Liege ressalta que tem receio de comprar carnes nos supermercados, porque, em alguns casos, não sabe de onde vem o produto e qual a validade deste
Em torno de 3,5 toneladas de alimentos impróprios foram inutilizadas por força-tarefa do Programa Segurança Alimentar, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, em Venâncio Aires. No decorrer da quinta-feira, oito mercados foram vistoriados em resposta a denúncias realizadas pela própria comunidade.
Segundo o promotor de Justiça local, João Afonso Silva Beltrame, o Ministério Público tem verificado a necessidade de dedicar mais atenção à área da segurança alimentar, sobretudo após operações como a Leite Compensado.
Beltrame cita que a força-tarefa já realizou ações deste tipo em outros municípios. No caso de Venâncio Aires, é uma resposta a denúncias que chegam à Promotoria de Justiça, Vigilância Sanitária e Inspetoria Veterinária. “Achamos que havia um volume muito grande de denúncias e, então, decidimos atuar de forma conjunta nesta força-tarefa”, ressalta.
De acordo com o promotor, as principais irregularidades identificadas foram produtos fora do prazo de validade, sem origem e em processo de deterioração, sobretudo em função de falhas na conservação.
Ele explica que foram instaurados procedimentos de natureza cível e criminal, de acordo com cada caso. Além disso, os proprietários serão orientados através de Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para que se adequem às normas sanitárias e veterinárias e passem a exercer a atividade de forma regular.
As 3,5 toneladas de alimentos considerados impróprios pelo MP foram inutilizadas junto aos próprios estabelecimentos ou encaminhadas para destruição por uma empresa especializada.
Responsáveis pelos supermercados pedem mais orientação
A reportagem ouviu responsáveis de alguns dos supermercados que foram fiscalizados pelo Ministério Público Estadual em parceria da Vigilância Sanitária de Venâncio, na quinta e sexta-feira.
DO BOM – O sócio-proprietário do supermercado do Bom, Jucimar Moresco, ressalta que a iniciativa é interessante, mas seria mais válida se fossem fiscalizados todos os empreendimentos, sejam eles pequenos ou grandes, pois todos vendem e compram produtos e devem se preocupar com a qualidade. O sócio-proprietário acredita que seria melhor haver uma orientação maior por parte da Vigilância Sanitária sobre o que pode ou não ser feito. Ainda comenta que todos os funcionários foram bem orientados para que não ocorram irregularidades futuras.
FREY – O proprietário do supermercado Frey considera a fiscalização muito rigorosa, embora seja positiva para garantir a qualidade dos produtos oferecidos à população. Para ele, é necessário haver um bom senso por parte do Ministério Público para não ocorrer de eles serem intransigentes e implicarem com coisas de pouca relevância.
PAREMA – Para a proprietária do supermercado Parema, Dulce da Silva, a iniciativa é algo positivo, mas que deve ser feito em todos os estabelecimentos. “Tem que fiscalizar os mercados pequenos também, porque escutamos falar que existem muitas coisas ruins que ocorrem”, comenta. Dulce acredita que seja necessária a fiscalização não apenas de supermercados, mas também de diversos outros espaços que carecem de uma atenção especial. “Eu só acho um absurdo nós não podermos mais temperar um ‘galetinho’. Isso pode até diminuir as vendas”, ressalta.
PREçO BOM – Na opinião da proprietária do supermercado Preço Bom, Clarice Leonhardt, a fiscalização também é rigorosa e como são vários fiscais que entram no estabelecimento ao mesmo tempo, ela acredita que isso assusta um pouco os clientes que não sabem o que ocorre. “Eles estão fazendo o trabalho deles, mas são bastante enérgicos. Tem coisas que acontecem e que não precisavam”, opina.
ECONOMIA – O proprietário do mercado Economia, Leandro Ceccon, ressalta que existe uma falta de instrução a respeito do que pode ou não ser feito. Ele também acredita que o trabalho realizado pelo Ministério Público Estadual pode “queimar muito a imagem do estabelecimento”. “Eu penso que eles deveriam ajudar e contribuir com a gente. Não arrancar as coisas do proprietário”, comenta.
