Por Marni Helfer – Agricultor, comunicador na Rádio Comunitária de Passo do Sobrado e morador do centro da cidade
Todos acham que eu sou gaúcho, mas na verdade sou catarinense, pois meu pai, que era gaúcho, foi para Santa Catarina e lá conheceu minha mãe. Nossa vinda para Passo do Sobrado aconteceu quando eu tinha apenas 11 meses. Portanto, sou natural de Santa Catarina, mas morando há 44 anos neste município que é minha verdadeira querência.
Quando meu pai retornou a Passo do Sobrado no ano de 1976, com minha mãe e eu, ainda um bebê, foi uma fase muito difícil, pois nem casa tínhamos para ficar. Éramos extremamente pobres financeiramente. Tivemos que morar de favor em vários lugares, sendo que um deles foi nos fundos do Salão Paroquial, onde moramos em um galpão, e dormíamos em cima de uma pilha de sacos de milho, pois não tínhamos colchões, apenas cobertas.
Nossa companhia eram as vacas de leite, pois o curral ficava bem perto de onde estávamos morando e dormindo. Depois nos mudamos para perto do Mário Kroth e minha mãe arrumou um trabalho. Meu pai era um pedreiro de mão cheia, porém, os dois tinham que alimentar e manter nove filhos, o que não era fácil. Então, o Floriano, pai do Célio Carvalho, vendeu um terreno para que meu pai pagasse como pudesse. Então foi construída nossa casa, onde moramos até hoje.
Nossa situação financeira sempre foi muito difícil, tanto é que lembro de detalhes que me marcaram, como o jeito que minha mãe fazia pão sem fermento, ou com aquele fermento molhado. O que tínhamos para colocar no pão era banha e açúcar e, quando não tinha banha, apenas molhávamos o pão embaixo da torneira e colocávamos açúcar. Tênis ou sapatos não tínhamos, apenas chinelos velhos para passar inverno e verão.
Quando eu me formei no Ensino Médio no Alexandrino, tive que parar de estudar, porque não havia condições financeiras para nada. Nessa época eu gostava de futebol e fui goleiro do Esporte Clube Rosário e participei de campeonatos de futebol sete, tendo conquistado a medalha de goleiro menos vazado por duas oportunidades. Lembro que num campeonato levei apenas um gol, que foi contra, do meu amigo Itamar Dettenborn. Pego no pé dele seguidamente por conta disso. Mas é bom ressaltar que ele foi um grande atleta e jogou em vários times e tem muitos títulos na bagagem.
Hoje trabalho na Rádio Comunitária, sou agricultor e me sinto muito feliz com esta profissão. O futuro não sei como vai ser, mas meu passado foi de vida dura, difícil e sem privilégios, mas por incrível que pareça, foi uma infância feliz. Hoje tenho um presente igualmente feliz, tanto é que agradeço a Deus pelo que tenho hoje, que é pouco, mas infinitamente mais do que eu tinha no passado.
*Matéria integrante do caderno especial do aniversário de Passo do Sobrado, no qual pessoas da comunidade contaram suas histórias ao repórter Claudio Froemming.