“Vamos Amália, venha te arrumar, tu precisa ficar pronta para o teu aniversário.” Era essa a frase que saía de dentro da casa da senhora de um século de vida: Amália Frantz. Era quase 9h, a conversa era em alemão, e a resposta veio logo em seguida, mas de longe: “Já vou, antes de sair, preciso fazer o meu serviço e tratar os animais.” A mulher trabalhadora nunca casou, nunca teve filhos, mas a vitalidade é tanta, que faz questão de trabalhar todos os dias com as lides do campo.
A história da Amália, uma senhora moradora de Linha Andrade Neves que todos os dias levanta cedo, caminha alguns quilômetros com um balaio de cerca de 15 quilos nas costas, cheio de alimentos para os animais, foi capa da Folha do Mate no ano passado, em 10 de dezembro. Na época, com 99 anos, ela não abria mão do serviço, do chimarrão e dos animais. A mulher de poucas palavras, mas com muita experiência de vida, vive com o sobrinho Ari Frantz e a cunhada Helfrida Frantz e ficou conhecida por muitos pela força de vontade e exemplo.
Passados oito meses, a reportagem da Folha pôde acompanhar neste domingo de perto o aniversário de 100 anos da senhora dos cabelos brancos, das rugas no rosto e das mãos com calos decorrentes do trabalho diário. Adivinha? Ela continua do mesmo jeitinho, com a mesma vitalidade e força de vontade.
Quando recebeu a reportagem no ano passado, na própria casa, Amália falou em alemão: “Se eu chegar aos 100 anos, vou fazer uma grande festa no ano que vem.” Foi assim que ocorreu. O aniversário é hoje, mas a festa com os amigos, família e admiradores foi celebrada no domingo. O pavilhão estava cheio de gente e em meio a tantas pessoas, Amália, embora séria na maioria das vezes, uma característica pessoal dela, não deixava de esboçar de vez em quando um sorriso de felicidade. O dia era só dela, e ela sabia.
CARACTERíSTICAA velha senhora não é muito de usar roupas ‘chiques’, arrumar o cabelo ou passar maquiagem. Prefere o simples, pois acredita ser isso que a identifica. Na ocasião, com os cabelos penteados para trás, usava um vestido mais longo, no tom azul, sandálias pretas e uma meia calça. O suficiente para a festa dela.
No painel de fotos, estava o bolo branco com algumas florzinhas nas cores rosa e roxa. Ao lado, algo que a carateriza e identifica Amália: um balaio e, dentro dele, alfafa, couve, um facão e uma foice. Elementos estes que, para a família, significam trabalho, algo que a senhora nunca abandonou durante este um século de vida.
ORGULHORomeu Christmann, 53 anos, casado com a sobrinha de Amália, Neli, orgulhoso ao poder ter na família alguém com tanta disposição, comenta: “Ela adora trabalhar, acorda cedo para isso e se a gente não pedir para ela parar, ela não para. A Amália faz questão de lavar as próprias roupas à mão para não estragarem na máquina, e nos ensina muita coisa relacionada ao passado.” Segundo Romeu, ela gosta mesmo é de trabalhar na roça e cuidar dos animais, mas também ajuda nas tarefas de casa: lava a louça e seca.
Para tirar as fotos com os cerca de 200 convidados, fazia questão de ficar em pé sempre. Bem humorada, colocou um pano na cabeça e fez pose. Pegou uma cuia de chimarrão e tomou um bom mate, costume que faz parte do dia a dia dela. Não abriu mão de levantar o balaio velho localizado no seu lado esquerdo. Com ele nas costas, ela pousou de novo para a foto. Olhou firme para a câmera com um olhar feliz, de quem agradece mais uma vez por mais um ano de vida. Um olhar que não precisava dizer mais nada, apenas estava ali, cheio e repleto de vitalidade.