Com o anúncio das temperaturas baixas e a possibilidade de formação de geada, alguns agricultores se preocupam com o fenômeno e outros comemoram a chegada do frio. Afinal, a geada também traz benefícios para culturas que precisam dessa queda climática, como é o caso do trigo e das rosáceas, por exemplo.
Conforme o chefe do escritório local da Emater-RS/Ascar de Venâncio Aires, Vicente Fin, além de reduzir as plantas invasoras e concorrentes, as geadas favorecem as culturas de inverno, e uma delas é o trigo. “Uma das vantagens é que o frio acaba perfilando, produzindo um cacho a mais no trigo e a planta terá um maior enraizamento”, explica.
O engenheiro agrônomo esclarece que as geadas têm papel preponderante no que tange o controle de algumas plantas invasoras. “São as chamadas plantas voluntárias, que permitem a propagação de insetos, pragas e doenças que trazem prejuízos nas culturas de verão pela falta de vazio sanitário”, detalha.
Em termos sanitários, o milho e a soja que serão cultivadas no verão já são beneficiados com a geada no inverno. “As pragas ameaçadoras nessas culturas, como a mosca branca e o enfezamento da cigarrinha, teriam que ser combatidas nessa época com inseticidas. O produtor teria gastos para controlar e eliminar essas plantas voluntárias e, com o frio, temos essa redução de custos e o ciclo natural da natureza acontece”, esclarece Fin.
Os benefícios também são visíveis no solo, conforme o engenheiro agrônomo. “Como o solo tem umidade, isso permite com que a terra se solte. Uma área compactada, quando recebe essa geada forte, acaba descompactando o solo e aí também temos resultados positivos”, pontua.
Além disso, algumas frutíferas são beneficiadas com o frio, como é o caso das rosáceas (ameixa, pêssego, nectarina e pera). “Elas necessitam de acúmulo de horas de frio para florir na hora certa, que é na primavera, e isso ajuda muito no sentido de não estar exposta as geadas tardias”, diz.
Pontos negativos
Assim como o frio tem inúmeros benefícios, na agricultura também há pontos negativos e que muitos agricultores pontuam. Algumas frutíferas, como abacate, manga, mamão e cítricas (que já foram tiradas a produção) podem apresentar uma leve queima.
Fin comenta que outro ponto negativo é com as pastagens nativas que são afetadas. “A planta abaixo de 15 graus paralisa o crescimento e, abaixo de 10 graus, não cresce. Temos uma redução na produção de pasto e no volume de pasto disponível. Algumas pastagens acabam tendo uma queima e isso reduz o volume de alimento para o gado de corte, leite e ovinos”, comenta Fin.
Proteção com plástico e panos garante produção de abacaxis e cuidados com flores
No início da semana, a formação de geada acabou não se confirmando devido às nuvens e, com isso, o céu ficou encoberto na maior parte do dia. Dessa forma, a temperatura acabou não baixando tanto, todavia a sensação térmica alertou os moradores de Venâncio Aires. Muitos produtores rurais e até mesmo pessoas da área urbana começaram a proteger plantas com plásticos e panos.
Um dos exemplos é o casal de agricultores Marcelo Arnemann, 73 anos, e Luci Arnemann, 69, que cultiva cerca de 200 abacaxis há cinco anos. “Quando o inverno chega, a gente fica de olho na previsão. Se tem a possibilidade de vir a geada, a gente tampa o abacaxi com um plástico para proteger, senão queima tudo”, comenta Luci, que neste ano fez uma experiência com a batatinha e cultivou ela em maio. Com isso, as plantas também são cobertas quando e previsão do tempo alerta para as geadas.
“Nós temos tudo preparado. Instalei uns ganchos na cerca e, à tardinha, é só colocar o plástico sobre os pés de abacaxi. Assim, estão protegidos e garantimos as frutas fora de época e até mesmo os pés que irão produzir só em setembro”, salienta Arnemann.
A família de Linha Arroio Grande tem o hábito de proteger as plantas sensíveis à geada e garante que o método funciona. “Em janeiro, colhemos 100 abacaxis, agora tem 30 fora de época”, cita o agricultor.
Flores protegidas
Os moradores da área central também protegem as plantas de uma possível formação de geada. A aposentada Vanice Schuch, 56 anos, moradora do bairro União, costuma proteger as flores e folhagens que cultiva no pátio. “Eu fico de olho na previsão do tempo. Se marca geada, tenho uns panos velhos que uso para tampar as flores e folhagens mais sensíveis ao frio”, comenta.

O segredo, conforme Vanice, é após a geada, de manhã, ao acordar, tirar os panos, que não devem ficar diretamente nas plantas. “A gente aprendeu essa técnica desde o tempo de colônia e dá certo. Assim as plantas não sofrem e a gente não perde elas, pois houve vezes que achei que não teria geada e perdi muita plantinha. Então agora fico mais atenta”, cita.
“A gente sempre tampa com um plástico nossa plantação de abacaxi e as plantas sensíveis à geada. E dá certo, assim a gente não perde a produção e eventuais frutos fora de época.”
MARCELO ARNEMANN