
Um amor pelo carnaval que vem desde pequena e um dom de sambar. Essa é Débora Cristina da Silva, a jovem de 27 anos que recebeu no dia 14 deste mês a coroa de Rainha do Carnaval de Venâncio Aires. Atualmente, Débora reside no centro da cidade, mas há muitos anos, tem uma ligação grande com a Vila Freese, local pelo qual cultiva um carinho enorme, cultivado pelo seu envolvimento com o Carnaval.
O início da sua trajetória aconteceu na Acadêmicos do Samba Négo, pelo incentivo dos seus pais, Sergio e Teresa da Silva, que já eram envolvidos com o Carnaval. Hoje, Débora relata que seus dois irmãos Jonathan e Haissa – de quem recebeu a coroa de rainha neste ano – também estão envolvidos com a PROGRAMAÇÃO do Carnaval e, além deles, outros integrantes da família compõe a bateria da Unidos da Vila Freese – escola pela qual Débora desfilou para concorrer o título.
FOLHA DO MATE – Você participa do Carnaval desde a infância. Como surgiu esse envolvimento?
DéBORA CRISTINA DA SILVA – Meu pai e minha mãe eram envolvidos. Minha mãe era sambista e meu pai de escola samba também. Com cinco anos de idade eles me apresentaram a Acadêmicos do Samba Négo. Aí eu fui lá e me apaixone pelo Carnaval. Ali eu fiquei até os 10 anos e depois eu me afastei do Carnaval durante seis anos. Com 18 anos eu voltei e fui competir para ser Rainha de Bateria da Impérios do Samba, sendo rainha dois anos lá. Depois eu fui convidada para ser Rainha de Bateria na Unidos da Vila Freese e fiquei lá até ser rainha do Carnaval.
Teus pais sempre te apoiaram a participar do Carnaval? E qual a importância desse apoio para ti?
Meus pais sempre me apoiaram, mas no momento certo. Quando eu era mais nova eu queria entrar em concursos, mas eles achavam que eu ainda não estava preparada. Eles tem visão do que tu pode e o que tu não pode fazer. Eles vão nos lugares, se dedicam, correm atrás e dão apoio. E eu também levo muita gente da minha família para a escola de samba. Eu acredito que tudo que é feito em harmonia, em família, te faz se sentir melhor. Eu não teria tanto amor pelo Carnaval se não tivesse tido o incentivo deles.
O que significa o Carnaval para você?
Nossa […] O carnaval para mim significa tudo. Eu nasci e cresci ali. Eu tive no Carnaval experiências únicas desde criança. Eu abro mão de muita coisa pelo Carnaval e não me importo por isso. Eu sou feliz com ele. Acredito que eu fui escolhida para sambar. Eu amo fazer isso e eu sei fazer isso.

Em Venâncio e também em outras cidades, as escolas de samba nasceram em bairros. Qual a importância da comunidade e dos moradores para o trabalho das escolas de samba, na tua opinião?
A princípio, eu sempre deixei muito claro que o Carnaval de Venâncio ou de qualquer outra cidade não deveria depender do dinheiro de verba financeira de Prefeitura. Eu acredito que todas as escolas deveriam trabalhar em prol do Carnaval. Os moradores e a comunidade são importantes, principalmente, em aspectos voltados a união, trabalho voluntário, em organizar eventos que arrecadem valores para auxiliar as escolas de samba.
Você participa há anos da escola Unidos da Vila Freese. Qual a tua participação na escola?
Eu entrei na escola com 23 anos e desde então eu sou Rainha de Bateria deles. Eu participo em todos os eventos que eles fazem, chamo público para prestigiar. Eu frito e vendo pastel, por exemplo. Quando eles precisam de mim, eu estou sempre na quadra. E eu também ensaiava as meninas da escola que iam concorrer à corte do Carnaval de Venâncio. Mas minha participação lá é igual a de todos os outros. Todo mundo ajuda no geral.
O que representou receber o título de rainha do Carnaval da sua irmã mais nova?
Era meu sonho ganhar o título de rainha da corte, mas eu batalhei muito pelo fato de ela passar a coroa para mim. Na hora que eles anunciaram meu nome eu olhei direto para ela e ela estava chorando. A primeira coisa que eu fiz foi acalmar ela. Foi a melhor coisa do mundo receber a coroa dela. é uma sensação inexplicável.
Na sua opinião, o que é mais difícil na organização de um Carnaval de Rua?
A verba atrapalha muito isso. Então se todas as escolas trabalhassem em prol da sua escola não teria esse problema. Mas eu acredito que o pior de tudo na grande rua são os carros de som, que atrapalham muito as escolas de samba. Isso porque o som alto faz com que nós não consigamos escutar a bateria, a voz dos puxadores. Atrapalha totalmente o Carnaval de rua. Não que eu seja contra, eu gosto, mas na hora do desfile atrapalha. E outra coisa que eu percebi que aconteceu ano passado foi que a última escola desceu e o povo já invadiu toda a rua. Acho que teria que controlar um pouco mais isso. Dar um tempinho para a escola se organizar.
O que tem de melhor em seu bairro?
Eu vou falar da Vila Freese, que a princípio agora é minha segunda família. Quando tu entrar lá as pessoas vão te respeitar, elas vão te tratar muito bem. é um povo amigável, que te respeita. Tu pode descer e subir a hora que tu quiser nesse bairro. Todo mundo é família e muito unido. Só tenho a agradecer por ter me convidado para participar da escola lá. E o que poderia melhorar?
Acho que eles poderiam dar mais valor para esse bairro, cuidar mais das estradas e ter uma pracinha para as crianças brincarem lá dentro do bairro mesmo, não só a que tem junto ao posto de saúde.

