“O que presenciamos foi impactante e dramático”. A frase resume o sentimento de Ivanor Fritzen, de 51 anos, morador de Linha Grão-Pará. No sábado, 14, ele, o irmão e um sobrinho resolveram ir até às margens do arroio Castelhano, a partir do bairro Battisti e, durante a caminhada ao longo do leito do manancial, registraram em fotos e vídeos cenas impressionantes. Vegetação e galhos servem de ‘cama’ para todo o tipo de lixo, formando uma espécie de barreira que impede o curso normal da água do arroio.
Fritzen já morou em outros lugares durante a vida, mas tem mais de 40 anos de Grão-Pará e afirma que jamais viu coisa parecida no Castelhano. A incursão foi motivada, conforme ele, pelo fato de a água da chuva e de cheias ter empoçado em sua propriedade nos últimos tempos. “A gente foi ver o que estava acontecendo, pois a água não estava mais indo embora. Temos aqui também uma forte vertente que abastece o Castelhano e que acabou abrindo uma cratera que dá para uma sanga, pela falta de vazão”, diz.
“Se a gente não tivesse um celular para tirar fotos e filmar, íamos contar e ninguém ia acreditar. Em alguns pontos, não tem como saber se é o leito do rio ou se é só vegetação e sujeira, porque está tudo completamente fechado.”
IVANOR FRITZEN – Morador de Linha Grão-Pará
PREOCUPAÇÃO
Além das cenas desagradáveis, o produtor revela outra preocupação: em razão do represamento da água, árvores e arbustos estão ficando parcialmente submersos e, em consequência, apodrecendo. “Tem um mato inteiro de eucalipto prejudicado. A gente consegue ver montanhas de terra e também poças de água no leito do Castelhano”, diz. O problema já havia sido informado à Administração de Venâncio Aires e, ontem, os moradores se reuniram com o secretário de Meio Ambiente, Clóvis Schwertner, para relatar a “triste experiência” e repassar as fotos e vídeos. “Não queremos atrito, só colaborar no sentido de que os órgãos competentes tenham conhecimento do que está acontecendo”, argumenta Fritzen.
MANIFESTAÇÕES
- As fotos e vídeos foram postadas no site de relacionamentos Facebook e tiveram muita repercussão, em especial entre os próprios moradores e frequentadores de Linha Grão-Pará.
- “Isso o Ibama não fiscaliza. Está morrendo tudo, não tem mais leito no Castelhano. Se não pegar uma máquina e abrir de fora a fora, não vai mudar nunca”, escreveu Elton Schonardth.
- “Nestes momentos eu pergunto: onde estão os órgãos ambientais? Quando é pra multar um agricultor que cortou uma árvore, estão lá e fazem mídia. Agora, pra esse grave problema do Castelhano, fazem de conta que não enxergam. Há muitos anos já se fala nisso, que o leito do arroio precisa ser dragado, limpo, mas parece que não é prioridade de nenhum governo”, postou Inácio Leismann.
“VAMOS CHEGAR LÁ”
O secretário de Meio Ambiente, Clóvis Schwertner, garante que o Município está trabalhando para recuperar as áreas degradadas do arroio Castelhano. Ele lembra que um levantamento dos locais onde há necessidade de intervenção foi feito e que já existe uma empresa trabalhando na limpeza de um ponto do manancial. “Vamos chegar lá”, diz, lembrando que o local visitado pelos moradores fica entre o ponto que recebe ação de limpeza e a RSC-453, trajeto que será percorrido durante as ações de desassoreamento.
Notadamente incomodado com a situação, Schwertner reclama que “só levantam problemas sobre o Castelhano, mas ninguém apresenta uma solução”. Ele também sustenta que “essa questão não é de agora, vem de muitos anos e estamos precisando remediar”. O titular da pasta defende a realização de um trabalho técnico, com embasamento, atuação correta e acompanhamento dos resultados. Para ele, a degradação está sendo reduzida aos poucos. “Basta ver que qualquer chuvinha alagava a parte baixa de Venâncio Aires, nos bairro Morsch e União e Loteamento Morsch. Agora choveu muito e não alagou”, argumenta.
CONSCIENTIZAÇÃO
Schwertner destaca ainda a necessidade de conscientização da sociedade para que o problema seja resolvido de uma vez por todas. “Os culpados somos todos nós”, salienta, lembrando que o lixo que é encontrado no arroio é produzido pelos cidadãos. “Que o Castelhano está doente é indiscutível. O que precisamos fazer é resolver em conjunto, para que este seja um trabalho de políticas públicas e tenha continuidade”, conclui.
À QUEIMA-ROUPA
Secretário, por ser um profissional muito ligado à área do Meio Ambiente, o senhor se sente frustrado com a atual situação do arroio Castelhano?
“Não me sinto frustrado, porque tenho consciência de que o processo de recuperação é lento. Me considero bastante alerta em relação ao arroio, sei que precisamos avançar muito, mas também sei que há conquistas, embora de passos não tão rápidos. Temos que ter os pés no chão, pois as coisas, agora, estão acontecendo. Fomos nós que iniciamos o trabalho objetivo, a ação, a prática. Saímos da teoria.”
“O que não fizeram em 20 anos, querem que a gente faça em cinco, seis meses. Precisamos de licenças ambientais para atuar no Castelhano, não é apenas ir botando máquina em tudo que é lugar. Não é com politicagem que vamos resolver a situação. Parece até campanha eleitoral.”
CLÓVIS SCHWERTNER – Secretário de Meio Ambiente