Juntar tampinhas plásticas já virou dever de casa e uma verdadeira missão para os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Benno Breunig, do bairro São Francisco Xavier. Os irmãos Lucas e Ramon Marques Vargas, 9 anos, estão entre os mais empenhados na tarefa de ‘catar’ tampinhas e levar para a escola. “Nossa mãe ajuda, traz de várias casas onde trabalha e nossos amigos também estão ajudando”, conta Ramon.
Os irmãos Nathan, 8 anos, e a Nathália Silberchlach Derlamm, 10 anos, assim como Emellyn Silva, 10 anos, também estão entre os alunos mais dedicados em contribuir com o programa Tampinha Legal. Se eles têm vergonha de juntar uma tampinha do chão? Nenhuma. “Uma tampinha pode entupir um cano, os animais podem engolir e também suja o mar”, explica Nathan.
A consciência dos estudantes exemplifica por que o Tampinha Legal já é considerado o maior programa socioambiental de caráter educativo de iniciativa da indústria de transformação do plástico, na América Latina. Os benefícios da iniciativa criada em 2016, na segunda edição do Congresso Brasileiro do Plástico (CBP), porém, não param por aí.
Coordenadora do programa, Simara Souza explica que, além do caráter educativo, a ação promove a economia circular. Na prática, isso significa que tampinhas plásticas das mais variadas embalagens que, muitas vezes, terminavam em aterros sanitários ou na natureza, por conta do descarte inadequado, retornem para a indústria e se transformem em matéria-prima para novos produtos.
“Todos os plásticos são 100% recicláveis. Toda vez que vemos plásticos desprezados equivocadamente estamos desperdiçando matéria-prima. Isso representa dinheiro. É como se estivéssemos desperdiçando comida ou até mesmo uma joia na calçada”, compara.

CONSCIÊNCIAPresidente da America Tampas, Gustavo Alvarez também destaca o caráter educativo do programa, como forma de sensibilizar a população sobre a destinação correta e a reciclagem do plástico. “O plástico facilitou muito a logística e melhorou a vida das pessoas. Sem ele, pouca coisa restaria. No entanto, sabemos que apesar de todos os benefícios, o acúmulo do material traz ônus. Por isso, a importância da educação, que irá trazer discernimento sobre a maneira correta de direcionar o resíduo”, comenta.
Segundo ele, é fundamental que a sociedade compreenda que, apesar de não ser degradável, o plástico pode ser reutilizado e, a partir disso, cada cidadão contribua com o processo. “Assim como uma lata alumínio, que todo mundo já sabe que é reciclável, uma tampa plástica pode virar outra coisa, inclusive roupa. Por isso, deve ter o descarte correto.”
“Não podemos desperdiçar matéria-prima. Ela precisa retornar para a indústria, fechando, assim, o sistema de economia circular. O programa Tampinha Legal contribui com isso e ainda beneficia as entidades sociais, que recebem todo o valor da venda das tampinhas.”
SIMARA SOUZA
Coordenadora do programa Tampinha Legal
Posto de coleta na America Tampas
Nesta semana, Venâncio Aires tornou-se o primeiro município do interior do Rio Grande do Sul a contar com um núcleo do programa Tampinha Legal, com um ponto de coleta na America Tampas, localizada no Distrito Industrial. Até então, para entregar as tampinhas e vendê-las ao reciclador, as entidades precisavam levar o material até Porto Alegre.
“Percebemos que poderíamos auxiliar em um dos principais problemas, que era a logística, trazendo o ponto de coleta para o município e criando um braço do programa aqui”, explica o presidente da America Tampas, Gustavo Alverez, ao destacar o incentivo para o crescimento da iniciativa.
A empresa é uma das mantenedoras do Tampinha Legal, desenvolvido pelo Instituto SustenPlást. Além das sete entidades de Venâncio Aires cadastradas no programa, instituições da região poderão realizar a entrega do material na America Tampas. O resíduo será adquirido pela Sulpel Soluções Ambientais, de Santa Cruz do Sul.

Venda do material garante recursos para entidades
Além dos benefícios para o meio ambiente, a coleta de tampas plásticas e o encaminhamento para a reciclagem representam uma forma de entidades assistenciais arrecadarem recursos. “É um programa que paga pelo trabalho da entidade, 100% dos recursos com a venda das tampinhas vão diretor do reciclador para a conta da entidade”, salienta a coordenadora Simara Souza.
Segundo ela, do início do programa até agora, foram coletadas e vendidas em torno de cem toneladas de tampinhas, representando um valor superior a R$ 200 mil reais para as entidades cadastradas. Há pontos de coleta em todo o Rio Grande do Sul e a iniciativa já tem se espraiado para outros estados, como Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco.
Na Escola Benno Breunig, uma entrega de tampinhas, no início do ano, rendeu R$ 218,07. De acordo com a diretora Carine Isabel Reis, o valor foi utilizado para compra de brinquedos e conserto de vidraças quebradas. Uma nova venda deve ocorrer até o fim deste ano.
Para ela, além de garantir mais proximidade com o programa, o núcleo local para entrega das tampinhas representa mais um estímulo para mobilizar a comunidade escolar na iniciativa. Um coletor deve ser disponibilizado pela escola em algum estabelecimento da cidade, para facilitar a arrecadação de tampas. “Também pretendemos trabalhar mais sobre isso em sala de aula. Os alunos já sabem que fazem o bem, juntando as tampinhas, mas é importante que entendam o que está por trás disso para replicar. É muito bom saber que estamos fazendo o bem”, afirma.
Além das tampinhas de garrafa pet, podem ser encaminhadas ao programa qualquer tampa plástica de embalagens de produtos de limpeza, xampu, potes de nata, margarina e sorvete, entre outras.
Entidades participantes
– Apae
– Emef Benno Breunig
– Emef Otto Gustavo Daniel Brands
– Grupo Jornada de Amor
– ONG Paresp
– ONG Amigo Bicho
– Hospital São Sebastião Mártir
– Lions Club Venâncio Aires Melvin Jones
O programa Tampinha Legal em cinco passos
1 O consumidor junta tampinhas e leva até um ponto de coleta das entidades participantes.
2 As entidades limpam e separam as tampinhas por cor, o que agrega valor para a comercialização do material.
3 As entidades levam as tampinhas até o ponto de coleta – contêiner na America Tampas, no Distrito Industrial -, onde a empresa recicladora (Sulpel) pesa o material.
4 O pagamento é depositado na conta da entidade, em um prazo de até 7 dias, conforme a quantidade de tampinhas.
5 A Sulpel leva as tampinhas até uma indústria que reutiliza o material para produção de utensílios domésticos como baldes, vassouras, escovas, prendedores de roupa e pazinhas de lixo.
E o resto da embalagem?
Separar as tampinhas e entregá-las em um ponto de coleta do programa garante que elas sejam encaminhadas à reciclagem e transformadas em outros produtos. Mas, e o restante da embalagem?
Para garantir que ela também retorne à indústria como matéria-prima é fundamental que não seja misturada com resíduos orgânicos e seja descartada no dia correto do recolhimento do lixo seco – o que varia em cada bairro e localidade.
Em Venâncio Aires, o material é separado na Usina de Triagem de Resíduos, em Linha Estrela, e enviado à reciclagem.