Tem amizades que são formadas na escola, no Ensino Fundamental e Médio, que com o tempo, e com os diferentes rumos da vida, fazem com que as pessoas se distanciem e percam contato. Porém, isso não foi o que aconteceu com um grupo de amigos, que juntos formam o Ich Menna. O grupo conta, inclusive, com uniforme e carteirinha de sócio.
Os fundadores Cesar Luiz Schultz (alemão Schultz), 66 anos; Pedro Augusto Theisen (Kuti), 66 anos; Renato Schmidt, 69 anos; e Flávio Luiz Nagel (Prego), 66 anos, contam mais sobre essa história que tem mais de 50 anos e muitas fotos de lembrança.
Tudo começou no Ensino Médio, quando uma turma de amigos fez um acampamento de uma sexta para sábado no Açude do Peixe, em Passo do Sobrado. O ano era 1972, todos tinham em torno de 16 e 17 anos, e eram de 10 a 12 amigos que estavam entrando no ‘1º ano científico’, um curso que já não existe mais. Durante este primeiro encontro, foi firmado um ‘acordo’, de que todos os anos, no segundo sábado depois do Carnaval, ou o mais próximo possível desta data, o grupo voltaria a se encontrar. “Não imaginávamos que chegaria tão longe, hoje já são 51 anos de Ich Menna”, afirma Nagel. O grupo é formado somente por homens e a ideia foi alimentada depois de participarem do Bloco Sete Bafo, junto com as namoradas da época. No entanto, os ‘guris’ queriam ter um grupo só deles e assim nasceu o Ich Menna. Depois de terminarem o curso, cada um prestou vestibular e passou a morar em cidades diferentes, mas os encontros continuaram.
Hoje, a maioria dos encontros acontece no antigo balneário São João, em Linha Grão-Pará, na propriedade do seu Broda. Em apenas quatro oportunidades, o grupo não se reuniu no local, em um destes momentos, o Ich Menna teve o Parque Municipal do Chimarrão como local de encontro.
Organização
O grupo de amigos tem toda uma organização para os encontros. O local é alugado e todo o trâmite, segundo os fundadores, é feito pela esposa do Broda, a dona Lori. Antigamente, quando a família ainda tinha o balneário São João na propriedade, o grupo pagava a locação para que os proprietários fechassem o local por um fim de semana inteiro.
A divisão das tarefas é feita entre os integrantes, um fica responsável por fazer o rancho dos dias de acampamento, outro compra bebidas e o gelo, alguém faz um cardápio para cada dia, outro traz a lenha, e os gastos, ao final, são divididos entre todos, igualmente. O som e a iluminação também são garantidos pelos ‘Ich Menna’. Antigamente, os integrantes se dividiam também para levar ferramentas para o acampamento, e utensílios como copos, talheres, cadeiras e pratos. Hoje, o grupo já adquiriu os seus próprios e os guardam na casa de um dos participantes, que todos os anos é responsável por trazer tudo para usar no acampanamento. No início, contam os fundadores, que nem todos tinham barraca, então faziam um lonão para dormirem à noite.
- 22 é o atual número de integrantes do Ich Menna.
Curiosidades
1. O ano de 2022 foi de retorno dos encontros do Ich Menna. Em 2020 o grupo ainda conseguiu se reunir antes da pandemia da Covid-19 e em março de 2021 não foi possível, apenas realizaram uma rápida reunião que foi feita em novembro.
2. Nos sábados de manhã, a atração principal do acampamento eram os jogos de futebol. Os times sempre eram formados conforme o estado civil dos integrantes. Começou com o time dos solteiros versus os que tinham namoradas; depois os solteiros contra os casados; e por fim, um novo time foi montado, os divorciados. Depois dos jogos, todos tomavam o tradicional banho no piscinão.
3. As esposas dos integrantes até tentaram seguir a ideia dos maridos e criar um acampamento das mulheres, mas este só teve uma edição.
4. Nos primeiros anos, apenas um dos integrantes do grupo tinha carro, então já começavam a levar as coisas dias antes e revezavam o veículo entre si.
