O fim de uma era: a ansiedade dos alunos do Terceirão

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Vivemos de fases. Nunca é fácil passar por mudanças, ainda mais quando são várias ao mesmo tempo e que quebram a rotina de uma década. Poderíamos falar de diversas fases, mas o foco hoje é uma que todos passamos ou ainda passaremos: o término da escola. Os altos e baixos do Terceirão e uma nova vida que, ao mesmo tempo, está perto e longe.

Os estudantes do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Poncho Verde, de Mato Leitão, estão passando por esse momento conturbado e de muita ansiedade. Na turma de 25 alunos da manhã, alguns se conhecem desde a creche, como é o caso de Martina Franzen, Manuela Costa e Laura Martins, mas a maior parte está junto desde o 6º ano do Ensino Fundamental – o que já são sete anos. Basicamente, todos eles passaram quase metade da vida juntos, em uma rotina diária.

Agora, a quebra. O fim de uma era. Ainda que faltem dois meses para o fim dessa realidade, a turma acredita que a ficha cairá apenas em março de 2024, após as férias. “A partir de março, não sou mais estudante, estou desempregada”, brinca Jordanna Guedes, em meio às dúvidas com relação ao futuro.

O clima de despedida é um misto de felicidade e tristeza. É o que destaca Mirela da Silva, que diz já ter chorado em vários momentos, mas que todos eles também são muito felizes.

Próximo passo

Dos 25 alunos, 21 querem alcançar a universidade ou seguir estudando de alguma forma. Apenas quatro, o grupo dos meninos, tem outros planos – falando baixinho aqui, mas confessaram que não sentirão falta das provas e dos conteúdos (nem da escola).

Ainda que uma parte da turma tenha interesse pela área da Pedagogia, o grupo considera que mesmo que alguns colegas se matriculem no mesmo curso, a convivência será pequena a partir de agora. “É um momento em que descobrimos que tem um ponto final para tudo”, destaca, poética, Larissa Scheibler.

Em pé: Tainá Rüdiger, Elen Hinterholz, Alberto Schneider, Davi Heinen, Jardel Niederle, Lucas Heisler, Leonardo Heissler, Amanda Scheibler e Jéssica Regert. Sentados: Sthela Bandeira, Mirela da Silva, Késsily Figueiro, Jordanna Guedes, Ana Gabriela, Bruna Luiza, Simone Kappaun, Laura Martins, Ana Julia Kirch, Manuela Costa, Miriam Dresch, Larissa Ferreira, Larissa Scheibler, Ana Beatriz, Martina Franzen e Emerson Kremer. (Foto: Leonardo Pereira)

Ainda assim, o grupo pretende se reunir, mesmo que não seja com todos participando. Além disso, organizaram uma cápsula do tempo, com mensagens ‘O que quero para o futuro?’, que deve ser aberta em dez anos. Agora, os estudantes entram no universo de voltar a ver os colegas e amigos em lugares comuns, como supermercados, farmácias, shows, festas e eventos, o que, segundo eles, deve se tornar a nova rotina.

Decisões

Os jovens de 17 e 18 anos sentem uma grande pressão sobre a escolha do que fazer da vida. O maior medo da turma é tomar a decisão correta. Seguindo a lógica de “preciso decidir a minha vida com 17 anos”, os alunos têm dúvidas sobre a nova era que estão por viver. Em um mundo recheado de “E se?”, muitos colocam asteriscos sobre a decisão correta a tomar, seja na escolha do emprego ou mesmo do curso para se qualificar. “Decidir é difícil. Não é fácil escolher de maneira certa para a vida toda”, foi a definição perfeita da turma do Terceirão do Poncho Verde, para o momento.

O que mais sentirão falta

• Escola;

• União da turma;

• Eventos e convivência diária;

• Amizades;

• Bagunça.

O que não vão sentir falta

• Provas;

• Acordar cedo;

• Conteúdos;

Momento de colocar a cabeça em ordem para fazer uma boa escolha

Por Luana Schweikart

A fase da adolescência e início da vida adulta é, na maioria das vezes, difícil e complicada, com muitas decisões a serem tomadas, e por vezes, o medo pode paralisar e dificultar o andamento das coisas. Para ajudar quem está passando por esse momento, a psicóloga Deise Frantz Nagel, especialista em Psicanálise e com mestrado em Psicologia, tem algumas dicas valiosas.

Ela explica que a adolescência é um momento conturbado e por vezes complexo para os jovens e o ambiente em que esse adolescente está inserido influencia neste processo, podendo ajudá-lo ou prejudicá-lo neste enfrentamento do futuro.

“Às vezes os pais do adolescente são pais que facilitam a vida deste jovem, promovendo ações que amenizam o estresse e a ansiedade neste momento na vida, e isso o ajuda a passar por esse momento com mais facilidade”, afirma a profissional. Já um ambiente mais estressor, que causa incertezas, solidão, violência, falta de diálogo, problemas financeiros da família, acaba proporcionando ao adolescente dificuldades em se sentir seguro em lidar com esse medo de encarar o futuro.

“Há uma pressão da sociedade para que as pessoas tenham sempre as respostas de suas vidas resolvidas, mas isso é difícil. Até porque cada pessoa tem seu modo e tempo de decidir seus conflitos, objetivos, metas e, principalmente, seu futuro.”

DEISE FRANTZ NAGEL

Psicóloga

Dicas para ajudar na hora da escolha

1 Tenha calma e foco na hora de definir os próximos passos de vida, que podem influenciar diretamente no futuro.

2 Busque ajuda. É natural não saber qual o caminho seguir. Nesse caso, uma dica é procurar um profissional psicólogo e até fazer um teste vocacional que ajuda a testar os interesses e aptidões a fim de indicar uma ou mais vocações.

3 Descubra o que você gosta. Outra dica importante é ter calma e não ir atrás de pressões e desejos para o futuro que não são seus, mas sim dos familiares. Muitas vezes, acaba sendo comum os filhos cursarem algo que os pais desejam.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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