Ao todo, 1.145 produtores de tabaco, entre eles, 32 agricultores de Venâncio Aires, participaram de uma pesquisa que traçou o novo perfil socioeconômico dos produtores de tabaco da região Sul do Brasil. Um dos destaques do raio-x é a renda per capita mensal do fumicultor, que é superior ao dobro da média brasileira. Enquanto a renda média mensal do brasileiro é de R$ 1.625, o fumicultor que reside no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná recebe, em média, R$ 3.935,40, por mês.
Os resultados do estudo foram apresentados na quinta-feira, 19, pelo professor Luiz Antonio Slongo, em Santa Cruz do Sul. Ele coordenou o levantamento feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (Cepa) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Encomendada pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), a pesquisa contou com a participação de agricultores de 37 municípios, que foram ouvidos entre 30 de junho e 20 de julho de 2023. A pesquisa aponta que 80% dos produtores de tabaco enquadram-se nas classes A e B, um percentual muito acima da média geral nacional, que não chega a 25%. O último perfil, realizado em 2016 pela UFRGS, já apontava que os produtores de tabaco possuíam nível de renda acima da média nacional.
Para a pesquisa, foram aplicadas entrevistas pessoais diretamente nas propriedades dos agricultores que cultivam tabaco nos três estados do Sul. As perguntas contemplaram diversos fatores que ajudaram a mensurar o nível socioeconômico das famílias que plantam tabaco, desde bens até acesso a serviços básicos, como saúde e destino do lixo doméstico. Além da renda, a infraestrutura da casa do produtor, a estrutura familiar e o acesso a serviços de água, energia e internet foram considerados para avaliar a qualidade de vida. Do total de entrevistados, quase 73% têm a alvenaria como material predominante na construção dos seus lares e quase 72% têm três ou mais dormitórios no domicílio. A pesquisa também apurou as culturas agrícolas produzidas para comercialização nas propriedades, a escolaridade e cursos técnicos dos chefes de família e as razões que levam o agricultor a plantar tabaco.
Renda familiar
- Considerando todas as fontes de renda, os produtores de tabaco da Região Sul do Brasil atingem uma renda mensal total média de R$ 11.755,30;
- A renda per capita mensal média na população de produtores de tabaco da Região Sul é de R$ 3.935,40, enquanto a renda per capita no Brasil é de R$ 1.625,00 (IBGE, 2022);
- 73% dos produtores de tabaco dispõem de outras rendas, além daquela proveniente do cultivo do tabaco. Essas outras rendas provêm do cultivo de outros produtos agrícolas e de outras fontes de renda, tais como: aposentadorias, empregos fixos ou temporários, atividades autônomas, aluguéis, arrendamentos, ou rendimentos de aplicações financeiras.
- Nenhum respondente da pesquisa informou receber Bolsa Família, programa do Governo Federal.
No RS
- No Rio Grande do Sul, 383 agricultores, de 14 cidades gaúchas, participaram da pesquisa. Além de Venâncio Aires, produtores de tabaco de Arroio do Tigre, Boqueirão do Leão, Caiçara, Camaquã, Canguçu, Chuvisca, Crissiumal, Ibarama, Mata, Santa Cruz do Sul, São Francisco de Assis, São Lourenço do Sul e Vale do Sol foram entrevistados.
Escolaridade
- Quase 60% dos chefes de família têm mais de oito anos de estudo, o que corresponde ao Ensino Fundamental completo, ou mais. Dentre esses, 32,2% têm mais de 11 anos de estudo, o que corresponde ao Ensino Médio completo e até cursos superiores, completos ou incompletos.
“A tecnologia chegou de vez”
Os resultados da pesquisa apontam para uma boa condição socioeconômica dos produtores de tabaco na Região Sul do Brasil. Um dos destaques é o acesso à tecnologia. “Realmente, a tecnologia chegou de vez. Mais de 90% tem acesso à internet e todo mundo tem um televisor de boa qualidade”, destaca o professor Luiz Antonio Slongo, que coordenou o estudo. O levantamento apontou que quase 94% têm acesso à internet, sendo que 92% têm acesso no próprio domicílio.
No estudo, 87,4% responderam que plantam tabaco porque é uma cultura rentável e 83,1% responderam que cultivam por ter uma garantia de venda. “O produtor não tem vontade de parar, pois é uma cultura rentável”, observa Slongo.
De uma forma geral, o estudo verificou que o produtor de tabaco tem bom acesso a itens que garantem conforto em seus lares. “Tudo isso está relacionado ao bom nível de renda familiar e per capita, as quais se mostram bem superiores às médias nacionais”, frisa.
Segundo o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, os resultados reafirmam a importância econômica e social do tabaco no meio rural. “Em muitos momentos temos ouvido que o produtor de tabaco vive em uma situação de vulnerabilidade, mas a pesquisa desmonta essa narrativa.
SAIBA MAIS
- Na maioria dos casos, a propriedade utilizada pelos produtores para o plantio do tabaco é própria e já está paga ou quitada. Isso corresponde a quase 65% dos entrevistados.
- 17,7 hectares é a área total média das propriedades ocupadas pelos produtores de tabaco da Região Sul do Brasil.
Internet e energia solar
- Enquanto em 2016, menos da metade dos produtores possuía acesso à internet, em 2023 essa realidade foi alterada drasticamente: quase 94% têm acesso à internet, sendo mais de 92% na própria residência.
•O levantamento deste ano revelou que 12,3% dos entrevistados já contam com energia solar, enquanto que em 2016 esse percentual era zero, ou seja, nenhuma casa contava com esse serviço. Na análise por estados, o percentual do Rio Grande do Sul é ainda maior: 19,6% dos fumicultores gaúchos entrevistados contam com energia solar em 2023.
“Assim como aconteceu em 2016, os resultados não surpreendem quem conhece o setor do tabaco, mas eles vão impressionar quem ainda consome informações com fontes ideológicas.”
IRO SCHÜNKE – Presidente do SindiTabaco
Posse de bens
- 100% dos produtores de tabaco têm automóvel ou caminhonete (eram 89% em 2016) e 62,7% têm motocicleta (61% na última pesquisa);
- 13,7% dos produtores de tabaco têm outro imóvel, além daquele utilizado para morar (eram 10% em 2016);
- Mais de 97% dos domicílios têm máquina de lavar roupa e 65% têm também secadora de roupa;
- O uso do ar-condicionado aumentou 61% desde a primeira pesquisa, em 2016. Atualmente, 33,4% têm ar condicionado e 80,7% têm ventilador;
- 57,2% dos domicílios têm aspirador de pó;
- 88,6% têm forno elétrico e 67,2% têm forno de micro-ondas;
- 80,9% dos produtores possuem trator e 13,4% microtrator;
- Praticamente 100% têm televisor a cores, sendo 90,5% do tipo tela plana;
- 100% têm, pelo menos, um telefone celular, sendo que 85,1% do tipo smartphone;
- 36% dispõem de computador.