O colega que sentava na classe ao lado, a professora que ensinou as primeiras letras, as brincadeiras no recreio, a alegria de passar na prova, uma merenda com sabor especial, o barulho da sineta entre uma aula e outra… Tantas situações em comum nas escolas e as quais, para a maioria das pessoas, seguem gravadas na memória. Todo mundo tem alguma lembrança do seu tempo de estudante, afinal, a escola faz parte da nossa infância e adolescência. Lembrança como a de Olivia Renz, 80 anos, em relação à escola de Vila Deodoro, uma das maiores do interior de Venâncio Aires e que completou oito décadas em 2023.
O tempo dela como estudante foi curto, entre 1952 e 1953, quando a Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira ainda se chamava Grupo Escolar Marechal Deodoro e funcionava numa casa de madeira, próximo da Igreja Católica São José. Com 9 anos, Olivia aprendeu o ABC escrevendo numa pequena lousa, já que caderno era item de luxo. Entre 11 irmãos e numa época em que a própria comunidade pagava o salário do professor, a aposentada conta que não terminou os estudos, já que os pais não tinham condições de ajudar. “O que eu mais lembro é dos amigos. Nós fazíamos muitas brincadeiras, como ovo choco, pega-pega e caçador.”
Natural de Linha Madalena, Olivia Renz foi morar em Linha 6º Regimento depois de casada. Os filhos Milton, Rosane e Leandro também estudaram em Deodoro, quando o prédio já era no atual endereço e com o nome do primeiro escrivão distrital do Cartório de Vila Deodoro. O caçula Leandro, 43 anos, estudou na Jubal entre 1993 e 1996 e saiu para cursar o Ensino Médio no Cônego Albino Juchem, no Centro de Venâncio. “Acho que a conquista do 2º Grau foi muito importante para a escola e para a comunidade. É algo que precisamos valorizar, porque os alunos podem terminar o ensino aqui”, comentou o agricultor, que mora em 6º Regimento. A esposa dele, Joice, 38 anos, também foi aluna, assim com os filhos: Kauã, 18 anos, está no 3º ano do Médio, Djeniffer, 12, aluna do 7º ano, e Luiza, 8 anos, no 2º ano. Embora gostem de disciplinas diferentes, Djeniffer (Geografia) e Luiza (Artes), são unânimes sobre o que mais gostam na escola: as amizades. Além deles, outras duas netas de Olivia, Patricia e Taís, já foram alunas da instituição.
Há mais 50 anos, rainha da escola
No início da década de 1970, devido às condições estruturais, o prédio onde funcionava a escola foi interditado e as aulas passaram a acontecer na antiga subprefeitura, na capela São José e no salão Schulz. Em 1972, foram desapropriadas as terras de Meno Sebaldo Schuch, Edmundo Dattein e Alberto Schweickhardt (22,5 mil metros quadrados) para construir um novo prédio. O movimento foi liderado por muitas pessoas, entre eles Orlando Schulz (1934-2021), que também foi presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM) por muitos anos e sempre buscou por melhorias da escola.
Embora ainda bem moça, quem também viveu intensamente aquele momento foi Loreni Bohn, hoje com 65 anos. Ela conta que caminhava mais de uma hora, todos os dias, entre 6º Regimento e Deodoro, para ter oportunidade de estudar uns anos a mais, já que a 6ª série, por exemplo, iniciou em 1973. No ano anterior, Loreni, então uma adolescente, participou de um concurso, que visava arrecadar fundos para a construção de um novo prédio. “Quem vendesse mais votinhos, ganhava. Meus tios e padrinhos ajudaram bastante e fui a que mais vendi. Acabei eleita rainha”, lembra ela. A eleição da corte da então Escola Rural Marechal Deodoro, ocorreu num baile no salão Schulz. Além da Loreni, foram eleitas Orlanda Jantsch (1ª princesa) e Ivana Jaeger (2ª princesa).
Mais de 50 anos depois, a rainha de 1972 ainda mantém a faixa e a coroa. Os itens estão guardados em uma caixa de madeira, junto com as grinaldas dos casamentos de Loreni e da mãe dela, Sibylla.
