Conheça a história do médico Paulo Thomaz da Silva e o Ford Galaxie Landau 1979 que pertenceu ao pai dele, o também médico Pedro Thomaz da Silva.
Em meio aos atuais carros populares e os chamados compactos, há um senhor de ‘meia-idade’ que raramente se vê por aí e chama atenção pelo tamanho: ‘enorme’, talvez seja a palavra mais dita por quem se depara com um Landau. São 5,4 metros de comprimento e dois de largura. Feito para levar seis pessoas, tem um porta-malas de 400 litros.
Para aguentar tudo isso, foi fabricado com um motor V8 (mais potente) de 197 cavalos. Há mais de 40 anos, quando foi lançado como um dos modelos Galaxie da Ford, o Landau já chamava atenção pelo tamanho e pelos acabamentos de alto padrão, luxuoso para a época.
Em Venâncio Aires, para a família Thomaz da Silva, um certo Ford Galaxie Landau chegou em 1979 e virou o carro de passeio de um pai, uma mãe e quatro filhos. O pai era Pedro Antônio Thomaz da Silva, conhecido como doutor Pedrinho. Quarenta e cinco anos depois, essa relíquia segue na família, com o caçula daquelas quatro crianças e que também se tornou médico, o doutor Paulo Ricardo.
O genro do Armando Ruschel
Natural de Cruz Alta, o médico Pedro Antônio Thomaz da Silva (1931-1987) se mudou em definitivo para Venâncio Aires em 1960, mas já andava por essas bandas desde 1954. Primeiro vinha apenas visitar um cunhado, o doutor Weizemann, e por aqui conheceu uma mocinha de apenas 13 anos na época, filha de um dos médicos mais conhecidos da cidade, o doutor Armando Ruschel (1902-1978).
Com 10 anos de diferença, Pedro e a então adolescente Schirley Maria (hoje com 83 anos) começaram a namorar. Na época estudando Medicina em Porto Alegre, para chegar a Venâncio e encontrar a amada nos primeiros tempos de namoro, o jovem dependia do transporte fluvial, afinal a ponte sobre o rio Taquari, em Vila Mariante, só ficou pronta no fim de 1958.
Casaram em 1960, quando Schirley estava com 19 anos. Recém-formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutor Pedrinho, como ficou conhecido, começou a atender com o sogro, na casa dele, um sobrado de dois andares que existe até hoje na rua Reynaldo Schmaedecke. No fim da década de 1960, o genro do doutor Armando Ruschel comprou um terreno perto dali, na rua Júlio de Castilhos, onde construiu casa e junto um consultório.
Nessa casa, cresceram os quatro filhos: a professora Jeane, hoje com 58 anos, o agente penitenciário Armando, 56, o jornalista Luis Henrique (Ico), 53, e o médico Paulo, 50 anos.
Rodízio no banco da frente do Ford Galaxie Landau
Pedro costumava ter três carros: um menor, para andar dentro da cidade, um maior, para longas viagens, e um de passeio com a família. Para esta finalidade, criou gosto pelos Landau e, ainda na década de 1970, chegou a ter dois carros nesse modelo.
Em 1979, o médico adquiriu outro, um zero quilômetro, comprado na Mecauto, revenda da Ford no município de Montenegro. Ele veio com cobertura de vinil, pintura metálica, antena elétrica, rádio AM/FM e toca-fitas, ar-condicionado, câmbio automático e direção hidráulica. Era o que tinha de mais moderno na época, associado ao conforto. O proprietário, sempre cuidadoso, também costumava fazer anotações sobre o abastecimento de combustível e quilometragem do veículo.
A bordo desse carro, os Thomaz da Silva fizeram inúmeros passeios, especialmente para a Serra gaúcha. “Nas férias de inverno, íamos muito para Caxias do Sul e Gramado”, lembra o médico Paulo Ricardo Thomaz da Silva, que tinha apenas 5 anos quando o pai comprou o veículo. Como era o caçula, ele geralmente tinha o ‘privilégio’ de sentar no banco da frente, entre os pais. Para não dar ‘briga’, às vezes aconteciam rodízios. Os três que iam no banco de trás, acabavam numa festa à parte, brincando e fazendo aquela bagunça boa entre irmãos.
