Hoje à tarde foi realizada uma coletiva de imprensa do Ministério Público de Venâncio Aires, quando foram detalhadas informações sobre todo o processo de investigação. Durante a reunião, o procurador da promotoria especializada criminal, Mauro Rochemback, relembrou que a Lactibom foi interditada em 2008, em uma ação cautelar por idêntica fraude: adição de água no produto final.
Mas foi em meados do ano passado que o MP recebeu novos laudos que comprovaram adição de água no leite. A investigação foi instaurada e os investigadores perceberam que a empresa estava sendo desativada em razão de problemas financeiros. Para substituí-la, foi criada a fábrica H2B como linha de produção a qual tinha como distribuidora a DRW. O casal Vanderlei Macedo da Lactibom e Débora Reckziegel Weschenfelder passaram a usar como razão social o nome H2B, parecido com a fórmula da água. Por sua vez, devido à essa transição, foram colocados como sócios-proprietários dois funcionários que agiram como ‘laranjas’, sendo eles Fábio Baierle, químico industrial, e Merandir Horn. Fábio já havia sido investigado na quinta etapa da Operação do Leite Compen$ado, em maio do ano passado.
O até então proprietário Vanderlei se afastou da empresa e atuou como sócio oculto, mas mantinha a planta, a marca e continuava a assinar como responsável pelas operações perante os órgãos de fiscalização. Essas modificações, ajustes e trocas de razão social fizeram com que as investigações se prolongassem até hoje, pois a cada instante se observava a entrada de pessoas novas. Em janeiro de 2015 saíram da sociedade Fábio e Merandir e passaram a assumir a empresa o casal Luciano e Márcia Petry, os quais também foram investigados na etapa cinco da operação.
Na quinta etapa da operação, Luciano teve cinco caminhões apreendidos, porque transportava leite adulterado. Além disso, respondeu 14 vezes pela prática do crime, ou seja, foram 14 fraudes. Márcia e Luciano levaram para a empresa, outro funcionário, Mateus Borges.
Todas as cargas que chegavam ao local eram recepcionadas. Durante a operação foi observado que não havia recusa de cargas, nem inutilização e devolução. “Apenas não eram recebidas as cargas que tinham a presença de antibiótico. Mas, mesmo assim, não era jogada no tanque de decantação, pois tinha outro rumo, conforme o que foi confidenciado por um dos funcionários”, explica Mauro.
A primeira análise feita nas cargas recebidas era se o leite prestava para ser produzido cru. Se pudesse ser aproveitado para isso, este entrava na linha de produção e era remetido para o comércio. Caso a carga não servisse para esse fim, era desviada para uma queijaria em Lajeado de nome de Latte Bioz. Neste local, a carga servia para a fabricação de queijo que, muitas vezes, não tinha como ser consumido por ter um gosto amargo. Quando este não era vendido, voltava à empresa para ser reprocessado.
LOTESEm 2014 há seis laudos positivos do leite pasteurizado do tipo C integral. O promotor alega que apenas a linha de fabricação do leite pasteurizado sofreu interdição, não a indústria por completo.
Na verdade, a gente brinca na investigação que eles não estavam adulterando leite, mas sim, água
Em 2015 há nove laudos positivos. As embalagens, por exemplo, não continham o número do lote, apenas a data de fabricação. Para o promotor, isso era um expediente utilizado para dificultar a rastreabilidade da qualidade do leite. “Se ocorrer de nós pegarmos uma embalagem e ela estiver imprópria para consumo, nós teríamos que recolher todas as unidades desse lote, mas como não havia menção à lote, não se sabia onde eles estavam”, complementa.
ENVOLVIDOS
São responsáveis pelas operações as Promotorias Criminal e da Defesa do Consumidor que cumpriram nove mandatos judiciais de busca e apreensão em Venâncio Aires, Lajeado, Montenegro, Carlos Barbosa e Mato Leitão. Estiveram envolvidos na operação 80 agentes, três promotores, além de integrantes das Secretarias Estaduais da Agricultura e Saúde, Ministério da Agricultura, Receita Estadual, Fepam, Polícia Civil e Brigada Militar.
Empresa também fornecia leite para presídios da região
A empresa Lactibom participou de algumas licitações do Estado para fornecimento de leite às casas prisionais da oitava região prisional do Vale do Taquari. Venceu uma licitação no ano passado, em 26 de novembro, no valor global de R$ 13.860 para fornecimento de leite pasteurizado. Passou a oferecer 6,3 mil litros de leite tipo C, 300 litros de Longa Vida Integral e 300 litros de Longa Vida desnatado. O produto era encaminhado aos presídios da região, como o de Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, Venâncio Aires, Encantado, Rio Pardo e Lajeado.
Segundo o promotor Mauro, o primeiro procedimento licitatório foi vencido pela DRW, momento em que já havia irregularidade, pois a licitação foi fraudada. O valor do litro de leite era muito elevado em relação à logística necessária para a empresa entregar o produto. Logo vencida a licitação, passaram a ser entregues nos presídios o leite UGHT, com a embalagem plástica aluminizada e o período de validade era maior. Porém, como o processo UGHT não era completo, por utilizar muita água, o leite não chegava ao vencimento. “O leite deteriorava nas embalagens muito antes, por isso ocorriam as devoluções do produto, inclusive em uma embalagem estufada”, comenta o promotor.
Neste ano, a DRW venceu outra licitação para o fornecimento de uma quantidade maior de litragem do produto, também para os presídios da oitava região. Em 21 de julho a DRW forneceu 23, 9 mil litros de leite pasteurizado do tipo C, 360 litros de longa vida integral e 1,060 litros de Longa Vida desnatado, todos com valor elevado e com adulteração.
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