Romeu Schneider
Presidente da Câmara Setorial e vice-presidente da Afubra, Romeu Schneider (Foto: Letícia Wacholz)

Às vésperas do início da 11ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 11), que começa nesta segunda-feira, 17, em Genebra, na Suíça, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), entidade que tem 70 anos de fundação, reforça preocupação com os debates e possíveis decisões que podem impactar diretamente o futuro dos produtores de tabaco no país. Em entrevista à Folha do Mate, o vice-presidente da entidade e presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Romeu Schneider, detalha a posição da associação diante das discussões internacionais e destaca a importância socioeconômica da fumicultura para as comunidades rurais. Além de Schneider, a Afubra estará representada na Suíça pelo secretário Marco Antonio Dornelles.

Hoje, 138.020 famílias vivem do cultivo de tabaco no Sul do Brasil — 69.238 no Rio Grande do Sul, 41.720 em Santa Catarina e 27.062 no Paraná. A realidade é composta majoritariamente por pequenas propriedades, com média de 14,6 hectares na safra 2024/25. Segundo a Afubra, são 525 municípios produtores de tabaco no Sul do país, sendo 206 cidades gaúchas.

A Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco completa 20 anos neste ano. Ao longo desse tempo, quais foram as medidas que mais impactaram o produtor de tabaco no Brasil?
Medidas específicas colocadas em prática e que tivessem tido algum impacto definitivo não aconteceram. Isso se deve, certamente, à mobilização e pressão dos representantes dos produtores e da cadeia produtiva. O terror foi muito, a preocupação também, pelas ideias que surgiram e que, se implementadas, seriam extremamente prejudiciais ao setor.

Quais são as expectativas da Afubra em relação à COP 11 e o que o senhor espera da postura da delegação brasileira?
A expectativa é de muita preocupação, principalmente diante da proposta de proibir o uso de filtros nos cigarros e ainda de responsabilizar produtores, municípios e indústrias pelo recolhimento desses materiais. Se aprovada, essa medida favorecerá o mercado ilegal. Parece até que o governo brasileiro tem parceria com o mercado ilegal.

Qual será a mobilização da Afubra durante o evento e de que forma pretende ser ouvida, considerando o histórico de não permissão de participar das discussões da COP?
Estaremos na volta do local de realização da conferência. Tentaremos conseguir credenciais para assistir e esperamos ainda conseguir, diariamente, um briefing (resumo) junto ao embaixador e à delegação do Brasil. Pelo menos, é o compromisso assumido pelo embaixador durante audiência na Embaixada do Brasil em Genebra, em maio deste ano.

Na última COP, no Panamá, após pressão do setor, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) anunciou a retomada do Programa de Diversificação em Áreas Produtoras de Tabaco. Há novas informações sobre essa iniciativa? Qual é o histórico dessa proposta?
Verdade. Após forte pressão, o MDA enviou um emissário para levar uma posição que pudesse compensar eventuais impactos, prometendo desenvolver a diversificação, porém tudo ficou no papel.
Devemos nos lembrar que a grande maioria dos produtores de tabaco pratica diversificação e faz isso com maestria desde que começou a cultivar tabaco. A diversificação sempre foi estimulada, desde a fundação da Afubra. Inclusive, pelo trabalho da Agrocomercial Afubra, colocando técnicos à disposição gratuitamente.

Como a Afubra se posiciona com relação aos cigarros eletrônicos, hoje proibidos no país?
A posição da Afubra sempre foi objetiva e sempre visando os DEFs que contêm tabaco, ou seja, aqueles que usam o tabaco aquecido eletronicamente. Mesmo porque os produtos que usam nicotina líquida correm o risco de conter nicotina sintética e, consequentemente, prejudicarão o produtor por reduzir o mercado de tabaco. Acreditamos também que, mesmo proibindo os DEFs, o consumo continuará crescente.
Os novos entrantes usarão mais os eletrônicos, enquanto os fumantes dos cigarros tradicionais migrarão muito pouco para essa nova forma de consumo. Certamente haverá uma transição lenta e gradativa, assim como aconteceu na migração dos antigos palheiros (com fumo em corda) para o cigarro tradicional de hoje. E isso será uma transição inevitável.

Qual a mensagem que a Afubra deixa aos produtores que estão em plena colheita de tabaco enquanto, do outro lado do mundo, ocorre um evento que debate questões que envolvem diretamente o futuro do tabaco?
O debate que acontece no outro lado do mundo é totalmente unilateral, não permite o contraditório e isso é apoiado fortemente pelo atual governo, que não está se importando com o social e principalmente com o econômico dos pequenos produtores, nem com as quase 40 mil famílias que produzem tabaco para ter o sustento e assim não precisam depender do Bolsa Família.
Todos os produtores precisam estar atentos para saber quem defende e quem não se importa se essa atividade será ceifada.