Alunos da escola José de Anchieta foram os primeiros a participar das atividades práticas no Recanto do Itacolomy . (Foto: Roni Müller)
Alunos da escola José de Anchieta foram os primeiros a participar das atividades práticas no Recanto do Itacolomy . (Foto: Roni Müller)

Despertar nos jovens um olhar sensível e atento para o trabalho com a agricultura e o meio ambiente, com conteúdo teórico e atividades práticas. Esse é o objetivo do casal Jerry Fabiano e Daiane Haas, proprietários do Recanto do Itacolomy, localizado em Potreiro Grande, no interior de Passo do Sobrado, com o desenvolvimento do projeto ‘Plantando Educação e Sustentabilidade no Campo’.

A iniciativa foi lançada em junho deste ano, durante a programação da Semana do Meio Ambiente, e tem o patrocínio, pelo período de um ano, da empresa JTI, de Santa Cruz do Sul. Nesta semana, ocorreu a primeira visita dos estudantes no parque, com a realização de algumas atividades práticas no local.

Antes disso, entretanto, o cronograma de ações já havia iniciado com a promoção de palestras nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) José de Anchieta, de Passo do Sobrado, e Manoel Alcides Cunha, de Rio Pardo. “A ideia é trabalhar com alunos de duas escolas próximas do parque e que sejam, de fato, filhos de agricultores”, explica Daiane. A proposta abrange alunos do 5º ao 9º anos do Ensino Fundamental.

Segundo Daiane, esses encontros, em formato de palestras, tinham como objetivo apresentar a iniciativa aos estudantes e sensibilizá-los sobre o papel deles durante a execução das atividades. Durante esse período, cada turma visitará o parque em quatro turnos para participar de momentos teóricos e práticos.

“A intenção é que o projeto seja contínuo. Por isso, vamos buscar outros patrocinadores e o intuito é que a JTI continue também por mais tempo. Queremos que a iniciativa se torne permanente para que o aluno que iniciou o projeto conosco possa ver a evolução da árvore que ele plantou, da horta e da agrofloresta que implantamos e da recuperação das áreas de preservação que vamos fazer”, destaca.

Visitas

As visitas dos alunos ao Recanto do Itacolomy iniciaram nesta semana, quando Jerry e Daiane, junto da professora de Ciências e instrutora que trabalha no local, Aline Gerhardt, receberam, na quinta-feira, 11, 18 estudantes das turmas do 6º e 8º anos da Emef José de Anchieta, que também está localizada em Potreiro Grande. A previsão do casal era ter iniciado esses encontros antes, mas em função dos dias de chuva as atividades precisaram ser adiadas.

Os alunos estavam acompanhados dos professores de Ciências, Diego Joel Bandeira, e de Língua Portuguesa, Vanderlei Cardoso, além da estagiária do curso de Pedagogia, Keli Fernanda Silveira Lopes. Durante a manhã, o grupo aprendeu sobre as Áreas de Preservação Permanentes (APPs) a partir de informações sobre a legislação vigente e sobre o que são agroflorestas.

À tarde, eles colocaram a ‘mão na massa’ e vivenciaram na prática aquilo que aprenderam na teoria pela manhã. Isso foi possível através do plantio de nove mudas de árvores nativas nas proximidades de uma nascente existente no parque e de mudas de bananeiras, pitangas, cerejeiras e guabijús na agrofloresta que começou a ser implementada no recanto.

A proposta do projeto é justamente que os estudantes possam auxiliar a construir esses espaços, que ficarão no parque para que eles possam acompanhar e todos os visitantes possam conhecer. Outro objetivo, de acordo com Daiane, é valorizar os agricultores e mostrar a eles a importância da agricultura e do que os pais deles produzem.

“Buscamos uma maior valorização da agricultura e uma sucessão, porque o jovem precisa ser capaz de enxergar o quanto a agricultura é valiosa e que ela é a base da nossa sociedade hoje. É o que eu falo para eles quando realizamos os encontros e as palestras”, salienta. A agricultora e bióloga ainda ressalta que essa iniciativa é a realização de um sonho. “É muito importante trabalharmos a educação ambiental com jovens e crianças da cidade mas, no momento que vivemos, é crucial trabalhar isso com os jovens e as crianças do campo. A sensação é de realização, porque esse projeto foi pensado durante muito tempo.”

Durante um ano os alunos terão a oportunidade de trabalhar com a bioconstrução, plantio de árvores nativas, de hortaliças, chás e culturas para adubação verde, além, claro, das plantas para a agrofloresta.

“O que a gente faz para natureza, na verdade, estamos fazendo por nós mesmos. Não precisamos salvar a natureza. Na verdade, temos que manter e preservar ela para que tenhamos condições de viver.”

DAIANE HAAS
Sócia-proprietária do Recanto do Itacolomy, agricultura e bióloga

106
é o número de estudantes que serão beneficiados com o projeto neste primeiro momento.

Conhecimento que transforma

Entre os estudantes que participaram do primeiro dia de visitação no Recanto do Itacolomy estão Deivid de Oliveira Sassen, 14 anos, e Kamily Borges dos Santos, 13 anos, ambos estudantes do 8º ano. Para os dois, a visita, com a escola, no parque foi um momento para adquirir conhecimento.

“Algumas coisas eu já sabia, mas aprendi muita informação nova. Acho que é muito importante a gente preservar o meio ambiente ao nosso redor, porque talvez nas próximas gerações não exista isso”, salienta Deivid. O adolescente ainda observa que pretende aplicar tudo que aprendeu em casa. “Vou conversar com a minha família a respeito, mas uma coisa que gostaria de fazer é o plantio de mais árvores, principalmente de espécies frutíferas”, relata.

Para Kamily, a experiência também foi muito boa. “Acho que é muito importante esse incentivo, porque essa é uma tradição que vai se perder daqui alguns anos e não podemos deixar isso acontecer. Nas próximas gerações as pessoas não vão conhecer certas coisas da natureza e acho isso muito grave”, comenta. Com o auxílio dos pais a estudante já plantou algumas mudas em casa, recebidas durante a visita de Daiane na escola, e pretende cultivar mais.

Deivid, professor Diego e Kamily destacam a importância de participarem da iniciativa. (Foto: Roni Müller)

“Conheci várias espécies de árvores que não sabia que eram nativas do Brasil. Conheço bastante, porque eu sou do interior, mas foi uma experiência legal. São acréscimos de conhecimento. Meio ambiente é um assunto bem importante para se discutir”, acrescenta.

Dia produtivo

O professor de Ciências da Emef José de Anchieta, Diego Joel Bandeira, salienta que o dia da visita foi muito produtivo. “Foi uma oportunidade diferente para eles terem contato com a natureza. Muitos deles mesmo morando no interior não têm essa proximidade, não vêm a importância de preservar e de cuidar do entorno onde eles moram”, avalia.

Entre as atividades realizadas pelos alunos, o educador destaca a agrofloresta e o trabalho de recuperação de nascentes. “Vários alunos moram em regiões próximas aqui onde há nascentes e eles podem levar esse conhecimento adiante. Esse é o objetivo do projeto, que eles levem esse conhecimento para casa, para as famílias para mostrar que é possível e que eles podem preservar onde moram”, observa.

O que é uma agrofloresta

• A agrofloresta é constituída de um conjunto de técnicas que reúne agricultura e preservação ou recuperação da natureza. É uma alternativa para o agricultor ter uma renda, por meio da venda dos alimentos produzidos no local, e para ele cuidar do meio ambiente e até mesmo promover a recuperação do solo.