Foto: Cristiano Wildner / Folha do MateNa Escola Alfredo Scherer um dos trabalhos foi a confecção de máscaras africanas, que tradicionalmente são em madeira
Na Escola Alfredo Scherer um dos trabalhos foi a confecção de máscaras africanas, que tradicionalmente são em madeira

Hoje é lembrado em todo o país o dia da Consciência Negra, quando é feriado em mais de 800 cidades do Brasil. A data remete ao ano de 1695, pois faz referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, importante personagem na história brasileira e que foi símbolo de luta e resistência contra a escravidão no Brasil.

Mesmo após mais de 300 anos da morte de Zumbi e no ano em que se completa 130 anos da Lei Áurea, a falta de representatividade, discriminação, preconceito e desigualdade ainda estão presentes em nossa sociedade, refletem especialistas. Contudo, dentre todas as falas, um consenso: a lei 10.639 de 2003 é uma conquista. Ela tornou obrigatória a abordagem da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino básico em todas as escolas do país.

A coordenadora pedagógica do Município, Alice Theis, lembra que a inserção do tema no rol dos conteúdos escolares ocorreu com a finalidade de difundir, de modo efetivo, o debate a respeito da diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira com vistas ao fim do preconceito.

Embora pesquisa encomendada pelo próprio Ministério da Educação tenha constatado que em muitas cidades a lei ainda não está completamente implementada, em Venâncio Aires, diz Alice, seminários e ações nas escolas da rede municipal ocorrem o ano todo. “A ênfase é dada em novembro, mas durante todo o esse tema é trabalhado de forma transversal nas escolas. Estamos totalmente de acordo com a lei”, cita Alice.

15 ANOS DA LEI AFRO

O professor e doutor em História, Mateus Dalmás, cita que a partir da sua aplicação, 15 anos depois, já é possível perceber avanços significativos no ensino básico regional e nacional. A partir de sua implementação, editoras precisaram mudar a abordagem do tema, e houve um aumento de escritores, o que garantiu uma nova abordagem didática.

O professor, que atua na Univates, avalia que a lei também produziu um comportamento significativo além dos muros escolares. Atualmente, diz ele, é possível perceber uma valorização muito maior das culturas negras, indígenas e portuguesas, fato que até pouco tempo estava restrito à cultura germânica e italiana.

Ele cita ainda que a educação das relações raciais tem o potencial de qualificar a educação brasileira. Segundo ele, não se trata de apenas de cumprir uma normativa: ensinar história e cultura africana e afro-brasileira é situar o continente Africano na escala mundial. “As novas diretrizes curriculares ressaltam, em sala de aula, a cultura afro-brasileira como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os negros são considerados sujeitos históricos”, destaca.

ESCOLA ALFREDO SCHERER

Um das instituições da rede municipal que desenvolveu, ontem, atividades voltadas ao dia da Consciência Negra foi a escola Alfredo Scherer, que fica no Loteamento Eisermann. Pela manhã, alunos dos anos finais do ensino fundamental promoveram um seminário. Foram apresentadas pesquisas sobre o continente africano pela turma do 8º Ano. O material ficou em exposição, durante à tarde, também para os demais estudantes.

ONG Alfhorria e Associação Négo são exemplos de valorização da cultura negra em Venâncio

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do MateNa Emei Algayer, do bairro Coronel Brito, é desenvolvido o projeto “Somos todos coloridos”
Na Emei Algayer, do bairro Coronel Brito, é desenvolvido o projeto “Somos todos coloridos”

Duas entidades em Venâncio Aires realizam um trabalho exemplar para a região no combate às desigualdades raciais, focado em ações educativas, associativas e artístico-culturais. Trata-se da Organização Não Governamental (ONG) Alphorria, com sede na rua Cláudio Reckziegel, bairro Aviação, e Associação Négo, instalada no bairro Cidade Alta. Organizações que, acima de tudo, garantem um trabalho voltado à valorização da cultura negra e inclusão social.

ALFHORRIA

A entidade surgiu em outubro de 2011 e desenvolve atividades como oficinas de capoeira, canto, dança, artesanato, culinária, apresentação de documentários, seminários, entre outras. Um dos projetos permanentes é intitulado “Somos todos coloridos” e é desenvolvido atualmente na Escola Municipal de Educação Infantil Aloysius Paulino Algayer, do bairro Coronel Brito. Em um dos trabalhos fixados no hall de entrada da escola consta a frase: “Não importa se suas mãos são amarelas, pretas, azuis ou brancas: importa que elas façam o bem e pratique a paz”. O cartaz foi produzido com a marca das palmas da mão das crianças que lá estudam.

Hoje a ONG Alphorria realiza em sua sede, das 8h30min às 11h30min, o Alphorria Black Day. O evento será marcado por uma ação voltada a coordenadores e supervisores de escolas municipais e estaduais. Na oportunidade, a historiadora e mestre em Educação Camila da Rosa abordará o tema “O papel da educação na construção das relações étnico-raciais”.

ASSOCIÇÃO NÉGO

Uma das entidades afrodescendentes mais tradicionais do Rio Grande do Sul chegou neste ano aos 83 anos de fundação. A Sociedade Négo Foot Ball Club São Sebastião Mártir é, hoje, um símbolo de solidariedade e um marco na integração entre diferentes etnias. Registros históricos dão conta de que a ideia, em 1935, era criar um clube para servir de espaço de lazer e entretenimento, mas também de valorização da cultura negra. Oficinas, eventos sociais e culturais são algumas das ações da entidade.

Com o objetivo de realizar um trabalho com jovens envolvendo música e a dança surgiu a Escola de Samba Crescer, projeto liderado pelo Négo e pela Escola Crescer, do bairro Coronel Brito. A miniescola de samba tem o apoio de voluntários da própria entidade que ministram sobre as funções e atividades de um grupo carnavalesco. Além disso, outro projeto da atual diretoria é fortalecer a biblioteca interna com historiografia negra local e regional.