Manutenção é essencial para evitar os incêndios em estufas de tabaco

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Com a colheita de tabaco em andamento, a secagem das folhas é ‘lida’ rotineira nas propriedades rurais. A tarefa junto às estufas, seja em um modelo convencional ou mais moderno, exige atenção e cuidados redobrados dos agricultores. Na atual safra, 14 incêndios em estufas no interior de Venâncio Aires já foram comunicados à Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). Deste total, 11 sinistros tiveram atendimento do Corpo de Bombeiros Militar. O último foi registrado na manhã de ontem, em Linha Marechal Floriano Baixo.
Levantamento da Afubra indica que 189 queimas foram registradas nesta safra, nos três estados do Sul do país – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Na safra anterior, no mesmo período, foram 135 sinistros em estufas. De acordo com o gerente do Departamento Técnico da Mutualidade da Afubra, Alexandre Paloschi, o principal fator apontado como causa desses incidentes é a falta de manutenção das estufas, sejam elas do modelo tradicional (construídas com tijolos) ou mais modernas, como as de carga contínua. Para prevenir os incêndios, a Afubra indica uma série de medidas e cuidados.
Segundo Paloschi, não deixar folhas soltas dentro das estruturas e não abrir a porta durante a secagem são dicas simples e fundamentais para a prevenção. “O improviso de andaimes, uma costura do tabaco um pouco mais solta que, leve a folha a cair, são alguns fatores que identificamos no momento de fazer avaliação do sinistro. São temperaturas muito elevadas e qualquer fagulha causa queima. Em torno de 80% dos casos é a falta de manutenção”, observa. Paloschi indica a revisão constante da parte elétrica e a instalação de tela sobre o cano-mestre para, em caso de queda de uma vara de tabaco, as folhas fiquem sobre ela. “Muitos produtores não têm o costume de ter aquela tela em cima do cano-mestre. Além disso, em alguns casos, o trocador de calor, também conhecido como Titanic, não recebe a manutenção correta, que deve ser feita anualmente após a safra e também no início dela”, observa.

Seguro

Além do seguro das lavouras, os fumicultores associados à Afubra têm a possibilidade de contratar um seguro das estufas, seja para incêndios ou casos de destelhamentos em período de secagem do tabaco. O contrato permite reaver parte dos prejuízos com esses sinistros. De acordo com Paloschi, há vários tipos de estufa e para cada uma há um percentual considerado no momento da avaliação, que é feita ‘in loco’. A partir disso, observa o gerente, a entidade busca efetuar o pagamento do seguro na mesma data ou no dia seguinte ao da avaliação. A Afubra recomenda que o produtor tenha agilidade na comunicação do sinistro junto à entidade, para que de forma mais breve a análise possa ser feita. “Não é necessário o laudo dos bombeiros, mas a orientação é não mexer na estufa até o técnico chegar no local”, ressalta. Os sinistros podem ser comunicados pelo telefone (51) 3713–7731.

“É muito triste acompanhar essas perdas, principalmente quando ocorre a queima total da estufa. Nestes casos, aquele vizinho que também está colhendo tabaco não consegue, por exemplo, emprestar a estufa naquele momento. Às vezes, o produtor perde uma, duas ‘estufadas’ até que ele consiga reconstruir aquela estufa para fazer a secagem.”
ALEXANDRE PALOSCHI – Gerente do Departamento Técnico da Mutualidade da Afubra

Dicas para evitar incêndios nas estufas

  • Garantir varas com costuras bem ‘amarradas’ para evitar que as folhas se soltem e deem início a um incêndio.
  • Usar tela de proteção sob as tubulações.
  • Não deixar folhas soltas no chão e limpar as estufas sempre após o carregamento e antes de iniciar a nova secagem.
  • Respeitar o limite de carregamento da estufa.
  • Realizar manutenção periódica nas instalações elétricas e nos sistemas de aquecimento.
  • Manter uma distância média de segurança da tubulação com o tabaco.

Saiba mais

  • Na safra passada (2023/24), do início da colheita até o dia 13 de novembro, a microrregião de Venâncio – que compreende 51 municípios atendidos pela Afubra – registrou 15 estufas sinistradas (12 em Venâncio, uma em Vale Verde, uma em Mato Leitão e uma em Marques de Souza). Nesta safra (2024/25), até a data de ontem, são 16 casos (14 em Venâncio, um em General Câmara e um em Vale Verde).

“Temos que reformar a estrutura do forno e tocar o barco pra frente”

Em Linha Taquari Mirim, a propriedade da agricultora Zilá da Silva Fett, 63 anos, foi a 10ª a ser atendida pelo Corpo de Bombeiros de Venâncio Aires na atual safra. O sinistro foi registrado na segunda-feira, 11, quando a produtora estava no centro da cidade e recebeu um telefonema de um vizinho avisando que a estufa elétrica estava pegando fogo. Na estrutura, tinham sido colocados 300 grampos, o que equivale a 60 arrobas da terceira apanha. “Eu saí pela manhã para levar meu marido para fazer uns exames e pedi para o meu vizinho cuidar do forno pra mim. De repente, ele ouviu um barulho estranho e foi ver o que que era. O motor estava pegando fogo”, contou a produtora em entrevista ao programa Folha 105 – 1ª edição, da Terra FM.

Os bombeiros foram acionados pelos vizinhos, que enquanto aguardavam a chegada da guarnição, jogaram água para não deixar o fogo se alastrar. A própria Zilá, que estava na região central, foi até o quartel dos bombeiros para avisar sobre o incêndio, mas a corporação já tinha sido avisada. “Queimou o forno, mas graças a Deus não pegou nada nas outras estruturas ao redor, pois tem o paiol, outro forno e um carro estava ali também. A melhor coisa que aconteceu foi a minha vizinhança socorrer, porque se eu chegasse da cidade, não ia dar tempo de fazer nada. Cheguei em casa e tinha mais de 20 pessoas com mangueira, com balde atirando água nas portas para controlar o fogo”, conta Zilá, que anos atrás já tinha enfrentado um incêndio em uma estufa convencional. “Agora, temos que reformar a estrutura do forno e tocar o barco pra frente. Não vamos parar”, disse.

“Não é fácil. Você fica meio desestruturada e pensativa, mas a gente dá a volta por cima. Não é uma vida, né? Eu sempre digo, uma vida não dá pra gente recuperar, mas o fumo e os bens materiais, a gente consegue.”
ZILÁ DA SILVA FETT – Produtora de tabaco

Conforme a família Fett, houve uma queda na rede de energia elétrica e a suspeita é de que o incêndio foi provocado por um superaquecimento no motor, o que levou a um curto-circuito. A família conta com seguro da Afubra, que foi acionado. “A gente tem o maior cuidado com as folhas, sempre limpamos bem, a gente cuida muito, mas infelizmente aconteceu esse curto”, lamenta Zilá.
Apesar do prejuízo com a estufa e o tabaco perdido, a expectativa é de uma boa safra. “O instrutor disse que o tabaco que plantamos sempre é muito bom, mas este ano é um dos melhores. Folhas graúdas, bem limpinhas, tudo muito bonito”, relata.

Estufa na propriedade de Zilá foi a 10ª a ser atendida pelo bombeiros de Venâncio na atual safra (Foto: Ismael Stürmer)


Letícia Wacholz

Letícia Wacholz

Atua há 15 anos na Folha do Mate e desde 2015 é editora da Folha do Mate. Coordena a produção jornalística multiplataforma do grupo de comunicação. Assina a coluna Mateando, a página 2 do jornal impresso.

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