SCHLOSSER – Para o proprietário do supermercado Schlosser, Endrigo Schlosser, os fiscais deveriam ter sido mais flexíveis e não tão exigentes: “Por meio de muito questionamento, algumas coisas foram relevadas. Mas tive que questionar muito e dizer que para a Vigilância Sanitária do município era permitido”.O proprietário também acredita que seria melhor se os fiscais orientassem mais os estabelecimentos, em vez de logo recolherem os produtos. “Porque nós não estamos aqui para fazer nada de errado e não queremos fazer mal para ninguém”, comenta.
REDE VIVO – “A Rede Vivo Supermercados esclarece a seus clientes que todos os produtos vendidos em suas lojas possuem procedência e qualidade. O que ocasionou o recolhimento de alguns produtos frios: como queijos e presuntos, carnes embandejadas e pães e bolos embalados, na vistoria realizada na última quinta-feira pela Vigilância, foi devido a forma de fracionamento para a venda destes produtos nos balcões de auto atendimento. Pois recebíamos as peças inteiras e separávamos em porções, reembalando em quantidades menores, sempre informando na etiqueta a descrição do produto, peso, horário de embalamento e prazo de validade. O intuito da Rede Vivo em disponibilizar os produtos dessa forma era facilitar e agilizar o atendimento de nossos clientes. Porém fomos orientados pela Vigilância a alterar esse procedimento, o qual já está sendo executado em nossa loja, agora nosso cliente terá que solicitar esses produtos em nossos balcões de atendimento, informando ao atendente a quantidade desejada. Informamos aos nossos clientes que os rótulos dos produtos fatiados ou cortados estão disponíveis junto ao balcão de atendimento, podendo ser solicitado aos nossos atendentes.” – Nota enviada através da assessoria de comunicação
– A reportagem tentou, ao longo desta sexta-feira, ouvir a posição do supermercado Bom Preço, mas não conseguiu contato por telefone.
Qualidade dos alimentos é preocupação de todos
A Vigilância Sanitária de Venâncio Aires alega ser fundamental uma preocupação com a segurança alimentar. Embora os quatro agentes da vigilância realizem todos os dias fiscalizações no município, segundo eles, ainda é possível notar por parte de alguns estabelecimentos comerciais uma despreocupação com a saúde, pois, com frequência, alguma irregularidade é encontrada.
Assim como os supermercados, os consumidores, na hora da compra também necessitam ficar atentos a alguns aspectos relacionados aos produtos, como, por exemplo, a rotulagem, validade e condições de temperatura que o fabricante indica no rótulo.
A compra de enlatados amassados, por exemplo, deve ser evitada, pois a lei proíbe a venda de produtos nessas condições. Caixas de leite e outros alimentos que apresentem uma embalagem estufada também merecem uma atenção especial. Caso algum item seja encontrado empoeirado, é necessário chamar a atenção dos responsáveis pelo local. O mesmo deve ser feito caso algum produto seja identificado nas prateleiras com data de validade vencida.
Alvaráé fundamentalA Vigilância ainda recomenda que é preciso verificar se o estabelecimento possui alvará exposto em algum espaço. O alvará indica que o local é conhecido pela fiscalização. Caso não esteja presente no empreendimento, a empresa pode ser considerada ‘clandestina’.
Além disso, torna-se interessante evitar a compra de carnes temperadas, por exemplo. Existem alguns locais que têm registro no Serviço de Inspeção Municipal da Agricultura e, por isso, podem comercializar alimentos temperados, mas, de qualquer forma, a Vigilância Sanitária não recomenda a compra.
De acordo com os agentes, a legislação obriga que carnes, salames e frios sejam pesados e cortados na frente dos clientes para que qualquer problema seja evitado. Além disso, eles ressaltam que existe um cuidado e uma preocupação maior com os alimentos perecíveis e, por isso, a fiscalização é voltada principalmente a esses produtos. Os rótulos ou embalagens precisam sempre estar presentes.
Os supermercados têm o dever de controlar a entrada e saída dos produtos, verificar os itens do estoque os prazos de validade. Ainda precisam conservar e armazenar os produtos de acordo com a orientação do fabricante, constada na embalagem. O proprietário ou responsável pelo empreendimento também necessita, no mínimo, conhecer as legislações da atividade que realiza.