Conheça a história da nonagenária que prepara o doce cremoso para as crianças das ONG Parceiros da Esperança, a Paresp de Venâncio.
Dizem que as memórias e as saudades têm gosto. Elas têm mesmo, assim como as boas ações e o voluntariado. E a Folha do Mate foi provar! Para uma entidade em especial de Venâncio Aires, uma ação voluntária tem sabor de mamão, banana, maçã e pera. Tem gosto de doce cremoso, cozido devagarinho sobre o fogão a lenha, até virar schmier.
Na Organização Não Governamental (ONG) Parceiros da Esperança (Paresp), que tem na sua origem a educação e a assistência de forma voluntária, muitos aspectos sociais estão presentes. É lá, por exemplo, que é feito o pão da professora Sara da Rosa, alimento que as crianças adoram e cuja história já foi contada pela Folha. E foi durante a entrevista para a matéria do pão que descobrimos mais um capítulo à parte: a schmier que os alunos gostam de passar no pão, também envolve o voluntariado.
Isso porque ela é preparada pelas mãos nonagenárias de Gisella Nierdermeyer, conhecida como a ‘vó da schmier da Paresp’. Gisella, que trabalhou como costureira até se aposentar, ganhou esse título há cerca de quatro anos, quando a nora Liane virou professora na entidade. Mas ela é uma ‘parceira da esperança’ de muitos anos e muitos natais. “A Sara é minha vizinha e, desde que começou a Paresp, ela sempre nos convidou, para, quando possível, ajudar com doações. Como eu gosto de fazer schmier, surgiu a ideia”, conta a aposentada, de 93 anos.
O preparo da schmier da Paresp
As frutas não consumidas na Paresp ou que já estão passando do ponto são levadas para Gisella fazer a schmier. O preparo acontece, em média, uma vez por semana. “Eu dou uma fervura nas frutas, depois vai para o liquidificador. Para cada quilo de polpa de fruta batida, vai um quilo de açúcar”, detalha. Os dois ingredientes vão para uma panela grande de alumínio e o processo de cozimento é feito num fogão a lenha. “No fogão a gás é muito ligeiro. A schmier tem que ir devagar, até dar o ponto”, justifica.
A receita do doce cremoso ela aprendeu com a mãe, Carolina Weiler, quando a família ainda morava na então ‘Linha’ Teresinha. “É de família. Minha tia, Dulce Becker, também fazia melado e vendia para o Lenz”, relata, referindo-se a Willibaldo Lenz – avô de Daniel, atual proprietário do Super Lenz. Isso foi na década de 1950, quando um dos supermercados mais tradicionais da cidade teve sua origem, com a fábrica de sabão e depois de balas e schmier.
Além da Paresp, uma vida voluntária
Gisella sorri ao contar que as crianças a chamam de ‘vó da schmier’. “Para mim é uma coisa muito boa, que me deixa feliz. Traz um sentimento bom, porque gosto de fazer e é pelas crianças.” Mas contribuir com a Paresp não é única ação voluntária dela. A aposentada conta que é uma das fundadoras das Damas da Caridade, grupo ligado à Paróquia Católica São Sebastião Mártir. “Em 1965, a irmã Ludberga, que iniciou o Jardim de Infância no Colégio Aparecida, convidou as mães dos alunos para formar um grupo de voluntárias para ajudar na Festa do Bastião. Daquele tempo, ainda vivas, sou eu e a Alda Campos, que está com 94 anos.”
Gisella frequentou o internato do Aparecida e aprendeu a costurar com 16 anos, com a costureira Olídia Witz. Anos depois, o que se tornou profissão também virou voluntariado e, há quase seis décadas, vem contribuindo com conhecimento e habilidade manual, especialmente no crochê: são toalhas de rosto e banho, toalhas de mesa e panos de prato. A venda dos itens também é em benefício da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Outros natais
Gisella, que de uma forma ou de outra vive o espírito natalino o ano todo, lembra com carinho dos próprios natais, há mais de 80 anos, com os pais Adolfo e Carolina, e os irmãos mais novos Irmgard, João Walmor e Gertrudes (esta ainda viva, com 83 anos). “Acho que a melhor lembrança do Natal é a infância. O gosto das bolachas pintadas e de noite, quando o pai trazia um pinheiro natural, a mãe enfeitava e depois da janta a gente podia se sentar ao redor dele. Era muito bonito.”
“Para mim, é uma coisa muito boa, que me deixa feliz. Traz um sentimento bom, porque gosto de fazer schmier e é pelas crianças.”
GISELLA NIEDERMEYER – Aposentada e voluntária