Uma, duas, três denúncias e o retorno da vítima ao agressor, fato comum nos casos da lei Maria da Penha. Conforme as psicólogas Márcia e Aneline, da PPAM, muitas mulheres acabam voltando ao antigo relacionamento e sendo submissas por causa do medo. Elas vivem no ciclo de violência, esperança e medo.
Aneline explica que na maioria dos casos, a agressão pelo homem acontece, ele pede desculpas, a mulher parte para as ‘chances’ na esperança de que não vai mais acontecer ou ele vai mudar. “Se não for questão de personalidade, pode ser que não aconteça mais, mas se há esta predisposição, a tendência é que vai acontecer de novo e com episódios cada vez mais graves. O medo parte das ameças de que o companheiro vai tirar-lhe os filhos, a casa, morte e outras que fragilizam a mulher e fazem com que voltem para o relacionamento. Afinal, a palavra do homem tem mais poder e está certa, considerando para a mulher a forma naturalizada de enxergar a figura masculina”.
A agressão ocorre, em muitos casos, depois da separação do casal. Mesmo tendo outra parceira o homem se desestabiliza quando percebe que a ex-companheira refez a sua vida. Até mesmo quem já tem outra pessoa, mas percebe que a ex-mulher está com novo companheiro faz com que ele se desorganize internamente e a importune, ameace e agreda. “ Os homens que não têm predisposição à violência, buscam ajuda profissional para tentar organizar e se reorganizar nestas situações. Um processo de separação causa instabilidade, sofrimento, diferentemente de quem está num círculo de ameaças que partem para agressão e violência”.
QUEM AGRIDE UMA, AGRIDE DUAS“A tendência de quem agride é agredir”, afirma a psicóloga Márcia. Ela explica que o homem que agride a ex companheira, tem a tendência de manter a mesma postura diante de frustrações ou desentendimentos com a nova companheira. “A pessoa do lado da gente se mostra no dia a dia das mais variadas formas. É bom se atentar de como o companheiro lida com as questões e observar quem está do seu lado”.
Aneline ressalta que, por outro lado, o relacionamento entre homem e mulher é uma dança. “O outro age de acordo com o que eu permito, uma nova agressão vai depender de quanto a outra pessoa tem estes limites claros no relacionamento. Porque ninguém acorda batendo, as pessoas vão deixando sinais de que se precisa sair fora deste relacionamento”.
CONSEQUÊNCIAAgressão e morte contra a mulher pela sua condição de ser do sexo feminino é crime tanto as formas de violência física, doméstica ou psicológicas, como calúnia, difamação ou injúria contra a honra ou a reputação da mulher. Pena de 12 a 30 anos de reclusão e, inclusive com possibilidades de não recebimento de pensão.
A Advocacia Geral da União (AGU) pediu na Justiça que os benefícios previdenciários pagos a homens autores de agressões contra companheiras sejam suspensos. Ao considerar a informação, a advogada Ana Amélia Rabuske, da Doríbio Grunevald Advogados, explica que essa é uma interpretação dos tribunais e que a decisão é possível, mas vai depender da interpretação de cada juiz.
“O termômetro para uma relação tóxica é simples: basta saber se está bom para os dois. Relacionamento precisa somar, um não pode diminuir o outro”.MÁRCIA PREUSSPsicóloga da PPAM
SAIBA MAIS
QUINTO DO MUNDOO Brasil é o 5º país no mundo em morte violentas de mulheres, enquadradas na lei do feminicídio, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e o Alto Comissariado das Nações Unidas de Direitos Humanos (Acnudh). Para cada 100 mil, 4,5 mil são mortas. O país só perde em número de casos de assassinato de mulheres para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.
EM CASO DE AGRESSÃO: 180 1) Fone 180 é a Central de Atendimento à Mulher 2) Canal de denúncia de violência 24 horas por dia 3) Ligação é gratuita e confidencial 4) Dissemina informações sobre direitos da mulher