O câncer não escolhe idade, nome, cor da pele, nem classe social. A doença não escolhe entre o rico e o pobre, o feio e o bonito. O câncer causa sofrimento, machuca e dói. Contudo, dói não apenas em quem o tem, mas sim, naquele ser humano que vê uma pessoa querida passar por esse momento difícil. Nesta Semana Municipal de Combate ao Câncer, a reportagem conta a história da auxiliar de costureira Aline Alessandra Ribeiro dos Santos, 25 anos, que descobriu o câncer na clavícula e traqueia, há cerca de um ano.
Para conhecer um pouco mais sobre ela, fui até o bairro Coronel Brito, onde mora com o marido Everson e a filha Ana Carolina, de 4 anos. Logo quando cheguei no portão, fui chamada para entrar. Arrumei minhas coisas, peguei minha caneta, caderno e gravador e começamos a conversar.
Não demorei muito para perceber que Aline é comunicativa e respondia às perguntas sem hesitar. Aline demorou em torno de um ano para procurar os médicos, estes que demoraram cerca de três anos para identificar a doença. A descoberta foi por acaso. Com muita dor no braço, resolveu procurar um médico que relacionou a dor como consequência do esforço repetitivo em função da profissão.
Além do braço dolorido, a jovem também tinha feridas na pele, febre alta e cansaço ao longo do dia. As feridas se localizavam principalmente no pescoço, e como os cabelos eram oleosos, precisou cortá-los para evitar as coceiras ao redor do rosto e feridas na pele. “Os médicos disseram que assim que eu sarasse o meu pescoço, iria sarar o meu braço. Por fim, no meu braço eu tinha trombose e no meu pescoço era outra coisa”, comenta. Mal Aline sabia que os sintomas estavam relacionados ao câncer. A dor no braço era em virtude da coluna torta.
Resultado e dificuldadesCom água nos olhos, ela relembra quando o médico deu o resultado da doença. Após a descoberta, os tratamentos para a coluna foram constantes. Para se ter uma ideia, até o momento, chegou a fazer 15 sessões de quimioterapia. Desde então, necessita fazer cerca de dois exames de sangue por semana.
A Aline comunicativa e dona de uma voz doce, passou, a partir daquele momento, a ter uma vida diferente da que estava acostumada. Com uma filha pequena, ela conta que é difícil encontrar forças para passar por tudo. Chegou a ter depressão e não tinha mais vontade de viver. No entanto, com o apoio da família e vizinhos, percebeu que de fato a vida vale a pena. “Os médicos dizem que eu tenho chance de me curar, mas não sei quando vou parar de fazer os tratamentos”, explica.
Devido às quimioterapias, não pode pegar sol e tem a imunidade baixa. Também por este motivo, não pode nem pensar em chegar perto de quem está com algum resfriado. Os remédios e soro também fizeram Aline engordar dez quilos. Além do mais, necessita cuidar da alimentação e ela inclui, principalmente, a ingestão de verduras e de leite, bebida que tem papel importante na manutenção da saúde dos ossos. “Tem coisas que quando podemos fazer, não damos bola. Mas agora eu não posso ficar no sol, não posso caminhar longe e tem muitas coisas que eu não posso comer. Eu não sei se vou precisar de transplante ou não”, comenta.
APRENDIZADOAtenta a tudo o que ela falava, percebi que era impossível Aline conter a emoção depois de tudo o que viveu e ainda vive. Embora a doença prejudique não apenas a saúde, mas também a autoestima, ela conta que aprendeu durante todo esse tempo. “Eu acho que tu tem que dar valor ao que tu tem. Tu não dá valor quando está bem, quando pode ir no sol, pode comer, passear e ficar perto das pessoas”, comenta. Além disso, acrescenta: “Tem pessoas que reclamam quando têm que ir trabalhar. Eu faria de tudo para voltar a trabalhar.” Um dos ensinamentos que a doença lhe trouxe, foi a importância do diagnóstico precoce. Se caso Aline tivesse ido ao médico o quanto antes, talvez não sofreria tanto com as dores.
No braço, Aline possui um catéter e, devido a ele, não consegue fazer muito esforço, tampouco pegar a pequena Ana Carolina no colo. Hoje, a vida que tem é resumida em exames rotineiros e idas e vindas de casa ao posto de saúde. Enquanto o marido trabalha e a pequena Ana Carolina está na escola, Aline também dedica-se aos afazeres de casa. Os momentos, para ela, são difíceis, mas cada dia vivido ao lado de quem ama é uma vitória.
Quando perguntei a ela como a Aline que conheci naquele momento se sentia em meio a tudo o que passa, ela conta que embora o físico esteja bem, pelo fato de muita coisa não ser como antes, às vezes o sentimento de tristeza toma conta. Contudo, além da fé que possui, é a pequena Ana que dá um colorido especial no dia a dia dela: “Ela cuida de mim. De manhã ela quer pentear o meu cabelo, mesmo eu tendo pouco.”
EMOçãOAline relembra o tempo em que tinha os cabelos compridos. Ela conta que a reação da filha após ver a mãe sem cabelo, a comoveu muito. “Ela sente falta do meu cabelo, porque ele era bem comprido. Eu fui cortando as poucos para ela não achar estranho quando eu chegasse em casa de cabelo curto. Ela disse que não queria mais ser minha amiga, porque eu tinha cortado o cabelo”, comenta.
Aline é uma das milhares de pessoas que têm câncer no mundo. é mais uma dessas pessoas que luta contra a doença e vibra com cada melhora e cada dia vivido. Aline não precisa de muito para ser feliz. Ela quer saúde e deseja poder voltar a trabalhar, pegar a filha no colo e sair para passear.
Ela sente falta da luz do sol sobre a pele, das caminhadas do dia a dia. Aline é mais uma das milhares de pessoas vítimas, todos os anos, da doença que não escolhe idade, cor de pele, nem classe social.
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