Agente que enfrentou bando com uma 12 fala com exclusividade à Folha do Mate

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A reação dos agentes penitenciários e policiais militares que estavam de plantão na madrugada do domingo, 23, foi o que impediu que um bando resgatasse o membro de uma facção criminosa que estava recolhido na galeria A da Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva). Foram cerca de dez minutos de uma intensa troca de tiros, que deixaram marcas nas paredes e vidros da casa prisional, mas que afugentaram o bando, sem que nenhum dos agentes fosse atingido.

Mas muito deste resultado se deve à coragem de um agente penitenciário. Plantonista, ele enfrentou o bando empunhando uma espingarda calibre 12, de repetição, e usando somente um colete à prova de balas. “Naquele momento ainda não sabia direito o que estava acontecendo e quando me disseram que poderia ser uma fuga, peguei a calibre 12 e fui tentar impedir a possível fuga”, revelou o agente, que atua há dez anos na Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).

Em entrevista exclusiva à Folha do Mate (abaixo), o agente descreveu aquele momento, que com certeza foi decisivo para impedir que o bando invadisse a casa prisional, explodisse a parede da cela, efetivasse o resgate e até causasse mortes. “Nunca tinha passado por isso e nem ouvido falar”.

Entrevista

FOLHA DO MATE – Onde você estava no momento em que começaram os tiros?
Agente – No momento do ocorrido estava no posto da inspetoria, que tem acesso ao monitor com as câmeras de vigilância, só que nesta área externa onde aconteceu o fato não tem câmera. Então eu não sabia o que estava acontecendo.

E como descobriu do que se tratava?
Meus colegas que estavam no segundo andar revidaram os disparos, mas os bandidos estavam fortemente armados com fuzis calibres 762 e 556 e tão logo um colega desceu do segundo andar e entrou na inspetoria, falou para mim “deu fuga, estão fugindo, tem resgate”.

Qual foi a tua reação?
No mesmo instante eu peguei a arma calibre 12 e sai pelo portão de acesso à penitenciária (portão de acesso interno) no lado da inspetoria, para tentar impedir a possível fuga. Chegando na frente da penitenciária dei de cara com os bandidos atirando nos colegas no segundo andar e na guarita da Brigada. Então fui no canto da penitenciária, no final do administrativo no lado externo, e comecei a disparar tiros contra eles. Dei sete tiros.

Tinha proteção onde estava?
Não, estava sem proteção de barreiras ou algo do tipo. Estava apenas com o colete balístico

Onde estavam os quadrilheiros neste momento?
Os bandidos iam em direção ao carro (Ecosport) no portão de acesso da Estação de Tratamento de Esgoto, já que o Jeep e a Captiva atolaram.

E deu mais algum tiro contra o bando?
Descarreguei a 12 e consegui dar mais um tiro. Foram oito no total.

Neste momento eles estavam protegidos por alguma coisa?
Sim, os bandidos estavam com escudo de proteção e deram tiros na minha direção. Depois, entraram no carro (Ecosport) e saíram.

Relembre o caso

A tentativa de fuga foi protagozinada por um bando que chegou em três veículos, armado com fuzis calibre 556 e 762 e pistolas calibre 9 milímetros, pouco depois das 2h do domingo, 23. Um Jeep Renegate e uma GM Captiva entraram por uma via lateral e foram até o lado da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). A Ecosport foi deixada perto da estrada. O bando desembarcou dos veículos, entrou na ETE e começou a dar tiros contra a guarita frontal (número 1), impedindo qualquer reação do policial militar, e também na direção da parte superior das galerias, onde ficam os agentes penitenciários, que revidaram. A troca de tiros durou cerca de dez minutos, quando o bando bateu em retirada. Além da cerca da ETE, os quadrilheiros estavam cortando a cerca que dá acesso às guaritas. Há mais um lance de cercas e então se chega ao pátio da penitenciária. A suspeita é que o bando pretendia usar explosivos para derrubar a parede de uma cela e dar fuga ao líder de uma facção. Como não conseguiram entrar, voltaram aos veículos para iniciar a fuga, mas o Jeep e a Captiva atolaram. Então os quadrilheiros correram em direção a Ecosport e seguiram atirando contra a casa prisional. Dentro e próximo aos dois veículos foram apreendidos explosivos, coquetéis molotov, garrafas com gasolina e álcool, uma esmerilhadeira e um tesourão para cortar ferro, além de um escudo. Pelo menos cinco pessoas fugiram na Ecosport, que foi abandonada em Linha Picada Mariante. Ela foi blindada artesanalmente, com chapas de ferro que foram soldadas nas portas e sobre o retrovisor traseiro. Dentro deste veículo foi apreendida uma touca ninja. No lado do caroneiro havia muito sangue, ratificando a informação de que pelo menos uma pessoa foi ferida no confronto. Do lado dos agentes, ninguém se feriu. Peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) fizeram os levantamentos no local e recolheram 165 estojos calibres 556, 762, 40 e 9 milímetros.

Clonados

As investigações desta tentativa de resgate estão a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), de Santa Cruz do Sul. Ontem, o delegado Marcelo Chiara disse que já se sabe que a Ecosport e o Jeep Renegate eram clonados. “Ambos foram locados e subtraídos”, explicou o titular da Draco.

Sobre o outro veículo, a GM Captiva, aparentemente ela é ‘quente’. “À princípio não tem sinais de adulteração”, observou o delegado. Ele também mencionou que nenhum dos envolvidos foi preso até o momento e não há informações sobre o possível baleado.



Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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