
Arranjar emprego em meio a toda essa situação de crise financeira em que o país se encontra não é fácil. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no ano passado, por exemplo, a taxa de desemprego atingida pelo Brasil foi de 8,4%, o que fez o país superar os percentuais médios registrados no mesmo período em anos anteriores.
Neste contexto, quem já chegou aos 50 anos tem um desafio ainda maior para enfrentar por espaço no mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, no Rio Grande do Sul, aproximadamente 206 mil trabalhadores com mais de 50 anos estão com o cadastro ativo no sistema Mais Emprego, da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), em busca de uma vaga. Neli Ripplinger, de 58 anos, é um exemplo de quem sente ‘na pele’ a dificuldade de conseguir uma vaga no mercado. Ela, que está desempregada há cinco meses, busca uma oportunidade de trabalho como cuidadora de idosos.
Estudante de Serviço Social na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Neli ressalta que por ainda não estar formada, torna-se mais difícil de conseguir algum trabalho na área. No entanto, ela não desiste fácil e, por isso, na última segunda-feira, após verificar na porta da agência FGTAS/Sine de Venâncio um bilhete onde constava uma vaga de trabalho como cuidadora, não perdeu a oportunidade, entrou no Sine e deixou currículo.
Na opinião dela, algumas pessoas acima dos 50 anos sentem mais dificuldades para conseguir um emprego em função da falta de qualificação profissional. Entretanto, Neli admite que a idade pode interferir na busca por um posto de trabalho: “As pessoas, à medida que ficam mais velhas, acabam se limitando e diminuindo a produtividade. Para algumas funções, as empresas procuram mais jovens mesmo”.
ESPECIALIZAçãODe acordo com a coordenadora da agência local do Sine, Alessandra Ludwig, encontrar um emprego quando já se passou dos 50 anos é um desafio, e o que pode interferir nas contratações das empresas é a qualificação profissional da pessoa, ou seja, quanto mais experiente e qualificada em um determinada área, mais ela tem chances de se sobressair. Além disso, Alessandra destaca que se torna importante que as pessoas busquem se especializar independente da idade, pois este é um fator que facilita a conquista de um espaço no mercado.
A coordenadora explica que, às vezes, devido às dificuldades financeiras, algumas empresas necessitam demitir funcionários. Há quem, neste meio tempo, está em processo de encaminhamento da aposentadoria e tem apenas mais cinco anos de trabalho no local. A empresa acaba por optar em ficar com o funcionário que terá mais tempo de serviço. Este, segundo Alessandra, pode ser um fator responsável pela demissão de pessoas acima de 50 anos.
Expectativa de vida elevadatorna os ‘cinquentões’ jovens
Na opinião de Alessandra Ludwig, a pessoa com mais de 50 anos deve ser considerada jovem, porque a expectativa de vida aumentou nos últimos anos. No entanto, segundo ela, a dificuldade não está exclusivamente na idade, mas sim, na qualificação profissional. Hoje em dia, a internet e as tecnologias predominam, o que, anos atrás, não tinha tanta importância às pessoas dessa faixa etária. Deste modo, na atualidade, este entendimento e conhecimento acaba, muitas vezes, faltando a essas pessoas.
A coordenadora do Sine relata que pessoas com mais de 50 anos costumam procurar emprego nas áreas em que já atuavam. Observa-se que a maioria opta por continuar no mercado de trabalho para obter mais uma renda. “O que eu vejo, hoje, é que alguns desempregados com mais de 50 anos procuram a agência, porque o que recebem com a aposentadoria não é o suficiente para pagar as despesas”, comenta. Entre as profissões buscadas para a obtenção de um salário extra, segundo a coordenadora, estão a de cuidador de idosos e chacreiro.
EMPRESASConforme Alessandra, além da qualificação profissional, as empresas, na hora da contratação, avaliam o histórico de carreira da pessoa. “Por exemplo, se é alguém que pegou muitas vezes o seguro-desemprego e ainda, avaliam qual a rotatividade que teve no mercado de trabalho. Hoje, o fator principal da contratação não é mais a idade. As empresas avaliam em quantas empresas a pessoa já trabalhou, quantos meses, o porquê da demissão e o porquê de ter colocado a empresa na Justiça”, acrescenta.
Aos 60 anos, Horácio não abre mão de estar no mercado de trabalho
O relojoeiro Horácio Jank, aposentado há cinco anos, não abandona o mercado de trabalho mesmo já tendo chegado aos 60. Segundo ele, trabalhar na área é uma forma de complementar a renda e, também, trata-se de uma ideia que partiu em virtude da necessidade de se manter na ativa. “Só da aposentadoria ninguém sobrevive, a não ser que a pessoa esteja muito bem aposentada”, complementa.
Na opinião do profissional, é difícil conseguir uma oportunidade de emprego, mas as pessoas que têm uma especialidade, acabam por ter facilidade de encontrar uma resposta positiva no mercado de trabalho. Deste modo, para ele, o diferencial está na qualificação das pessoas. “Se a pessoa não é formada em alguma coisa, complica”, acrescenta.Conforme o relojoeiro, empresas que desejam crescer, se aliam à experiência profissional e também ao ritmo de trabalho das pessoas. “As pessoas de mais idade que hoje procuram emprego, não tiveram oportunidade de estudar no passado”, comenta.
QUALIFICAçãOPara Jank, a tendência é que as pessoas busquem uma especialização independente da idade. “Hoje, o curso de inglês é um requisito básico para um bom emprego, e a informatização é um elemento necessário. Essas duas coisas aliadas a um estudo levam a um bom emprego”, analisa.
Além disso, ele ressalta que oportunidade é algo importante. “Mas isso também tem a ver com indicação. Se a pessoa tem alguém próximo com influência na empresa, conta ponto. Mas se vai disputar vaga com mais 100 pessoas, é a qualificação que vai contar”, opina.Para ele, uma das vantagens das pessoas acima dos 50 anos é a experiência de vida em uma determinada área, o que facilita a conquista de um emprego. Na opinião de Jank, o currículo profissional de uma pessoa também é uma referência necessária. Além do mais, a personalidade e caráter são fundamentais para se conseguir um bom emprego em qualquer idade.
