A abordagem clássica de golpistas que ganham dinheiro com o conto do bilhete funcionou perfeitamente com uma moradora de Venâncio Aires. Na terça-feira, 15, à tarde ela perdeu R$ 20 mil para um casal, pensando estar ajudando uma garota jovem, que se apresentou mal vestida, dizia não conhecer a cidade e aparentemente estava sendo enganada por um desconhecido. Na verdade, este foi só o começo de um golpe que movimentou ‘dois profissionais’, que sumiram e levaram todas as economias da vítima, uma mulher de 72 anos.
Para muitos, a idosa foi gananciosa, ao receber a proposta de auxiliar a sacar um prêmio de loteria e com isso ganhar R$ 100 mil. Em defesa dela, sua filha garantiu que ao contrário do que as pessoas comentam nas redes sociais, sua mãe não é gananciosa. “Ela só queria ajudar, a todo o momento oferecia coisas para a garota comer, ofereceu roupas, mas acabou perdendo suas economias”.
Na quarta-feira, 16, à tarde, a filha da vítima deu mais detalhes à Folha do Mate de como sua mãe foi enganada. “Ela ainda não acredita que aquela menina (como trata a golpista) era quem estava praticando o golpe e não sendo a vítima de um golpe”, disse.
O crime foi praticado no centro da cidade. A idosa seguia para o seu local de trabalho (apesar dos 72 anos, trabalha diariamente), quando foi abordada pela garota, na rua Coronel Agra, quase esquina com a Jacob Becker. Mal vestida e sem documentos, perguntou que rua era aquela e se ela sabia onde funcionava uma floricultura. Disse que o dono entregava flores para sua mãe, no interior, e que ela (a mãe da golpista) teria dado alguns números para o homem jogar na loteria. “E observou que ela acertou os números e que o dono da floricultura disse que o prêmio era de R$ 3 mil e uma TV”, mencionou a filha da vítima.
As duas conversavam, quando surgiu o golpista, um homem bem vestido, falante e que se dizia militar. Ele se propôs a ajudar, pegou o bilhete que a moça tinha em mãos, com os números, e simulou uma ligação para a Caixa Federal. Conferiu os números e disse que ela havia ganho uma bolada na loteria. Mas para retirar o prêmio, teria que ter documentos, o que a jovem não tinha.
No desenrolar do golpe a moça pediu garantias de que eles não fugiriam com o bilhete e então o homem entregou um ‘maço’ de dinheiro, dizendo ter R$ 25 mil. A vítima não tinha nada junto e então os golpistas a levaram (de carro) até sua casa, onde ela pegou um cartão bancário e foi até a agência do Bradesco. Primeiro sacou R$ 5 mil no caixa, entregou à dupla e voltou ao caixa para fazer uma Transferência Eletrônica Pessoal (TED) para uma conta de uma agência do Banrisul de Pelotas.
Feito isso a vítima voltou à rua, onde o casal a esperava. Eles entraram em um veículo – que a idosa não soube descrever -, deram algumas voltas pela cidade e depois ela foi deixada em frente a agência da CEF, onde deveria aguardar o casal para sacar o prêmio e receber sua parte.
MUITA PENA
Lamentando a perda das economias da mãe, a filha não a culpou por ter caído no golpe. “A mãe entrou na história de pena da menina. As pessoas têm que parar de julgar os outros, pensando que é ganância, por que a minha mãe não é gananciosa. Ela só queria ajudar, pois ficou com muita pena da moça”, garantiu.
Sobre a facilidade encontrada por sua mãe para sacar o dinheiro e fazer a transferência, explicou que o banco não a questionou em nenhum momento. “Por que R$ 5 mil é o limite de saque diário e a TED é permitida”.
A respeito da atuação da dupla, a filha da vítima disse que se trata de profissionais. “Todo mundo que está criticando pode cair no golpe, pois minha mãe é uma pessoa instruída, só que eles são profissionais.”
O que diz o delegado Vinícius Lourenço de Assunção, titular da DPPA
Seguidamente, pessoas de mais idade e do sexo feminino são vítimas do conto do bilhete. Os golpistas parecem certeiros em abordar mulheres que têm dinheiro disponível em agências bancárias. Eles conseguem convencer as vítimas a sacar ou transferir dinheiro para contas aleatórias e dois somem. A Folha do Mate fez dois questionamentos ao delegado Vinícius Lourenço de Assunção:
- A Polícia Civil já suspeitou que alguém das agências bancárias pode estar envolvido, indicando aos golpistas as pessoas que podem ser suas vítimas, por ter dinheiro na conta?
Não é descartada essa possibilidade, todavia o envolvimento de algum funcionário do banco ficaria bastante dificultoso, uma vez que as vítimas normalmente são abordadas em via pública e uma mesma quadrilha realiza diversos golpes em cidades diferentes. - Como a investigação é encaminhada para tentar reaver o dinheiro (neste caso onde foi feita uma transferência de parte do valor) e chegar aos golpistas?
A investigação vai tentar rastrear o dinheiro, ou seja, onde foi sacado, como e onde foi feito o saque, na tentativa de chegar a autoria do crime. O titular da conta, muitas vezes, não tem sequer conhecimento de sua existência, eis que, por vezes, as contas são abertas com uso de documentos falsos para fins ilícitos.
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