O Hospital São Sebastião Mártir registrou na última semana o primeiro procedimento para coleta de órgãos. Após decisão da família em doar, um procedimento que durou 24 horas foi realizado, para garantir que outras três vidas possam ser salvas no Rio Grande do Sul.
O fato histórico para Venâncio Aires comprava mais uma vez a importante decisão de familiares em autorizar a doação de órgãos.
Perder alguém da família, de modo inesperado, é algo que tira o chão das pessoas. E ter que decidir, neste momento tão triste, sobre doar ou nãos os órgãos de quem se foi, para poder dar vida à outras pessoas, é um ato tão ou até mais difícil que aceitar a perda.
E foi isso que acometeu a família da empregada doméstica Cirlei Ferreira Leissmann. Aos 48 anos, ele recebeu a notícia que seu marido, o pedreiro Pedro Paulo Leissmann, 50 anos, teve morte cerebral. A filha Roberta, 25 anos, imediatamente foi favorável à doação dos órgãos do pai. Cirlei, por motivos que ela não sabe explicar, estava temerosa. Com o coração partido de tomar esta decisão.
Mas o alívio veio através de conversas que teve com os médicos aonde trabalha. Apoiada pela filha, Cirlei decidiu doar os órgãos do marido, depois de saber que há muita gente na fila de espera, aguardando por atos como o dela para tentar seguir a vida.
“Estou aliviada. Tirei um peso enorme do meu coração”, comentou ela, enquanto aguardava que a equipe médica retirasse os órgãos do marido, que teve morte cerebral diagnosticada na quarta-feira à noite.
Ao lado da filha, Cirlei aguardava ansiosa, na sala de espera do bloco cirúrgico do Hospital São Sebastião Mártir, o trabalho dos médicos que coletavam os órgãos do marido.
O meu gesto vai poder ajudar outras pessoas. é um processo que todo mundo deveria fazer”, argumentou a doméstica, com os olhos cheios de lágrimas.
Mobilização total
Após a decisão da família em doar os órgãos, a equipe do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) inicia uma operação, pode-se considerar a mais detalhada estratégia de logística. O tempo e os procedimentos possuem cronogramas específicos, e que precisam ser cumpridos. Todos os trâmites e ações cirúrgicas levaram 24 horas. Iniciaram na quinta-feira, 20 e encerram no dia seguinte.
Além dos processos médicos, o apoio psicológico é fundamental, especialmente porque os familiares tomaram uma decisão que exigirá atenção e movimentos de profissionais da capital gaúcha.
Na última sexta-feira, 21, outros dois casos de coleta de órgãos foram confirmados no estado, um em Uruguaiana e outro em Rio Grande.
O diagnóstico de morte cerebral foi confirmado na quarta-feira, à noite, e aberto os protocolos exigidos pelo Ministério da Saúde. A partir daí, uma bateria de exames são realizados, para confirmar que não há mais tratamentos possíveis.
Ao ser comunicada, a família é informada sobre a possibilidade de doação de órgãos. Em Venâncio Aires, o retorno positivo resultou em ações rápidas da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, que exigem testes para verificar compatibilidade com pessoas que aguardam na fila.
A reportagem completa na edição impressa do jornal Folha do Mate de 25/11/2014.