Filhos obedientes, geralmente, seguem a recomendação dos pais. Mas a Débora, que na verdade sempre ouviu sua mãe, em um domingo qualquer ignorou o pedido materno de “não traz nenhum pra casa!”
O alerta da Iára não surtiu efeito e a filha levou não um, mas três pássaros para casa depois de visitar uma feira de aves no Parque do Chimarrão, em março de 2016. Foi assim que a Aninha apareceu na vida de Débora Hickmann Chaves, 21 anos.
A estudante de Biomedicina é uma ‘cachorreira’ convicta, mas adora todos os animais. Por isso, sempre há espaço para mais um no coração e na casa.
Naquela feira no Parque, há quase três anos, ela perguntou a um vendedor se dava para ‘amansar’ os pássaros. “É difícil, já são adultos”, respondeu o rapaz. Mas aí, ao pegar uma caixinha que estava sob o balcão, a surpresa. “Quando ele abriu, lá estava ela, toda pequenininha e quase sem penas ainda. Foi amor à primeira vista!”, lembra Débora.
Entre o amor e a possibilidade de levá-la para casa, havia o querer da esposa do vendedor. “A bichinha era dela, mas quase chorei e consegui convencê-la.” Além da Aninha, Débora levou mais duas calopsitas.
ESPECIAL
Aninha é uma Forpus de cor azul, espécie também conhecida como Tuim. Sim, os nomes não são tão populares, então dá para dizer que é uma ave semelhante ao um periquito, mas um pouco mais ‘cheinha’. Lembra também um mini papagaio.
O Forpus, segundo Débora, é proibido pelo Ibama se não tiver nascido em cativeiro, pois pertence à fauna brasileira. “A Aninha nasceu em cativeiro. Hoje, se ela fosse colocada na natureza, não conseguiria sobreviver.”
Mas o conseguir sobreviver da bichinha passa ainda por uma questão física. Aninha nasceu com uma deficiência, o que acarretou, inclusive, no abandono da mãe ainda no ninho: tem os pés tortos e anda, literalmente, com os cotovelos. “No início tentei fazer tipo umas ‘próteses’ para deixar os pezinhos alinhados e retos, mas aquilo só machucava ela. Depois percebi que vivia superbem assim e acabei deixando.”
Essa espécie não cresce muito, são cerca de 13 centímetros e cabe na palma da mão. Podem viver, em média, uns 15 anos. Apesar da deficiência motora, Débora diz que Aninha não necessita de cuidados especiais quanto a isso. “Ela é especial, mas só precisa de amor, como qualquer animalzinho que sente.”
RELACIONAMENTOS
Da gaiola, Aninha vai, no máximo, até o quarto da Débora, onde brinca de se esconder atrás da coberta. Esse roteiro controlado é mais para manter a boa vizinhança com os outros animais da casa. “Cuido muito pra ela ficar só pelo meu quarto por causa da cachorrinha do pai. A Pretinha levou uma bicada no focinho, por ser muito curiosa. Daí prefiro não arriscar”, pondera.
Enquanto tenta manter uma relação saudável com os demais membros da família, Aninha pode, em breve, iniciar um relacionamento, digamos, mais íntimo. “Há algumas semanas ela colocou os primeiros ovinhos, por isso estou à procura de um macho. Não sei se vai aceitar, mas quero dar um parceiro pra ela”, revelou Débora.
CARACTERÍSTICAS
Como em muitas espécies de aves, é o macho quem canta. A Aninha segue a tendência e só emite alguns sons quando está brava. Principalmente quando a Iára chama a atenção da Débora, a passarinha começa a gritar, como se estivesse xingando junto.
Geralmente as aves escolhem um dono. No caso da Aninha, os pais da Débora até se aproximam da gaiola, mas pegar na mão, não mesmo.
Na alimentação, é a mesma comida de periquitos, como sementes, pão e couve. No início, o trato era um pouco mais complicado. “Ela ainda se alimentava de papa na colher, tinha que aquecer a água e misturar”, conta Débora.
Para dormir, uma característica diferente: Aninha fica pendurada por uma unha na gaiola. “Sério, ela sobe até em cima e fica igual a um morcego”, compara, entre risos, sua dona.