É em Linha Duvidosa que o agroecólogo Mateus Finkler, 26 anos, testa em seu ‘laboratório de experimentos natural’ técnicas agroecológicas e preserva a propriedade da família e o meio ambiente. Mas essa é só uma das atividades do jovem. Ele é monitor na área de produção agropecuária na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), é pós-graduando em docência no ensino superior e administrador da página no Facebook ‘O Agroecólogo’ e da conta no Instagram ‘Agroecólogo M. Finkler’.
Por meio dos canais digitais, o jovem combina a ciência, saberes e práticas agroecológicas em prol de todos os processos que promovem a vida. É lá, que ele compartilha técnicas e mostra o que é a agroecologia e o que faz na sua propriedade.
Finkler concluiu o ensino médio na própria Efasc, em 2009, onde hoje é professor. Em 2015 ele decidiu que iria fazer faculdade, queria voltar a estudar, após muitas incertezas foi a São Lourenço do Sul, em um polo da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) cursar bacharel em Agroecologia. Essa foi a primeira turma a se formar no estado. Eram quatro formandos, dois gaúchos e venâncio-airenses, Mateus e Carlo Giehl, além de um paulista e um peruano. “Me formei em 2018, fiz estágios em alguns locais e trabalhei, mas eu vinha sentindo que precisava fazer uma coisa, mostrar para as pessoas o que é a agroecologia e que ela dá certo. Mostrar um contraponto da cultura convencional, o diferente”, reforça.
Foi então, que em março deste ano, Finkler teve a ideia de criar um perfil no Instagram para divulgar as ações. Logo depois veio o Facebook. Questionado se ele almeja ser um influencer do interior, ele nega. “Meu objetivo é que as pessoas que têm interesse, curiosidade sobre a agroecologia sigam a página e conheçam a área. Nunca pensei nessa questão de ser um influenciador digital”, admite.
Mas a divulgação já tem dado certo. Através das hashtags que são compartilhadas, pessoas da Europa já entraram em contato. Conforme Finkler, 60% dos seguidores são de fora. “Eu fiz um post sobre sistemas agroflorestais. Lá na Europa o clima é diferente, a curiosidade das pessoas era saber como funcionava o sistema aqui no Brasil. O tradutor tem me auxiliado muito nesses momentos”, reitera.
São 18 quilômetros que separam a casa de Finkler com o centro da cidade de Venâncio Aires, mas lá, o sinal de telefone ‘não pega’, por isso, a internet é a fonte de comunicação. A ligação mesmo, é só pelo WhatsApp. Mas essa é a realidade de muitas localidades, com o avanço da tecnologia, o sinal, via rádio, de internet chegou antes mesmo que o de telefonia.
Aos passos do pai e da mãe
Nos quase 20 hectares em Linha Duvidosa, entre os ‘morros’ como o próprio jovem denomina, Mateus, ao lado dos pais Roque e Laura, realiza o agroreflorestamento e o cultivo de hortaliças e outros produtos alimentícios para a comercialização na feira.
Irmão de Camila Finkler, o jovem, segue os passos do pai, afinal Roque é fundador do Grupo Eco da Vida, um grupo que comercializa orgânicos no centro da cidade. “O pai é meu Google. Ele sabe muita coisa, e admiro muito o amor dele pela terra”, conta.
Mas Finkler também segue os passos da mãe Laura, que é professora aposentada. Hoje, após 10 anos, o jovem retornou à escola onde concluiu o ensino médio técnico para dar aula. “Sou um espelho para meus alunos. Eu sempre defendo que o meio em que tu estás inserido vai te influenciar. E no ensino médio é a época do descobrimento, precisamos mostrar e resgatar as coisas, aprender a dar valor. Um pouco de trabalho a mais agora pode te render muitos frutos no futuro”, reforça.
O compartilhamento de conteúdo também serve como lição de casa. Isso porque os alunos de Finkler acompanham a página e interagem. “Dou exemplos do que faço na nossa propriedade, e assim interajo com eles, a gente conversar virtualmente agora em meio a pandemia do coronavírus, eles tiram suas dúvidas e implantam o sistema na propriedade deles também. É uma forma de ajuda.”
Se dividindo entre inúmeras tarefas, o rapaz pretende concluir a pós-graduação e iniciar o mestrado na área de zootecnia. Além disso, um dos objetivos é ser mais ativo no Grupo Eco da Vida e participar das feiras. “Vou me organizando e conciliando as inúmeras tarefas mas com um objetivo em comum, divulgar a agroecologia e ajudar o meio ambiente”, conclui
“Quando jovem, eu entrei no ensino médio meio ‘cru’. Mas na Escola Família Agrícola (EFA) aprendi a ter o senso crítico. Só me dei conta com o passar dos anos que eu fazia agroecologia desde criança com meu pai. Sem saber, aqui de casa, eu já estava praticando e me tornando um agroecólogo. O tripé, família, Grupo Eco da Vida e EFA são os responsáveis pelo o que me tornei hoje.”
MATEUS FINKLER – Agroecólogo e professor