. O que não mudou é o interesse da confeiteira em testar novas receitas e inovar nos produtos. “Sempre procuramos fazer doces gostosos, além de bonitos. E tudo continua sendo artesanal. Até a hora que eu puder, vou seguir fazendo”, afirma Elear que, hoje, também tem como grande motivação preparar os doces mais gostosos e bonitos possíveis para as comemorações dos netos Guilherme (4 anos, filho de Jalila) e da pequena Clara (4 meses, filha de Juliara).
Curiosidades
A maior quantidades de doces produzidos para uma única festa foi para o casamento de Jalila, filha de Elear e irmã de Juliara, em dezembro de 2016, quando foram feitos mais de 3 mil doces.
• Juliara é professora e divide o tempo entre a sala de aula e o trabalho com a mãe. Enquanto Elear é responsável pela produção das massas, ela faz a decoração e finalização dos doces e das bolachas, além de realizar o atendimento via WhatsApp.