Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do MateDesocupação de espaços comerciais é reflexo da crise econômica.
Desocupação de espaços comerciais é reflexo da crise econômica.

Basta andar pelas principais ruas do Centro de Venâncio Aires para perceber o número expressivo de salas comerciais desocupadas. Por toda a cidade, são 105 espaços comerciais disponíveis para locação em apenas duas imobiliárias consultadas. Para venda, outros 21 imóveis. Profissionais do mercado imobiliário da cidade avaliam que esta é a primeira vez, em anos, que tantos espaços comerciais estão vazios.

A justificativa para esta característica é o cenário econômico, que faz os empresários buscarem alternativas para manter saudável a vida financeira dos seus empreendimentos. De acordo com a corretora de imóveis Kika Moura, que está no ramo há 25 anos, é a primeira vez que há um aumento significativo de salas comerciais vazias pela cidade.

Na opinião dela, o número maior de espaços disponíveis notado há cerca de seis meses, é reflexo do cenário econômico, que obriga as pessoas a analisarem bem mais o imóvel antes de fazerem algum investimento. A desocupação, segundo a corretora, nem sempre significa que a pessoa fechou o comércio. “às vezes, está relacionada a um ajuste econômico”, diz. Kika ainda comenta que há situações em que as pessoas saem de um lugar e vão para outro menor. Dessa forma, o lucro obtido é maior, mesmo que o espaço seja pequeno.

Dados fornecidos pela Junta Comercial do Município reforçam a análise feita pela corretora. Nos últimos seis meses, 159 empreendimentos deram baixa em seu registro junto ao setor. Desde o dia 1º de fevereiro foram 49 baixas. Os números são gerais e não detalham o tipo de serviço e o local das baixas. Os dados também não indicam que todos estes registros possam ser traduzidos em empresas que fecharam as portas. Em alguns casos, as baixas deram lugar para novos serviços em um ramo diferenciado, com o intuito de explorar novos mercados.

Em outros casos, os empresários desocupam os espaços para se inserirem em outras regiões do município, ou ainda, transferirem seus negócios para outras cidades, com o intuito de potencializar os empreendimentos.

EXEMPLOEsta medida foi adotada por Odair Bittencourt, da PisarBem Calçados. Ele estava há 12 anos em Venâncio Aires com uma filial da loja, porém, conta que teve uma proposta mais atrativa, com possibilidade para potencializar suas vendas, e transferiu a loja para Santa Cruz do Sul. O empresário continua sócio de uma filial na Capital Nacional do Chimarrão, mas está nas estatísticas de um empreendimento que deixou uma sala comercial vazia no Centro de Venâncio Aires. A loja teve as atividades encerradas ainda em dezembro e ocupava uma das três salas comerciais do Edifício Storck, na rua Osvaldo Aranha.

 FIQUE POR DENTRO

PRéDIOS COMERCIAIS

A corretora Kika Moura comenta que nem sempre é o valor que faz alguém mudar de um ponto para outro, mas sim, a localização e o fluxo de pessoas. “às vezes, a pessoa pode pagar até 40% mais em uma locação, mas, devido ao fluxo de gente, vale a pena e compensa”, comenta. Além disso, ela ressalta que a existência de muitos prédios comerciais em Venâncio também interfere no número de salas desocupadas.

Segundo ela, muitos ramos que hoje não precisam de vitrine, acabam por migrar para os prédios comerciais, por exemplo. Para não perder em meio a essa situação, Kika conta que a imobiliária busca trazer empresas de outras cidades para se desenvolverem em Venâncio. “Hoje temos clientes estabelecidos aqui, porque nós trouxemos eles de fora”, afirma. Além disso, enquanto a pessoa ainda ocupa a sala, mas tem o interesse de sair, a corretora ressalta que é feita uma negociação dos valores para manter a empresa no local.

ALUGUéISA opinião de Amanda Kappel, sócia-proprietária de uma imobiliária de Venâncio, não é diferente. Conforme ela, o cenário econômico complexo desestimula as pessoas à efetivação de negócios. Além disso, o setor comercial é um dos que mais tem sentido os reflexos da economia nos últimos meses.

De acordo com Amanda, os valores dos aluguéis sofreram uma redução, com o objetivo de acompanhar a economia, mas, mesmo assim, muitos imóveis continuam desocupados. Ela ainda ressalta que, nos últimos 12 meses, os valores de aluguéis comerciais desaceleraram, pois a economia tem feito aflorar cada vez mais negociações entre inquilinos e proprietários. Deste modo, preços são reduzidos, com a finalidade de não se perder o cliente.

ESTRATéGIASEm um cenário econômico desafiador, segundo a sócio-proprietária, a imobiliária precisa superar as dificuldades e encontrar novas oportunidades, traçar ações claras, eficientes e inovadoras, montar estratégias com um planejamento estruturado e gerir os processos de trabalho para a condução do negócio.

Amanda acredita que se torna necessário investir também na qualificação e união da equipe, através de reuniões periódicas e, com isso, considerar as frustrações e metas a serem alcançadas, reunir o máximo de informações possíveis que contribuam para que se atinja o conhecimento pleno do imóvel e das necessidades do cliente.

MUSEU

A sala comercial desocupada no Edifício Storck simboliza não apenas mais um espaço vazio na cidade, mas principalmente, menos recursos disponíveis para manutenção do Museu de Venâncio Aires. O valor do aluguel das salas comerciais do prédio é utilizado para a manutenção da estrutura e de despesas gerais da Casa de Cultura.