Um nome na história
Doutor Pedrinho, o que adorava passear com o Landau, faleceu com apenas 56 anos, em 1987, de complicações causadas pelo diabetes. Em Venâncio Aires, foi clínico geral, mas também fez muitos partos. Atendeu no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) e manteve um consultório em casa.
Paulo lembra que havia uma campainha que soava ao lado dos quartos e foram inúmeras madrugadas que o pai recebeu moradores de Venâncio que buscam atendimento médico, quando ainda não havia plantão no hospital. Nesse consultório, que ainda existe na casa construída em 1969 e onde Paulo mora atualmente, chegou a ser usado nos primeiros anos pelo caçula do doutor Pedrinho, quando ele também se formou em Medicina.
Assim como Armando Ruschel está eternizado na história de Venâncio (dá nome a uma das principais ruas da cidade), o genro dele, Pedro Antônio Thomaz da Silva, dá nome ao Bloco Cirúrgico do Hospital São Sebastião Mártir.
O presente de faculdade e as fitas K7
Paulo tinha somente 13 anos quando o pai faleceu e o Landau, na época, ficou com Pelágio, irmão do doutor Pedrinho, em Cruz Alta. Em 1999, quando Paulo se formou em Medicina, recebeu o carro de presente do tio, ou seja, nos últimos 25 anos tem mantido o carro comprado em 1979.
Como todo veículo mais antigo, as manutenções são necessárias e às vezes demoradas. Flávio Sehn foi o mecânico responsável pelo Landau por cerca de 20 anos, até se aposentar. Nos últimos anos, quem tem ‘tratado’ do veículo é o mecânico José Clóvis da Costa.
Além de manter o carro que foi do pai, Paulo também mora na casa construída por ele, com a esposa Eliane Chassavoimaister, 48 anos, e os filhos gêmeos, Mateus e Lucas, 12 anos. Ele também é pai de Ana Carolina, 19 anos, filha do primeiro casamento. Com os gêmeos, Paulo gosta de passear, ao som de fitas K7 que ele ouvia quando era criança, dentro do Landau.
A trilha sonora dos passeios tem Frank Sinatra, Julio Iglesias, Elvis Presley, Djavan, Tim Maia, Rita Lee e Caetano Veloso, o que agrada aos ouvidos dos filhos. Mateus, por exemplo, que como todo jovem também ouve música por serviços de streaming, tem uma playlist no Spotify intitulada ‘Landau’, justamente com canções dos anos 1970.
Além do Ford Galaxie Landau, a Medicina
Doutor Paulo, como é conhecido, trabalha como médico concursado em Mato Leitão há mais de 20 anos. Ele conta que a opção pela profissão aconteceu ao natural e diz que é um orgulho seguir os passos do pai. “Acho que sou atencioso e paciente como o pai sempre foi”, define. Além do Landau, Paulo mantém outra relíquia da família. Para guardar os instrumentos de trabalho, usa a maleta que pertenceu ao avô, Armando Ruschel.
“O Landau já representou uma grande saudade, mas hoje traz a sensação das boas lembranças da infância. É o carro que foi do meu pai, então a memória afetiva está nele. Por isso o carro é tão importante para mim.”
PAULO RICARDO THOMAZ DA SILVA – Médico
Saiba mais sobre o Ford Galaxie Landau
- De acordo com o site galaxieclube.com.br, o nome Galaxie tem relação com a era da corrida espacial, nos anos 1960 (Galaxie remete à Galaxy, em português Galáxia). Entre os modelos da Ford, havia o Galaxie 500, o Galaxie LTD e o Landau, considerado top de linha.
- No caso do Landau, a ideia era lembrar as elegantes carruagens de luxo chamadas Landau (a pronúncia em francês é ‘landô’, mas no Brasil é falado como se escreve).
- Ainda conforme o site galaxieclube.com.br, em 1983 o último Ford Galaxie Landau deixou a linha de montagem. Oficialmente, o carro foi substituído pelo Ford Del Rey, também luxuoso e confortável, um veículo que trazia uma realidade mais próxima do mercado da época.
A matéria sobre o Ford Galaxie Landau do Paulo é a quarta da série de reportagens ‘Relíquias sobre Rodas’, publicada pelo jornal Folha do Mate em parceria com a Rádio Terra FM. A série tem o patrocínio de Ark Impressão Digital, Posto Schmitz Ipiranga, Tiago Pneus e Via Som Auto Center.
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