Se não fosse um dia de chuva, se não fossem as férias de inverno, se não tivesse hora-extra e se o caminho fosse outro, essa história não existiria. Mas tudo isso aconteceu, há nove anos, na cidade de Sapiranga, no Vale do Sinos.
Foi no dia 22 de julho de 2010, na última semana de férias de inverno de Pâmela Iasmi Emmel. Na época com 17 anos, ela optou por estudar à noite no último ano do ensino médio para trabalhar de dia em um ateliê de costura. Naquela quinta-feira chuvosa, sua ideia era ir direto para casa depois das 17h, mas a chefe foi enfática. “Sei que tu tá de férias da escola. Vai ter serão.”
Inicialmente, o trabalho seguiria até as 21h, mas com o ‘nariz já torcido’ para a hora-extra indesejada, Pâmela convenceu a chefe para ficar até as 19h18min. “Já fui embora ‘beiçuda’, porque estava chovendo, frio e eu de bicicleta. Aí fiz um caminho que nem sempre pegava.”
No trajeto alternativo, ela avistou dois meninos vindo em sua direção. Um deles guiava uma bicicleta e levava uma sacola. Quando se aproximou, a sacola escorregou do guidão e caiu. Dentro dela, um cachorrinho. Pâmela chamou atenção dos guris, para terem mais cuidado e não machucar o bichinho. Para sua surpresa, ouviu a seguinte resposta: “Não, tia. Vamos largar ela no valão, porque minha mãe não quer mais.”
Foi aí que a jovem se lembrou de Sakura, sua cadela de estimação que tinha morrido há dois meses. “Eu disse que não queria mais cachorro, porque aquela perda me doeu muito. Mas aí olhei para aquela bolinha de pelo amarelo, toda suja e com medo, nem pensei. Coloquei embaixo do braço e levei. Senti muita pena e chorei até em casa.”
Naquela mesma noite, a bichinha tomou banho no chuveiro e dormiu em uma caixa de sapato. A coloração do pelo sugeria um nome: Mel. Mas aí o pai da Pâmela, Genésio, sugeriu Meg. “Coloquei Maggie, assim, com essa grafia, e desde então comemoramos o aniversário dela dia 22 de julho, quando ela veio para mim.”
À PRIMEIRA VISTA
Pâmela não evitou as lágrimas para contar a história de como Maggie surgiu na sua vida, ainda mais considerando os fatores aleatórios que a fizeram cruzar por aqueles meninos naquela noite. “A gente se apaixonou à primeira vista. E assim é até hoje. Ela é muito especial.”
Em 2015, quando Pâmela trocou Sapiranga por Venâncio Aires, Maggie veio na mudança, dentro de uma caixa, junto à sua cama e seu Dumbo de pelúcia. É na cama, aliás, que ela passa a maior parte do dia. Muito caseira, a cachorrinha é dócil, carinhosa, come de tudo e nunca latiu para ninguém – a não ser outros cães da rua. Parceira de caminhadas, Maggie está acostumada a percorrer longos trajetos, incluindo a subida de quase 800 metros do Morro Ferrabraz, o cartão postal de Sapiranga.
Paciente e ‘do bem’, a cachorrinha acolheu Molly, outra vira-lata adotada por Pâmela, já em Venâncio Aires, em 2016. “A Molly tem a personalidade contrária. É arisca, impaciente, inquieta e sobe, literalmente, na cabeça da Maggie. E ela deixa! Mas como é a irmã mais velha, dá o exemplo e aceita a caçula, do jeito que for.”