Filhos e netos
No caso dos Bohn, também já um caso de terceira geração na escola. Os filhos de Loreni, Clóvis, Adriano e Graciele, também foram estudantes. Graciele, hoje com 37 anos, integrou a primeira turma de Ensino Médio da Jubal, em 2001. Atualmente, dois netos de Loreni estudam lá: Felipe, 12 anos, no 6º ano, e Eduarda, de 9, no 3º ano. As crianças, assim como a avó, destacam as grandes amizades que o convívio escolar possibilitou. Além disso, entre tantas memórias afetivas, Loreni também lembra o gosto especial de um bolinho de chuva preparado pela merendeira Siloca dos Santos. “Eu adorava, tinha um sabor diferente. Até hoje não consegui repetir a receita”, lamenta.
Conquistas com ampliação, Ensino Médio e transporte
O convívio, as amizades e as relações que permanecem por décadas. Nada disso surpreende a diretora Adriana Inês Scheibler, ao ouvir os relatos das gerações de ontem e de hoje da escola. “A Jubal sempre teve essa perspectiva de família e de vínculo. A escola permanece em quem passa aqui”, resumiu Adriana.
A história da professora em Vila Deodoro começou em 1995. Ela foi trabalhar lá para substituir a última irmã franciscana que atuou na escola, Melita Hofmann. As irmãs franciscanas, aliás, permaneceram na direção da Jubal entre as décadas de 1970 e 1980. Elas moravam e uma casa nos fundos do prédio, onde hoje funciona a cooperativa escolar.
Adriana iniciou a trajetória profissional em Deodoro como alfabetizadora e depois também assumiu a disciplina de Português em turmas do Ensino Fundamental. Na equipe diretiva, ela está desde 2007. Ao olhar para trás, ela cita que as principais conquistas da escola nos últimos 30 anos foram a ampliação do prédio (são atuais 1.175 metros quadrados de espaço físico), o Ensino Médio e o transporte escolar. “Atualmente, dos 183 alunos, menos de 10 não utilizam transporte. Eles vêm de 21 localidades”, destacou a diretora. São atuais 13 professores e quatro funcionários.
Para o futuro, Adriana Scheibler entende que é importante a continuidade de políticas públicas e investimentos. “Desejo que a escola continue sendo essa referência para a educação de tantas famílias e para toda a comunidade de Deodoro a da região serrana.”
Antes de 1943
• A história da escola começa, oficialmente, em 1943, através do decreto nº 661 de 18 de janeiro, quando foi criado o Grupo Escolar Marechal Deodoro. As primeiras professoras foram Ruth Mylius e Wilma Teixeira Neto, responsáveis por turmas de 1º a 5º anos do curso primário.
• Mas bem antes disso, em 1918, foi criada a primeira escola de Vila Deodoro, que era particular e mantida pela própria comunidade, quando a localidade ainda se chamava Luiz Osório. Ela localizava-se nas proximidades do atual Igreja Católica São José.
• Esta escola atendia cerca de 20 alunos do 1° ao 4° anos com apenas um professor. O ensino era apenas em alemão. O educandário funcionou até 1942, devido à proibição da língua alemã no Brasil durante a 2ª Guerra Mundial.
Resgate histórico
Todas as informações relacionadas a datas e fotografias nesta matéria foram possíveis devido ao resgate histórico feito pelo professor Jones Fernando Richter, que leciona Matemática na Jubal para o 7º ano do Fundamental e 2º e 3º anos do Médio. Ele trabalha lá desde 2006. “A parte histórica sempre me atraiu. Já tivemos encontros de ex-alunos e sempre fiquei pensando: será que não existe por aí fotos antigas guardadas em caixinhas e baús? Por isso fiquei bastante curioso e fui atrás.”
Conforme Richter, foram semanas de pesquisas, coletando material em diversos lugares, tanto em Vila Deodoro quanto em outros municípios. São 200 fotos catalogadas, contemplando todas as décadas. “Procurei resgatar, principalmente, fotografias, pois uma boa parte do histórico escrito já existia e aquilo que faltava fui buscar nos arquivos da escola.” O professor coletou dados de cerca de 50 pessoas, entre elas a professora Laura Caríssimi, que também atuou na Jubal.
Jantar comemorativo
• Na próxima sexta, 6 de outubro, a partir das 19h, haverá um jantar comemorativo pelos 80 anos da instituição, no ginásio da Associação Esportiva e Recreativa Deodoro (Aerd). Os cartões são vendidos por R$ 20. No cardápio, salsichão, galeto, maionese, arroz, saladas diversas e cuca. As reservas podem ser feitas pelos telefones (51) 99144-6620 (Patrícia), (51) 99626-9313 (Eara) ou (51) 99536-7673 (Adriana). Haverá uma cerimônia para lembrar as oito décadas, com apresentações artísticas dos alunos e exposição de fotografias e do resgate histórico.