Para a maquiadora Tamires de Menezes, 23 anos, Natal representa família e união. O motivo é que, após ser adotada aos 30 dias de vida, a guarda definitiva saiu em 24 de dezembro, tornando a data inesquecível para a família. 

Ilse Maria de Menezes, 64 anos, era mãe de três filhos biológicos, Nionice, Ivan e Celso, e conhecida na comunidade por cuidar de crianças. Por conta disso, com apenas um mês, Tamires foi deixada em sua casa. Porém, após três meses, ninguém apareceu para visitar a criança, e com isso, Ilse junto de sua filha mais velha, a professora Nionice de Souza, 45 anos, resolveu adotar a garotinha. 

Foto: Rosana Wessling / Folha do MateTamires com a mãe Ilse e a irmã Nionice: amor e união
Tamires com a mãe Ilse e a irmã Nionice: amor e união

“Não pegamos a guarda, fomos na confiança, achamos que não precisávamos nos preocupar com isso, afinal, cuidávamos dela, mesmo com poucas condições mas com muito amor”, destaca dona Ilse.

Segundo a irmã de Tamires, inicialmente, elas eram as babás da garota, mas o amor foi crescendo e ela se tornou integrante da família. “No início, a gente recebia para cuidar dela, mas depois dos três meses, ninguém apareceu e o amor foi crescendo, a gente foi inserindo ela na família”, comentaNionice.

Dona Ilse lembra que, junto dos filhos, lutou para dar o melhor para Tamires. “Somos uma família bem simples, humilde, mas fazíamos de tudo pra nossa bebezinha. No primeiro aninho nós trabalhamos muito para fazer uma festinha bem bonita”, conta a mãe. 

Com um 1 ano e 8 meses, entretanto, a menina foi levada para a família biológica, em Cruz Alta. “Eu sofri muito, chorava muito, afinal, tinham tirado algo de mim, faltava um pedaço”, comenta Ilse. Quatro meses depois, Ilse e Nionice conseguiram a guarda provisória de Tamires. “Lutamos muito por ela. Não tínhamos dinheiro para pagar advogado, financiamos tudo. Quando o promotor disse ‘essa criança vai ser de vocês, mas não sei quando isso vai acontecer’, minhas esperanças voltaram”, conta Ilse, emocionada.

Foto: Rosana Wessling / Folha do MateTamires retribui o carinho recebido, por meio dos cuidados com a mãe
Tamires retribui o carinho recebido, por meio dos cuidados com a mãe

Ela lembra dos detalhes do reencontro, quando embarcou na rodoviária de Lajeado, no ônibus da empresa Ouro e Prata, e foi junto da madrinha de Tamires, Goreti, buscá-la com guarda provisória. Na época, a menina tinha 2 anos e 1 mês. “Quando ela me viu, saiu do colo do policial e se agarrouno meu pescoço, e dizia ‘minha mãezinha’. Esse dia nunca vou me esquecer, me emociono até hoje.” 

A irmã Nionice não acreditava que esse reencontro poderia acontecer. “Como a Justiça ia dar a guarda para uma mulher sozinha, divorciada, com três filhos, uma casa simples, humilde? não acreditava que iríamos ganhar a guarda.” Quando a guarda provisória foi confirmada, o salário que recebia era investido em bonecas para Tamires. “O Conselho Tutelar viu que, independentemente das condições financeiras, nossa família tinha amor por ela, e íamos cuidar bem dela. Não tem dinheiro que pague o amor.”

Presente de Natal

Depois que Tamires retornou a Venâncio Aires, por meio de guarda provisória, foram 7 anos de espera e luta, até a conquista da guarda definitiva pela família, na véspera do Natal de 2003. No dia 24 de dezembro, Ilse recebeu o maior presente da vida.

O Natal é uma data muito comemorada pela nossa família, somos muito religiosos e aquele documento foi um presente de Deus. A Tamires foi o nosso pacotinho de Natal.”

ILSE MARIA DE MENEZES

Mãe de Tamires

Tamires lembra que desde pequena, ela e Rodrigo, filho da irmã Nionice, iam dias antes do Natal ao mercado, compravam alimentos e faziam uma sacola com os brinquedos que não eram mais utilizados, para doar a crianças e famílias da vizinhança. “Sempre ajudamos o próximo. Minha família me ensinou que precisamos ser humildes, ajudar o próximo e ter amor e fé.”

Retribuição de carinho

Há três meses, Ilse sofreu um AVC, e com isso, teve sua rotina afetada. “Hoje eu retribuo à minha mãe todo o carinho que ela me deu. Considero ela uma mulher muito guerreira. Ela é divorciada, na época já tinha três filhos e ainda me adotou, nunca deixando faltar nada. Sou grata aos meus irmãos que me aceitaram e ao meu cunhado que me adotou como ‘filha'”, destaca Tamires.