Natural de Santa Cruz do Sul, mas morador de Venâncio Aires desde os seis anos, Rafael Frederico Henn se considera um venâncio-airense. Foi na cidade que completou sua educação básica e conquistou o primeiro emprego – na Folha do Mate, empresa pela qual destaca sentir muito carinho.
Formado em Engenharia Mecânica pela Unisinos, localizada em São Leopoldo, morou na região metropolitana de Porto Alegre durante 15 anos, boa parte destes trabalhando em uma empresa do segmento de autofalantes, onde desenvolveu sua carreira, iniciando como estagiário, e chegando ao cargo de gerente industrial. Já casado com Luciane Mahle, mudou sua trajetória profissional quando a esposa foi aprovada em um concurso da Justiça Federal e passou a atuar em Lajeado. Depois de um ano de idas e vindas, o casal decidiu mudar-se novamente para a região natal.
Em paralelo a isso, Rafael já possuía a intenção de dedicar-se à carreira acadêmica, dando continuidade à sua formação por meio de uma especialização e também um mestrado. Um ano depois da mudança, em 2005, passou a trabalhar na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), onde atua até hoje. Nestes doze anos, concluiu também uma graduação em Administração, departamento no qual é professor, e no qual foi também coordenador de curso.
Hoje, além da docência, Rafael é coordenador de orçamento e finanças da universidade, ligado a pró-reitoria de Administração. Além disso, dedica-se ao blog equilibrioenegocios.com.br, o qual possui desdobramentos também para uma página no Facebook e canal do YouTube. “Nestas plataformas falo, através de vídeos e textos, sobre gestão de empresas e pessoas. O trabalho está bem legal, e a ideia é levar para fora da sala de aula temas sobre gestão”, explica.
FOLHA DO MATE – Quais são os desafios da docência, hoje, no Ensino Superior?
RAFAEL HENN – Nos últimos cinco anos o aluno mudou muito. Se eu der hoje a aula que eu dava há cinco anos, não consigo terminá-la, pois os estudantes ficam o tempo inteiro no smartphone, no computador, no tablet. Mas eles não estão errados, nós é que precisamos nos adaptar a esse novo perfil que está chegando. O professor que dava apenas aula expositiva está fadado a sumir. Acredito que a própria sala de aula irá sumir. Nós estamos estudando muito isso na Unisc, sobre salas de aulas inteligentes, a remodelação de projetos pedagógicos sem disciplinas, enfim, uma adaptação a esse novo perfil.
Você é coordenador de orçamento e finanças da Unisc. Quais são os desafios para universidades comunitárias no atual cenário econômico e político?
RAFAEL – O ano passado, especialmente, foi muito difícil, porque a Unisc, como universidade comunitária, tem como estratégia atender a políticas públicas como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Então, aproximadamente 50% da receita da universidade vinha desse financiamento. De 2010 a 2014, o Fies teve um crescimento gigantesco, e foi quando a universidade saltou de 8 mil alunos para 12 mil alunos apenas na graduação.
Em 2014, no entanto, o governo mudou as regras do Fies e dificultou o acesso, tanto é que, no primeiro semestre de 2015, a universidade não ofertou o financimento, porque desconhecia as novas regras. Em 2016, voltamos a ofertar, mas se antes o acesso era ilimitado, entrando por ano cerca de 1,2 mil a 1,4 mil alunos, no ano passado, entraram somente 83. E 2016 teve ainda uma outra particularidade: quando houve a troca do governo federal, que desejava primeiro se situar sobre a situação, o repasse que era mensal, no segundo semestre, começou a ser enviado apenas em novembro. Isso significava para a universidade aproximadamente R$ 35 milhões atrasados, então foi um desafio muito grande.
é difícil neste sentido porque a instituição faz um planejamento, e por ser comunitária em sua essência, leva em consideração as políticas públicas. Mas se a política pública não se realiza, o planejamento que é feito hoje, talvez no mês seguinte, já não se confirme. Por isso, como estratégia, nós estamos diminuindo o percentual do Fies até chegar em cerca de 25% da receita, e estamos aumentando a oferta de outros financiamentos, como o próprio CrediUnisc.
Qual é a importância de termos uma universidade comunitária na cidade, com o campus da Unisc em Venâncio Aires, e também na região, abrangendo o campus de Santa Cruz do Sul?
RAFAEL – Como o próprio nome diz, é a inserção comunitária. Há três eixos principais que a universidade se preocupa: ensino, pesquisa e extensão. E nós temos uma preocupação, especialmente nos últimos anos, para que a universidade seja reconhecida e esteja mais perto da comunidade. Por exemplo: temos um parque tecnológico com equipamentos de ponta, e a intenção é que as pesquisas realizadas nele estejam mais alinhadas com a sociedade. Além disso, todos os recursos que a universidade recebe, depois que ela paga seus custos operacionais, ela aplica na própria sociedade, em projetos de extensão, pesquisa e no ensino.