Nesta semana, a Polícia Civil tomou conhecimento de dois novos casos do secular – mas sempre atual – ‘conto do bilhete premiado’. Nos dois casos, as vítimas, ambas mulheres com mais de 60 anos, declararam na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) que entraram nos veículos dos golpistas e foram até as agências bancárias onde têm conta. Uma, de 78 anos, perdeu R$ 5.600, mas a outra, de 65 anos, não tinha saldo e escapou do prejuízo.
Nos dois casos, as vítimas entregaram seus cartões bancários e forneceram as senhas aos golpistas. Uma das vítimas recebeu a oferta de ganhar R$ 50 mil para ajudar os golpistas a chegar até a Caixa Federal e sacar o dinheiro do bilhete premiado, enquanto que para a outra, a oferta pela ajuda foi de R$ 100 mil. Como artifício, os estelionatários disseram que queriam tirar um extrato das contas das mulheres, para saber em qual delas depositar o dinheiro pela ajuda.
Ao ler a reportagem nas páginas da Folha do Mate, um morador de Venâncio Aires disse que situação semelhante já aconteceu com um familiar seu e questionou a maneira como as vítimas são abordadas e a falta de investigação para esclarecer os crimes. “Isso me parece sequestro e não golpe”, descreve (ver a manifestação no quadro ao lado).
Dinheiro fácil
Para o delegado Vinícius Lourenço de Assunção, muitas vezes as pessoas acabam caindo em golpes por verem a possibilidade de ganhar algum dinheiro facilmente. No caso do conhecido conto do bilhete premiado, explica, os golpistas normalmente prometem para a vítima algum valor expressivo por uma simples ajuda.
“A pessoa vê a possibilidade de ajudar e, ao mesmo tempo, levar alguma vantagem financeira, com isso, acaba se interessando e caindo no golpe”, analisa o titular da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).
Não raramente, segue o delegado Vinícius, as vítimas acabam oferecendo versões de que teriam sido ameaçadas ou até mesmo drogadas para justificarem terem caído no golpe. “Mas estas versões são rapidamente derrubadas no momento do depoimento”, assegura.
O delegado Vinícius garante que estas quadrilhas possuem muita experiência e agem normalmente sem uso de qualquer tipo de violência. “A própria ausência de violência dificulta a captura em flagrante destes indivíduos, eis que não há pedido de socorro, nem as pessoas que estão passando próximo do local desconfiam que alguém, naquele exato momento, está sendo lesado”.
Sobre a identificação dos golpistas, o delegado salienta que é difícil, justamente pela maneira como agem. A respeito do uso de câmeras de segurança e do circuito interno dos bancos, ressalta que é possível a utilização. “Investigamos os casos, mas raramente um autor do conto do bilhete é preso”, diz. Tanto que não se tem notícias recentes de prisões deste gênero de crime na região, onde seguidamente há relatos de vítimas do golpe.
Segundo os agentes do Setor de Investigações, há quadrilhas especializadas em praticar o conto do bilhete, que agem nos três estados do Sul e que tem base na cidade de Passo Fundo.
O que disse o leitor
Dias atrás saiu uma matéria semelhante, onde uma senhora caminhava pela Voluntários da Pátria e foi abordada por indivíduos oferecendo bilhete premiado, a senhora recusou e eles colocaram-na à força* num carro e foram até uma agência bancária sacar o dinheiro dela, porém ela não tinha dinheiro na conta. Pouco tempo atrás aconteceu a mesma coisa com uma familiar minha, após ela ser abordada e não querer saber do ‘tal bilhete premiado’ os bandidos colocaram-na em um carro e ficaram rodando na cidade, fazendo ameaças com arma na cabeça dela, depois obrigaram-na a sacar um valor e entregar para eles, após isso fugiram. Ora, colocar uma pessoa a força num veículo, ameaçar de morte, usar os cartões pra sacar o dinheiro das vítimas sem o seu consentimento e somente liberar após arrancar um valor em dinheiro, não seria sequestro? Estou preocupado com a frequência que esses casos têm ocorrido, com a distorção do fato ocorrido (uma vez que no conto do bilhete a culpa ainda recai sobre a vítima) e nestes casos não me parece conto do bilhete, e pela falta de investigação da polícia, uma vez que os casos têm sido recorrentes.
* Na reportagem citada, a vítima não diz que foi forçada a entrar no veículo dos golpistas.