5. O Prego se formou engenheiro agrônomo e hoje é aposentado. Kuti é engenheiro civil e engenheiro da segurança do trabalho. Alemão Schultz é administrador de empresas no ramo do transporte e Schmidt é engenheiro agrônomo, trabalha com comércio, agricultura e locação de imóveis, hoje, também é aposentado. Dos quatro fundadores, o único que não mora em Venâncio Aires é Nagel, que reside em Santa Maria, mas é nascido e criado da Capital do Chimarrão.
6. Uma das histórias mais divertidas que o grupo conta até hoje foi quando Alemão Schultz fez uma aposta de que Schmidt conseguiria vencer uma corrida andando com sua Brasília de ré, contra um corredor profissional. E não é que a aposta deu certo? No fim, ganharam 25 caixas de cerveja para beber no bar em que frequentavam.
O nome
Uma curiosidade que muitos se questionam certamente é sobre a frase que dá nome ao grupo. Do alemão ‘ich mena’ significa ‘eu acho, eu quero’. Os fundadores contam que quem começou com essa frase foi José Haas, que em 1973 era presidente na União dos Estudantes Secundários de Venâncio Aires (Uesva), pelo Colégio Oliveira, junto com Nagel, que era o vice, pelo curso Científico.
Nas atividades esportivas entre as escolas, construíram uma amizade especial, E em certa ocasião Haas comentou com Nagel sobre um senhor chamado Emílio Bergmann Sobrinho, de Linha Brasil. “Esse homem falava muito esta frase e por ter uma relação próxima com Haas, ele acabou pegando a ‘mania’. Os amigos contam que Haas tinha um talento incrível para contar histórias e piadas, e entre uma prosa e outra, soltava um ‘ich menna’. “Foi inspiração e o nome pegou, ninguém nunca pensou em mudar”, ressalta Nagel.
Apesar de, na linguagem alemã, a escrita ser com uma letra N na palavra mena, nome que foi usado inicialmente pelo grupo, no último encontro, os integrantes realizaram votação que designa de forma oficial o nome como Ich Menna, com dois N’s na última palavra.
União que se mantém
Os fundadores do grupo esbanjam orgulho e felicidade ao falarem do Ich Menna. “Acreditamos ser um dos grupos mais antigos de Venâncio que ainda segue se encontrando”, afirma Schultz. O integrantes que moram em outras cidades, por exemplo, se organizam meses antes para que possam acampar por três ou quatro dias, todos os anos.
Para Nagel, mesmo o grupo se reunindo uma vez ao ano, são muito coesos e têm uma forte ligação, por vezes, até maior do que com familiares próximos. “Sempre esperamos muito para que chegue o momento de nos reencontrarmos por 48 ou 72 horas. A amizade começou quando éramos adolescentes, não tínhamos nada na vida e hoje, cada um já é consagrado na sua profissão. Todos são determinados a ser alguém na vida e juntos conseguimos. No início não sabíamos se os encontros iriam continuar, e hoje, chegamos em um ponto que não sabemos até onde vamos conseguir manter, pois essa é a vontade.”
Theisen comenta que o grupo é uma forma de recordar a melhor fase da vida – a adolescência – e as histórias já vividas. “Depois as responsabilidades foram aumentando, mas quando nos reunimos parece que voltamos no tempo e nos desligamos de tudo, dos compromissos, profissão e família. Ali nos tornamos crianças novamente e recarregamos as baterias.”
Schultz destaca que a ajuda e o companheirismo vividos com os amigos são os valores que leva desta união. “Quando jovens, pensávamos o que vamos fazer na vida adulta, formar família, ter uma companheira, filhos, e isso todos conseguiram.” Ele ressalta que o grupo também é importante para superar momentos difíceis. “Ali é o lugar e o momento de reunir forças e enfrentar mais um ano, sejam quaisquer os problemas que temos passado.” Schultz observa que cinco amigos do grupo já faleceram.
Schmidt considera um grande prazer poder estar de dois a três dias reunidos com os amigos de tantos anos. Ele destaca que no grupo não há hierarquia, ninguém impõe regras e todos já sabem o que fazer e levar. “Dos oito fundadores que começaram o grupo, hoje estamos entre quatro. E sempre que alguém deseja entrar para o Ich Menna, consultamos todos os integrantes antes. É preciso ter a aceitação de todos.”
Os quatro fundadores destacam que todos os outros 18 integrantes colaboraram, cada um da sua forma, para que a história do Ich Menna chegasse tão longe.
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