Elígio Weschenfelder, o Muchila: motorista, advogado e vereador

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Desde os tempos de responsável pelo Parque Municipal do Chimarrão, Elígio Weschenfelder dizia sem medo de errar: “Pode escrever aí que uma das 15 cadeiras da Câmara vai ser minha a partir de 2021”. E o Muchila, como é popularmente conhecido em Venâncio Aires, chegou ao objetivo. Com os 511 votos recebidos nas urnas, no dia 15 de novembro, garantiu a segunda cadeira do PSB e vai representar o partido ao lado de Sandra Wagner, vereadora reeleita com 751 votos. Weschenfelder é servidor público concursado no cargo de motorista, secretário do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e advogado.

A trajetória de Muchila – como gosta de ser chamado – não foi fácil. E, conforme ele, chegar à Casa do Povo é motivo de muito orgulho. “Venho de família humilde, mãe viúva e cinco filhos. A gente passou bastante trabalho, mas sempre nos pautamos pela ética e honradez, o que nos levou a vencer na vida, a superar as dificuldades”, afirma. Aos 14 anos, já trabalhava com carteira assinada na Auto Viação Venâncio Aires, como faxineiro. “Por conta da minha estatura, fui apelidado de ‘Sagui’ pelo saudoso Milton Büchner”, conta. Ele passou pela rampa de lavagem e borracharia antes de realizar o sonho de ser motorista.

Ser motorista, aliás, foi outra meta difícil de cumprir. Depois que aprendeu a dirigir e obteve a sua habilitação para conduzir ônibus, as oportunidades eram escassas. “Me queriam na borracharia, mas eu decidi que enquanto não conseguisse uma vaga de motorista, não iria mais trabalhar. Passei por várias empresas pedindo serviço, mas quando eu dizia que não tinha experiência, o ‘não’ era sonoro em todos os lugares”, relata.

Elígio Weschenfelder, o Muchila, com a família, em momento de lazer (Foto: Arquivo pessoal)

Enfim, motorista

Até que um dia a oportunidade surgiu na já extinta Expresso Cruzador. “De novo me perguntaram se eu tinha experiência, aí eu já ia indo embora. Foi quando o chefe do setor de recursos humanos me xingou: ‘te acalma, guri! Ninguém começa de cima, então começa no depósito e aos poucos vai iniciando como motorista. E assim foi: do depósito para estrada, do truck para a carreta na Scapini Transportes, de Lajeado, puxando cigarro para todo o Brasil e Mercosul. Da estrada veio o apelido de Muchila”, revela Weschenfelder.

“Passei muito trabalho na vida, de fome, de sufoco, de assaltos na estrada, de saudade de casa. Sei de onde vim, sei para onde vou e sei quem caminha comigo. Fui eleito vereador e vereador eu serei. Em nenhum momento pedi voto para ser secretário. O eleitor precisa ser respeitado.”

ELÍGIO WESCHENFELDER – Vereador eleito do PSB

Família e estudos

Elígio Daniel Weschenfelder, o Muchila, de 50 anos, é casado com Clarice Weschenfelnder, 50. É pai de Vinícius Weschenfelder, 24, e Rodrigo Weschenfelder, 17, e filho de Manoel Antônio Weschenfelder (já falecido) e Maria Odila Weschenfelder, 74. Tem quatro irmãos.

Na infância, estudou nas escolas Monte das Tabocas e Professor José de Oliveira Castilhos. Quando estava no 3º ano do Ensino Médio, trancou os estudos porque trabalhava como caminhoneiro. “Ficou inviável”, justifica. Quando passou no concurso da Prefeitura, decidiu retomar os estudos, “mas não foi possível de onde parei, aí frequentei a EJA (Educação de Jovens e Adultos) na Escola Monte das Tabocas”.

Depois, prestou vestibular e foi aprovado para cursar Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) campus Venâncio Aires. “Com ajuda do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e de bolsa, consegui concluir o curso e, em seguida, passar na tão temida prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)”, comenta.

O vereador eleito com a esposa Clarice, com quem é casado há 30 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Política e mandato

• Muchila iniciou sua militância na política no PT. “Não por ideologia ou qualquer outra coisa, mas pelo fato de o vice-prefeito Giovane Wickert, que depois viria a se tornar prefeito, estava lá”, explica, acrescentado que admira Wickert como pessoa e como político, “tanto é que deixei o PT e fui para o PSB, assim como o prefeito”.

• Ele destaca que sentiu a veia política aflorar e participou da diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Venâncio Aires. “Sempre gostei do debate construtivo, das decisões e das lutas, tanto é que estou lá até hoje”, argumenta. Também participou do Diretório Acadêmico da Unisc campus Venâncio Aires; integrou a diretoria da Comunidade São Brás, do bairro Macedo; foi festeiro da Festa dos Motoristas e dos Amigos da Estrada; e é membro de conselhos municipais.

• Na primeira eleição, em 2016, já pelo PSB, fez 346 votos, desempenho que não foi suficiente para garantir uma cadeira no Legislativo. “Naquela oportunidade, éramos eu, minha família e minha moto”, recorda. Agora eleito, afirma que a comunidade pode esperar por muito trabalho “e que vai honrar cada voto recebido, sem aumentar impostos e valorizando o servidor público”.

• “Posso dizer que a expectativa é grande, a vontade de trabalhar por nossa comunidade também. Observei muito nossos vereadores e sei o que devo e não devo fazer. Penso que os vereadores são bem pagos pra trabalhar para a comunidade e não ficar de tititi. Política é diferente de politicagem e jamais podemos deixar de lado o interesse comum”, conclui.



Carlos Dickow

Carlos Dickow

Jornalista, atua na redação integrada da Folha do Mate e Terra FM.

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