A trajetória da venâncio-airense que expôs em diversos países e coleciona prêmios de pinturas em telas e porcelanas.
“Esse mundo de cor será sempre minha companhia. Com os olhos da alma pintarei sempre, sempre… Pondo poesia e sonho onde havia forma e cor.” Esse é um dos trechos da ‘Oração do pintor’, que a professora, demonstradora e expositora Neusa Haas escreveu e que virou quadro na casa dela. Um quadro de escritos, portanto, uma exceção dentro da residência, cujas paredes estão decoradas por dezenas de telas pintadas com tinta acrílica e tinta óleo.
Através da arte ela viajou o mundo e foi premiada internacionalmente. Mas, antes de fazer dos pincéis a principal ferramenta, eram os lápis de cor os favoritos. Neusa nasceu no antigo hospital de Linha Andréas, no Vale do Sampaio, em 1942, mas cresceu em Linha Brasil. Foi nesta localidade que o pai, Alvin, iniciou um comércio de araucária, na década de 1950. Alguns anos depois, ele e o filho José Carlos fundaram a Haas Madeiras, uma das maiores empresas de Venâncio Aires e que completou 50 anos em 2023.
Desenhos e pinturas na infância

Quando criança, Neusa, que dia 17 de fevereiro vai completar 83 anos, desenhava para si casinhas, árvores, flores e pessoas. E também desenhava para os colegas. “Desenhar e pintar me deixavam alegre. Eu gostava tanto que fazia o tema dos outros, mas escondido das irmãs”, lembra, entre risos, sobre os tempos de internato no Colégio Nossa Senhora Aparecida, em meados dos anos 1950. Foi lá que também aprendeu canto, com o cônego Albino Juchem, e piano, com a irmã Odete.
Neusa se considera uma autodidata e diz que a inspiração para pintar ‘sempre tirou da cabeça’, sendo que as flores são as imagens favoritas. “Não sou copista, sempre pintei o que visualizava na minha cabeça. Durante um tempo, fiz algumas aulas com a senhora Gerta Knak”, lembra, se referindo à falecida esposa de Carlos Knak, um dos fundadores da CTA Continental. Gerta também pintava porcelanas e quadros.

Pinturas em telas e porcelanas: exposições pelo mundo
Já adulta, Neusa chegou a cursar a faculdade de Estudos Sociais, mas não concluiu. Foi casada duas vezes e tem uma filha. Atuou como professora em escolas do interior de Venâncio Aires, mas revela que o gosto pela pintura sempre falou mais alto.

“Um dia fui a Porto Alegre, visitei um ateliê e me encantei. A gerente soube que eu pintava e me pediu pra levar algumas coisas que tinha feito. Foi ali que surgiu a primeira oportunidade de viajar e participar de uma exposição.” Segundo Neusa, isso aconteceu há 30 anos, numa exposição sobre o ‘Bateau-mouche’, um tipo de embarcação que servia como plataforma de visita turística, no rio Sena, em Paris.
Outros países
Além da França, ela já participou de exposições na Espanha, Portugal, Alemanha, Argentina, Uruguai, Chile e Estados Unidos. No Brasil, esteve em eventos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. Em todas eles, foi agraciada com dezenas de premiações, hoje lembranças em forma de troféus e certificados.
A arte de porcelana pintada à mão, Neusa começou em 1981. A artista é associada à Associação Gaúcha de Pintura Artística (Agapa), à Associação Sul-Riograndense de Pintores em Porcelana (Asup) e à International Porcelain Artists and Teachers Inc, no Texas, Estados Unidos. Durante alguns anos, foi professora de pintura em Porto Alegre e chegou a dar aulas particulares em casa.

1.000 – é o número de telas que Neusa Haas estima já ter pintado. Ela conta que a maioria foi dada. Todos os anos, por exemplo, ela doa um quadro para Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (Oase) de Venâncio, da qual faz parte, para ser usada como premiação em sorteios ou ação entre amigos.
No cavalete ou no colo, as pinturas que contam histórias
Como é de se presumir, Neusa Haas pintou muitas das telas num cavalete, preparando devidamente tintas e pincéis. Mas, segundo ela, é possível pintar onde se sente à vontade, o que inclui uma cadeira ou sofá, com o material apoiado no colo. Assim o fez com dezenas de pratos de porcelana, onde usou a técnica do pontilhismo com agulha. “Geralmente levo um dia para cada peça.”


Conforme Neusa, cada peça, seja tela ou porcelana, seja a imagem favorita de alguém ou um brasão de família, tem uma história. Em casa, por exemplo, três quadros se complementam numa ordem. “Tem a mulher à espera, tem os barcos chegando e tem as pessoas se reencontrando. E assim é cada pintura. Sempre tem uma história”, explica.
Entre as obras favoritas, Neusa Haas destaca o ‘Carnaval de 38’, baseado na capa de uma revista que pertencia à Cloé Azambuja (criadora do Núcleo de Cultura de Venâncio); ‘Paisagem italiana’; ‘A espanhola’ e ‘O caçador’. Questionada se há algum artista mundialmente conhecido e que ela admira, cita o espanhol Salvador Dalí (1904-1989) e o italiano Leonardo da Vinci (1452-1519).

Ana Maria Braga e padre Fábio de Melo
Se a obra de Neusa Haas já foi contemplada por milhares de pessoas de países diferentes, parte da arte dela também foi encomenda de duas personalidades brasileiras. “Numa Fenachim participei expondo e uma turma do Rio de Janeiro passou no Parque do Chimarrão. Eram conhecidos da Ana Maria Braga. Então eu pintei xícaras de porcelana para ela.” Além da apresentadora da TV Globo, Neusa Haas conta que também pintou para o padre Fábio de Melo. “Para ele foram xícaras, pires e pratinhos de pão.”
“Para mim, pintar representa a vida e Deus no coração.”
NEUSA HAAS – Professora, demonstradora e expositora