
Completando 119 anos desde a primeira edição, os festejos de Kerb movimentam Linha Isabel e Linha Esperança neste fim de semana. Neste sábado, 12, à tardinha, uma missa vai marcar o início dos festejos, que seguem até domingo, 13. A celebração, conforme a comissão organizadora, remete ao período da entressafra, e busca agradecer a última colheita e pedir novas bênçãos ao ciclo que se inicia.
Um dos líderes do movimento é o morador de Linha Isabel, Elói Lahr, de 62 anos. Ele conta que participa das programações desde criança. “Participava especialmente junto de meu pai. Tinha muito medo dos palhaços, mas sempre gostei muito”, lembra. Desde 2006, é uma das pessoas que organiza a festa.
Lahr recorda que foi convidado para participar da comissão no período em que as festividades completariam 100 anos. Apesar de ter aceitado o convite, ainda estava com algumas dúvidas, e propôs como contrapartida dos demais integrantes uma pesquisa para levantar a origem do Kerb. “Até então, só falávamos que estava completando o centenário, mas não tínhamos nenhuma comprovação”, recorda, citando uma força-tarefa que foi criada para descobrir a origem e os primeiros eventos.
Origem
Elói Lahr afirma que tudo começou na Europa, na Segunda Guerra Mundial. Com uma crise comercial e industrial em andamento, que corroborou com a falta de empregos, ocorreu o movimento de imigração. Muitas dessas famílias vieram ao Brasil, com proposta de uma vida melhor. “Foram atraídos, pois falaram que tinha estrutura para eles aqui, mas chegaram e foram jogados à própria sorte no meio do mato”, conta.
A colonização de Linha Isabel iniciou em 1873 e, de Linha Esperança, em 1881. Naquele tempo, o trabalho era muito difícil e braçal, demandando a limpeza de estradas, construção de moradias, igrejas e escolas e abertura de roças. “Não tinha exatamente nada”, resume Lahr.
O registro da primeira festa data de 1906, quase 33 anos após a chegada das famílias na região de Linha Isabel. A festa tinha porte mais singelo, reunia poucos moradores, e tinha o espírito comunitário em destaque, celebrando as conquistas do desbravamento, além de matar a saudade da terra natal. Cavalgadas em busca de donativos para uma galinhada comunitária estavam entre as atividades.

Essa primeira festa foi no salão de Augusto Haupt, construído em 1902 e que está com parte da estrutura de pé até hoje, porém sem qualquer atividade, devido à deterioração. Mais tarde, a partir de 1936, a festividade passou a ser no Salão Siebenechler, já que o espaço era maior. Desde 2017, o Kerb ocorre no ginásio de esportes de Linha Isabel.

O significado de Kerb
Na teoria, o termo Kerb, conforme Lahr, em língua portuguesa, significa balaio. Esse item pode ser produzido a partir de bambu, taquara e cipós. Ao plantar mudas ou sementes, o produtor tem o desejo de colher. E quando ele vai para a roça com um balaio, é sinal de fartura na produção. “Indica uma safra cheia e que ele precisa desse cesto para conseguir carregar mais, sendo motivo muito grande de comemoração”, explica.
Na Alemanha, conforme a professora de língua alemã, Jaqueline Bender, a palavra Kerb se refere à festa de uma igreja. Em muitas partes da Alemanha, particularmente na região do Hunsrück – de onde vieram a maioria das pessoas que colonizaram o Vale do Rio Pardo –, a feira da igreja ou o Kerb era, e ainda é, o festival mais importante do ano na região rural. Ou seja, o dia que a comunidade local celebra o santo padroeiro.
Cunho social
Além da parte festiva e religiosa, o Kerb também tem sempre o olhar para o desenvolvimento das comunidades. Inicialmente, parte do lucro arrecadado com a ação entre amigos era revertida para a construção de escolas e igrejas, além de outras adaptações e revitalizações nesses espaços. Ao passar do tempo, especialmente as igrejas, foram se fortalecendo e criaram autonomia. Hoje, parte do lucro é destinada para as diretorias dos cemitérios.
Lembranças que dão água nos olhos

Falar de Kerb com seu Elói Lahr é tocar em um assunto que ele domina. Lembra com muito carinho de todos os momentos, até mesmo das caminhadas que fazia junto com a turma que o pai dele integrava. Ao recordar dos muitos momentos vividos, fica emocionado, com água nos olhos.
Um desses momentos guardados com carinho é datado em 2006, na contagem regressiva para a festa daquele ano. Foi a primeira vez que o grupo se organizou e veio divulgar a programação na Prefeitura, secretarias municipais e veículos de comunicação.
“Antes disso, o Kerb quase morreu, mas foi possível recompor e continuar com as atividades. Sempre foi muito desafiador, mas a comunidade gosta muito e faz bem pra gente também”, relata.
Programação
Sábado, 12 de julho
- 18h – Missa na capela de Linha Isabel
- 20h – Baile com cuca e linguiça
- 23h – Leilão da Kerb Flasch, conhecida como Schilda
Domingo, 13 de julho
- 8h – Saída das turmas para visitação nas casas
- 14h – Início da reunião dançante com Musical Novo Encontro
- 15h – Retorno das turmas de Kerb
- 19h – Encerramento
Nach Kerb
A próxima etapa será em 27 de julho, 14 dias após a primeira parte da festa, quando ocorre o Nach Kerb. Na data, está marcada a inauguração da ponte de Linha Isabel, a partir das 10h. Após, ocorrem gincanas.
- Na parte do meio-dia será servido almoço e, às 14h, o destaque é para apresentação da Banda Acordes de Ouro. Ainda será realizado o sorteio da ação entre amigos comercializada pelas turmas.