Dos 210 milhões brasileiros, 37,7 milhões são pessoas idosas – que têm 60 anos ou mais. Os dados são de 2021 e fazem parte de uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que traz também outras informações: 18,5% dessa população ainda trabalha e 75% dela contribui para a renda de onde moram.
Baseado nos números, Osvaldo Daniel dos Santos Pinheiro, professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de Santa Cruz do Sul, escolheu o turismo e as redes de suporte para a pessoa idosa como tema de sua tese de doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Venho da área da Administração e trabalhei com o turismo. E o grande desafio para mim foi incluir no recorte espacial, trabalhar com o turismo para o idoso. Escolhi por conta dos dados. Analisando-os é possível confirmar que caminhamos a passos largos para a longevidade”, destaca.
Segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, no Rio Grande do Sul, 14,08% da população tem 65 anos ou mais e, em Venâncio Aires, o número é de 14,27%. “Notamos o quão importante é investir nesse segmento. Temos um público em potencial e disponível a gastar, a investir seu tempo, pois ele busca qualidade de vida, bem-estar, socialização e inclusão nos espaços”, enfatiza Pinheiro.
Fragilidades em Venâncio
Pinheiro identificou algumas lacunas com relação ao investimento e infraestrutura na cidade para receber esse tipo de turismo. “Até onde sabemos, pouco se fez, ou quase nada. Até pela percepção que se tinha sobre o idoso, de que após os 60 anos, a sua vida se interrompia, era viver cuidando dos netos e apenas isso. Agora, os nossos idosos estão ativos, com sede e vontade de aprender, a favor da sua saúde mental e física”, pontua.
Para o pesquisador, o turismo não pode ser pensado de forma ‘solta’, e sim por faixa etária. “Os resultados da pesquisa são baixos, o que significa que é preciso trabalhar tanto o incentivo dos empreendedores, quanto dos atores públicos envolvidos no segmento de Venâncio. Aprimorar ações em prol da melhor divulgação, a relação entre agências de turismo e o turista”.
Existem questões centrais para evolução. Por exemplo, sinalização, organização do espaço e infraestrutura. “Ainda há muita resistência na compreensão dos pré-requisitos que precisam ser identificados para determinada realidade”, comenta.
Direitos dos idosos
- Os direitos dos idosos estão garantidos na Constituição Federal, que em seu artigo 230, define que família, sociedade e Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, promovendo seu bem-estar e garantindo o direito à vida.
- Outro instrumento para garantia dos direitos dessa população é o Estatuto do Idoso. Criado em 2003, ele assegura, de forma permanente, direitos fundamentais, medidas de proteção, política de atendimento, acesso à Justiça e proteção judicial.
- Nesse momento, o país não conta com nenhuma política governamental ativa para o turismo com foco na terceira idade. Entre 2013 e 2015, houve o projeto ‘Viaja Mais, Melhor Idade’. “O turismo precisa ser pensado e ajustado a essa realidade do público. Observando suas limitações, suas condições físicas, intelectuais e motoras do indivíduo. Em minha tese, busco organizar por meio das instituições públicas e privadas, como se vem recebendo o turismo para com o idoso e como se relacionam as agências de suporte social”, diz o professor.
“Primeiramente, é preciso trabalhar na qualidade do serviço para o idoso em Venâncio Aires, com a inten
sificação dos empreendimentos e dos projetos públicos. É uma conexão entre o público e o privado, para alcançar o sucesso.”
OSVALDO PINHEIRO
Professor e responsável pela tese de doutorado
Um mercado em crescimento
Uma pesquisa realizada em 2019 pelo e-commerce de viagens Booking.com aponta que 77% dos viajantes brasileiros de terceira idade dizem que viajar será a melhor forma de aproveitar o tempo livre que terão com a aposentadoria. “O idoso é como uma mola propulsora, que precisa funcionar a partir do suporte público, municipal e nacional”, enfatiza Pinheiro.
De acordo com Pinheiro, o IBGE aponta que 20% do montante total do turismo atual vem dos idosos. “Eles têm mais tempo para usufruir das atividades, e ainda gozam da aposentadoria, que é um forma condutora dessas atividades”, enfatiza.
Os roteiros preferidos são praias, montanhas, turismo de compras, cruzeiros e religiosos, além do rural, que se intensificou com a pandemia de Covid-19. “Atualmente, temos em Venâncio o turismo rural e religioso, temos a nossa igreja, que é muito forte. Além da Rota do Chimarrão, que merece destaque. O turismo deve realizar a conexão de lembranças e experiências. É o momento em que esses idosos saem de casa para socializar, se intensifica o suporte social em relação a eles”, completa.