O sabor e a tradição das melancias crioulas

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Na propriedade de Lauro Vicente Müller, 61 anos, e Rosane Inês Müller, 50 anos, as melancias consumidas pela família vêm direto da horta cultivada por eles. Além de serem produzidas sem nenhum agrotóxico, elas têm uma característica especial: são oriundas de sementes crioulas, sem modificação genética e que carregam uma história de gerações. São melancias com o ‘sabor de antigamente’.

“A produção crioula é diferenciada, importante para preservar essas sementes, mas, além disso, o sabor é muito melhor”, destaca Müller. De acordo com ele, as melancias crioulas são mais doces e macias. Além disso, não causam a sensação de estufamento, após serem consumidas. “A gente come e não faz mal”, comenta.

A prática de guardar as sementes e trocar com outros agricultores garante o cultivo de diferentes tipos de melancia, com formato, cores e textura da casca e da polpa diferenciados. Na propriedade dos Müller, são oito tipos de melancia, entre a vermelha e a amarela, além do melão de neve e do ‘pele de sapo’. “Quanto mais a gente plantar e compartilhar essas sementes, melhor. Pois, se um dia acontecer um problema e eu não tiver mais, outro produtor terá e poderá continuar com a produção”, observa o produtor rural.

Todos os anos, Müller guarda as sementes para continuar a produção. O plantio das melancias ocorre entre agosto e setembro. A safra começou em dezembro e a família ainda segue colhendo algumas frutas. Normalmente, são sete ou oito frutas por pé. Neste ano, porém, por conta da estiagem, a produção caiu pela metade. “Teve outros anos que distribuímos pela comunidade, de tanto que deu, mas neste ano foram só três, quatro por pé, devido ao clima. A melancia crioula é bem mais sensível do que a híbrida, menos resistente ao sol”, explica Müller. Conforme ele, a produção de melão também será bem impactada neste ano pela falta de chuva. “Ele é bem mais sensível ao calor do que a melancia.”

“Guardar as sementes crioulas é um passatempo e uma forma de preservar a história. Também é importante para o consumo próprio, pois sabemos o que comemos, sem nenhum agrotóxico.”
LAURO VICENTE MÜLLER
Agricultor

Intercâmbio de sementes

Lauro e Rosana Müller são produtores de tabaco e cultivam alimentos para consumo próprio. O envolvimento com as sementes crioulas começou há cerca de 5 anos, a partir de intercâmbios de sementes promovidos pela Emater/RS-Ascar.

No período, o casal já participou de encontros em Venâncio e em outros municípios, por meio dos quais ampliou a variedade de sementes e mudas crioulas utilizadas na propriedade: desde milho, pipoca e abóbora até melancia, melão, batata-doce e ananás. O agricultor comenta que cidades como Ibarama e Sinimbu são referências no assunto.

Müller também é um dos fundadores do Grupo de Agricultores de Sementes e Mudas Crioulas do Município de Venâncio Aires (Gascemva), formalizado em 2018, em um trabalho conjunto entre Emater, Sindicato Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural.

De acordo com o técnico agrícola Alexandre Kreibich, extensionista da Emater, entre 20 e 30 agricultores participam do Gascemva. “Mas, além disso, há muitos agricultores que conservam em casa essas sementes, guardam de geração em geração.” Ele reforça que são sementes tradicionais, sem modificação genética, e que têm uma história por trás delas, que está sendo preservada. “Essa prática também contribui com a biodiversidade e fortalece a segurança alimentar, com redução de custos para as famílias”, enfatiza.

Como guardar

Antes de guardar as sementes, elas precisam ser lavadas e secas. Elas podem ser guardadas em um papel, como um envelope de jornal. Na foto, sementes de três tipos de melancia. As pretas são da melancia vermelha mais comprida. As cinza são da melancia vermelha menor, mais redonda. E as sementes mescladas, amarelas, são da melancia amarela.

(Foto: Juliana Bencke)

Sobremesa de melancia

Para aproveitamento integral da melancia, Rosane Müller realiza sobremesa com a parte branca da fruta. Confira a receita:

  • Um quilo de melancia (parte branca) com casca cortada em cubinhos
  • Uma colher de sopa de fermento em pó (Royal) ou uma colher de sopa de cal virgem
  • 400 gramas de açúcar
  • Cravo, canela e noz moscada a gosto

Modo de fazer

  • Cortar os cubinhos da melancia e colocar o fermento em pó ou o cal (se usar cal, descascar a melancia)
  • Cobrir com água. Se usar o fermento em pó, deixar descansar por 30 minutos. Se utilizar o cal, deixar por três horas
  • Lavar bem, colocar o açúcar, cravo, canela e noz moscada e cozinhar por 45 minutos apenas com o próprio caldo

    Rosane com o doce feito com a parte branca e a casca da melancia. (Foto: Juliana Bencke)


Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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