Venâncio-airense, músico, cantor e compositor Wander Wildner ficou conhecido no rock gaúcho na década de 1980.
“Eu vivo sozinho e apaixonado. Não tenho ninguém, aqui do meu lado…” Você, independente de ser apreciador ou não de rock and roll, já deve ter ouvido ou cantarolado essas palavras. É o início de ‘Bebendo vinho’, música que ficou muito famosa Brasil afora com a gravação da banda Ira!, em 1999, e, antes ainda, já tinha uma versão especial da torcida do Grêmio, entoada em jogos desde os tempos de Estádio Olímpico.
Pois saiba que essa canção foi composta por um venâncio-airense, que ganhou fama nacional na década de 1980 e virou o ‘Rei do Punk brega’. Estamos falando do músico, cantor e compositor Wander Wildner. Ele nasceu Wanderley Luiz, numa data simbólica para os gaúchos. Era um 20 de setembro, mas muito antes do dia virar o feriado Farroupilha no Rio Grande do Sul. “Em 1959 Venâncio era uma cidade ainda menor, tudo era muito próximo. Meus avós moravam na rua lateral ao Clube de Leituras e meus tios moravam ali perto”, relata Wildner, hoje com 65 anos.
Mudança para Porto Alegre

O cantor viveu poucos anos em Venâncio, porque entre 1963 e 1964, os pais Judith e José Luiz Wildner (hoje falecidos), foram morar em Porto Alegre. “Creio que meus pais foram para buscar novas possibilidades em suas vidas. Dois tios mais velhos já tinham saído de Venâncio antes, isso pode ter influenciado também”, arrisca. Embora tenha se mudado há mais de 60 anos, o cantor ainda guarda memórias do tempo de infância. “Minha primeira lembrança é de quando voltamos para o velório do meu avô, Lindolfo. Eu era pequeno, mas me recordo daquela ocasião.”
Lindolfo Wildner foi um famoso construtor na cidade e liderou a equipe que construiu o prédio do Cine Imperial, o antigo cinema, cuja fachada ainda segue de pé, na rua Júlio de Castilhos. Outro Wildner conhecido daqueles tempos (e que ficaria para a história da cidade) é Harry, tio de Wander, um dos fundadores da Sociedade Venâncio-airense de Radiodifusão, em 1959, que deu origem à Rádio Venâncio Aires AM.
Como parte da família morava próximo do Clube de Leituras, a entidade foi frequentada pelo então menino Wanderley. “Também lembro de algumas férias que passei em Venâncio. Uma coisa que me marcou muito foi quando aprendi a nadar na piscina do Clube de Leituras, que eu frequentava com meus primos e primas.”
O gosto pela música
Ainda muito jovem, Wander Wildner começou a criar gosto pela música. “Em Porto Alegre, meu pai tinha o hábito de ouvir rádio e isso, com certeza, foi uma grande influência, pois foi no rádio que comecei a escutar música.” Quando tinha 15 anos, comprou o primeiro violão, mas ficava só ‘brincando’, tentando tocar sem saber. Anos depois, ingressou no Instituto Palestrina para estudar violão clássico. “Mas o método de partitura era muito difícil para mim e desisti. Foi só mais tarde que aprendi a tocar violão através de umas revistas que tinham músicas populares com as cifras.”
Com o passar dos anos, além do violão, aprendeu guitarra e baixo. Piano ele diz que até entende, mas acha difícil. Sobre as referências musicais, Wildner diz que tudo que ouviu no rádio lhe influenciou. “Samba, MPB, folk, rock e música erudita. Ouvia de tudo, o que incluía Nelson Gonçalves, Martinho da Vila, Caetano Veloso, Hermes Aquino, Neil Young e Sex Pistols.”
O punk rock de Os Replicantes
No início da década de 1980, o Rio Grande do Sul viu surgir uma das maiores bandas de punk rock da história gaúcha: ‘Os Replicantes’ – referência aos androides do filme de ficção científica ‘Blade Runner’, de 1982 – teve como primeiro vocalista o venâncio-airense Wander Wildner.

“Uns amigos fizeram a banda e precisavam de um vocalista, daí topei participar e tudo começou como uma brincadeira. Sempre fomos muito criativos e daí em diante tudo foi muito rápido, pois naquele período nossa geração fazia e acontecia. Foi uma época muito produtiva, pois todos meus amigos faziam arte e todo mundo se ajudava. Fizemos filmes, peças de teatro e muita música”, lembra o cantor. A banda ganhou projeção nacional e se apresentou no centro do país, além de fazer um turnê pela Europa, no início dos anos 2000.
Os Replicantes seguem em atividade até hoje, mas com algumas alterações da formação original. “Saí em 1989, depois montei outras bandas. Em 1995 resolvi iniciar carreira solo. Foi algo natural, sempre gostei de movimento, ação e de criar coisas que não existem, pois é muito prazeroso, e continuo fazendo isso.”
Sobre o título de ‘Rei do Punk brega’, Wander Wildner conta como surgiu. “Fui eu que inventei [risos]. Quando lancei meu primeiro álbum solo, o ‘Baladas Sangrentas’, tive que fazer um relise pra enviar à imprensa. Como fazia um punk rock com características de baladas românticas, criei o termo ‘punk brega’ para definir o som que eu fazia, e deu certo, as pessoas entenderam. Mas claro que isso foi no começo, porque com o tempo sempre fui me renovando e criando coisas novas.”

Um nômade selvagem
Como saiu muito pequeno de Venâncio e a vida lhe levou para vários lugares, Wander Wildner se define como um nômade. Atualmente, mora numa enseada, na Paraíba, porque gosta muito de praia. “O único hábito que mantive por quase toda minha vida foi de ser um nômade, que é uma característica dos Wildner, meus antepassados que vieram da Europa. O fato deles não terem terra e viverem viajando, fez com que fossem chamados de ‘wildner’, que significa selvagem, em alemão.”
Músicas e livros
‘Bebendo vinho’ pode até ser a música mais conhecida do artista, mas há outras conhecidas no repertório autoral. ‘Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo’, por exemplo, é uma das que também ficaram conhecidas e foi regravada pela dupla gaúcha Osvaldir & Carlos Magrão, assim como ‘Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro’, regravada por Lilian, cantora da época da Jovem Guarda.
O artista destaca que a música é, cada vez mais, a forma de se comunicar com as pessoas e com o mundo. Mas também se dedica a outros projetos e, nos últimos anos, já escreveu três livros: ‘Aventuras de um PunkBrega’, ‘Canções Iluminadas de Amor’ e ‘Diversões Iluminadas’.