Devido à impossibilidade de oferta nos municípios de todos os serviços de saúde necessários à população, as prefeituras bancam o transporte de pacientes para tratamentos especializados de mais complexidade em outras cidades. A prática também é conhecida por ambulancioterapia.
Em Venâncio Aires, segundo estimativa da Secretaria de Saúde, gasta-se R$ 70 mil por mês com o serviço de transporte, oferecido pela própria Prefeitura e também por empresas terceirizadas. A média diária é de cem pacientes que deixam a cidade todos os dias em busca de mais saúde através dos tratamentos especializados disponíveis nos municípios de referência para o Sistema único de Saúde (SUS). é o caso de Osvaldo Ferreira, 77, morador do bairro Brígida e que possui câncer de pulmão e lesão no coração. Desde dezembro, ele necessita ir a Santa Cruz do Sul por cerca de uma vez na semana. A cidade vizinha é referência para Venâncio Aires no que se refere aos atendimentos de oncologia e cardiologia.
Como possui dificuldade para caminhar e problemas de audição, é acompanhado sempre pela esposa Jurema Nunes, 74. Apesar de ficar muitas vezes o dia inteiro fora, no aguardo pelo retorno do transporte ao município, ela não reclama. Diz que o serviço prestado é bom, mas houve demora de quase dois meses até o companheiro ser chamado para o primeiro atendimento. Na tarde da quarta-feira, a ida a Santa Cruz do Sul era porque Osvaldo precisa realizar uma biopsia.
Quem também passou a utilizar o serviço de transporte é Walmi Lenhart, 73, de Linha Andréas, diagnosticada com câncer de pele. “Quando eu era jovem, nós íamos na praia e não tínhamos protetor solar. Ainda usávamos bronzeador, sem conhecimento”, recorda. Ela diz que buscava o atendimento de forma particular, mas devido à redução da renda da família, passou a fazer uso do SUS e afirma ser bem atendida. “Achei muito bonita a forma atenciosa que o motorista trata cada paciente. Procura auxiliar todos.”
O motorista de que ela fala é Julvani Fröhlich, que atua há mais de 20 anos nessa área, quatro deles apenas no transporte de pacientes com câncer, que necessitam, entre outras coisas, de radioterapia e quimioterapia. “São cerca de 40 pacientes por dias, de todas as idades, alguns bastante debilitados. Eu tento ajudar ao máximo.”
As saídas para Santa Cruz do Sul, para os tratamentos de oncologia, ocorrem pela manhã e tarde. Quando o destino é Porto Alegre, por exemplo, os pacientes precisam madrugar. A saída se dá por volta das 4h30min.
COMO FUNCIONA
Secretária-adjunta da Saúde, Rosane da Rosa, explica que os agendamentos de consultas e exames ocorrem por meio de sistema de regulação, que direciona os pacientes primeiro aos serviços de referência regional. Em caso de não resolutividade, são encaminhados para os de nível estadual, concentrados em Porto Alegre.
“Todo município quer ter os serviços o mais próximo possível, mas como se trata de atendimentos de alto custo, eles ficam concentrados em alguns municípios e tem caráter regional. A abrangência é estipulada pelo Ministério da Saúde, que analisa questões como capacidade instalada e profissionais disponíveis para a prestação do serviço.”
Na opinião de Rosane, o sistema evoluiu ao longo dos anos e é bem organizado, mas registra eventuais demoras em função do déficit financeiro do serviço. “Essa eventual demora também ocorreria se o serviço estivesse localizado aqui, pois está ligada ao repasse de recursos e não à distância dos serviços.”