Melhorias nos serviços de iluminação pública no interior é tema de frequentes debates da Câmara de Vereadores e de cobranças da população de Venâncio Aires. No entanto, a constante necessidade de consertos esbarram em diversos problemas, que vão além de lâmpadas queimadas.
O setor de eletrificação da prefeitura, responsável pela manutenção do serviço, atualmente chega a atender cerca de 400 solicitações ao mês. O principal motivo das luminárias estragadas é a precariedade da voltagem no interior, que provoca constantes quedas diárias de luz e por isso, resulta na queima das lâmpadas e até dos reatores. Segundo os eletricistas, responsáveis pelo setor, esta demanda só reduzirá quando houver mais investimentos na eletricidade do meio rural, que neste caso, cabe a concessionária AES Sul. Esta realidade, entretanto, não é apenas de Venâncio. Não é à toa que esta demanda está entre as cinco prioridades estruturantes defendidas no Vale do Rio Pardo, para ser atendida pelo governo do Estado.
Nesta semana, o vereador Celso Krämer (PTB) levantou o assunto novamente na tribuna, cobrando atendimento exclusivo da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp) aos moradores da área rural. Alegou que algumas regiões do interior vivem às escuras. Ontem ele esteve na Folha do Mate para argumentar a reivindicação. Disse que fez um levantamento na região de Taquari Mirim, localidade onde mora e de um trecho de aproximadamente 3km, onde estão instaladas 20 lâmpadas, disse que encontrou 14 queimadas. O vereador acredita que 50% das luminárias em todo interior, não estejam em funcionamento.
Em contato com o coordenador do setor de eletrificação da Sisp, João Vaz, sem saber da queixa do vereador, pediu que os vereadores conheçam de perto o trabalho da equipe, os esforços e dificuldades encontradas. Questionado de como são solicitados e prestados os serviços, Vaz explicou que é necessário que o pedido de serviço chegue até o setor. Para isso, os interessados precisam encaminhar pedido na prefeitura, ligar para o setor (pelo telefone 51 3741-2035) ou ainda, solicitar o conserto durante a passagem de uma equipe pela localidade. No entanto, chama atenção das dificuldades que muitas pessoas do interior têm de comunicação, o que faz com que o atendimento demore ainda mais.
Segundo Vaz, a prestação de serviço é realizada por localidades, conforme vai acumulando alguns pedidos para a mesma região. Assim, uma equipe se dirige para o local e atende em um único roteiro, todas as reivindicações. “Como nosso interior é muito grande, não podemos ir até uma localidade para trocar uma única lâmpada”, observou. Nas localidades mais distantes, como a região serrana, a equipe aguarda os pedidos para passar o ‘pente fino’. Conforme João, a equipe do interior atende por semana, cerca de 120 solicitações de lâmpadas, e mesmo assim, chega a demorar até dois meses para localidades mais distantes serem atendidas, por muitas vezes terem apenas uma solicitação. Embora os serviços dependam dos pedidos encaminhados, Vaz observa que mesmo sem a comunicação, se a equipe identificar algum problema durante um roteiro, será solucionado no mesmo dia. Acrescenta que até durante à noite já fizeram reparos de vistoria, além de trabalharem aos sábados.
Hoje o setor é composto por nove funcionários, sendo que três formam a equipe da área urbana, três do interior, dois fazem atendimentos internos (de escolas, prefeitura, secretarias, Parque do Chimarrão e órgãos públicos municipais) e um fica locado na pasta, responsável pela montagem de lâmpadas e consertos.
PROBLEMA CRôNICO
Conforme o coordenador, é difícil fazer a manutenção da iluminação pública, pois ela é acionada automaticamente e por isso “embora tenha sido consertada hoje pela manhã, à noite pode já não estar funcionando, devido a uma queda na energia, deficiência de carga e voltagem. Assim como posso trocar e funcionar uma semana, meses, e outras duram três, quatro anos. é imprevisível”, exemplifica.
Para João, a precariedade da eletrificação do interior é um problema crônico. Observa que muitas localidades solicitam redes trifásicas, enquanto que uma rede monofásica, instalada dentro dos padrões, já seria o suficiente, garante. “Isso só vai se resolver quando a empresa AES Sul fizer um grande investimento para corrigir as quedas de tensão, solucionar as redes e amenizar estes reparos tão constantes”, frisou. Segundo o coordenador, lâmpadas dificilmente queimam, às vezes o problema é no aparelho fotocélula que aciona automaticamente o ligamento e desligamento ou um mau contato. “Das solicitações, 10% é lâmpada queimada, 90% é outras coisas”, afirma.
Ele observa que hoje todo o investimento e serviço de manutenção fica sob responsabilidade do Município. “A AES só faz o papel de cobrar o consumo”, lamenta. Lembrou que o município de Santa Cruz do Sul privatizou a iluminação pública, mas piorou a prestação do serviço, pois passaram a oferecer lâmpadas de pouca qualidade, ao contrário do que está sendo oferecido em Venâncio. Segundo Vaz, que já atua no setor há várias administrações, no governo Glauco Scherer foi feita a padronização da iluminação em Estância Nova, colocando o mesmo tipo de luminárias da Osvaldo Aranha, no centro da cidade. “Lá temos uma das melhores iluminações de todo o interior. Para igualar com aquele, só o centro de Venâncio”, frisou. Já nesta administração, a padronização foi feita no centro dos distritos de Vila Mariante, Vila Arlindo, Centro Linha Brasil e está em estudo para iniciar em Palanque.
Ontem, a reportagem acompanhou atendimentos na localidade Canto do Cedro. Segundo os eletricistas, além das quedas de luz, outro problema é as descargas de raios. Os serviços prestados basicamente são consertos de peças, colocação de novas lâmpadas e apagar as luzes acesas durante a noite e o dia, pois ficam acionadas devido a algum problema na fotocélula. Os funcionários lamentaram que muitas lâmpadas são retiradas pela AES Sul, durante as trocas de postes (de madeira por de concreto). “Eles consomem com as lâmpadas e quando devolvem alguma, não funciona e a população cobra com razão”, desabafou.
A reportagem entrou em contato com André Siqueira, gerente operacional da AES Sul na região, que solicitou que entrássemos em contato com a assessoria de comunicação da empresa, que por sua vez, ficou de repassar um posicionamento da empresa.