A inscrição na fachada da casa confirma que já faz quase um século que a família Vogt faz história na propriedade localizada em Linha Antão. Em 1927, a residência foi construída por Paulo Vogt. Foi onde ele e a esposa Joana, que viveu até os 100 anos e 13 dias, criaram os seis filhos. O mais novo, Léo, seguiu morando no mesmo local.
Atualmente com 85 anos, ao lado da mulher Alívia, de 82 anos, o agricultor aposentado acompanha as mudanças e a evolução nos 15 hectares de terra de onde a família sempre tirou o sustento, a partir dos investimentos e das inovações do filho mais novo, Orci Vogt, 45 anos. Ele reside na propriedade com a esposa Elaine, 42, e os filhos William Matheus, 14, e Wesley Nathan, 2.
O trator, o forno elétrico para secagem do tabaco e a instalação de placas solares para o uso da energia fotovoltaica estão entre as melhorias realizadas pelo agricultor ao longo dos últimos anos. “São investimentos para facilitar o trabalho. As coisas vão mudando muito rápido e a gente precisa se adaptar”, afirma Orci, que é produtor de tabaco e considera que o maior desafio tem sido conseguir mão de obra para o trabalho na lavoura.
Ao falar do futuro, ele afirma que não consegue imaginar as próximas gerações trabalhando na roça. Isso por conta das dificuldades e da desvalorização com os agricultores. Entretanto, considera que será uma tendência trabalhar na cidade, mas seguir residindo no interior, onde a tranquilidade, o contato com a natureza e o acesso aos alimentos produzidos pela própria família fazem parte da rotina.
Orci compara o deslocamento do interior até o centro do município com os trechos percorridos por quem mora em uma cidade grande, como Porto Alegre. A esposa Elaine, que é professora de Educação Infantil, atua em uma escola na cidade e se desloca diariamente para trabalhar. “Com o asfalto pela ERS-422 é muito rápido, em poucos minutos se está na cidade”, destaca o produtor rural.
Envolvimento comunitário
Para o morador de Linha Antão Orci Vogt, quando se fala no futuro do interior, outro assunto que preocupa é a continuidade do trabalho das associações e grupos comunitários. “Hoje temos lazer no fim de semana, tem futebol, a sociedade, as quermesses. Mas será que quando estivermos aposentados, vai ter alguém para ‘puxar’ a frente e fazer as coisas?”, reflete. Ele observa que em muitas localidades, por exemplo, já não há mais times de futebol e que é pequeno o número de jovens que participam das entidades.
O que cabe a eles, no entanto, têm feito para garantir a continuidade do legado cultural e comunitário dos antepassados. A esposa de Orci, Elaine Vogt, é a presidente do bloco Ritmo Quente, de Linha Antão, um dos maiores blocos de carnaval do interior de Venâncio Aires. Nos últimos dois anos, aliás, a rainha do Carnaval Adulto do Interior foi a representante do Ritmo Quente: em 2022, Amanda Müller, e, neste ano, Camile Keller.
