Ferreira: demissão está descartada. (Foto: Divulgação)
Ferreira: demissão está descartada. (Foto: Divulgação)

A Câmara de Vereadores, sem dúvida, é uma grande geradora de polêmicas, quase sempre causadas pelas divergências de pensamentos de parlamentares de situação e de oposição ao governo. E, neste momento, mais uma foi instalada. Na sessão de segunda-feira, 21, Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB) utilizou o sistema de som do Legislativo para divulgar um áudio de WhatsApp que, segundo ele, provaria o desvio de óleo diesel da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp) para máquinas particulares.

Na mensagem, um cargo em comissão (CC) questiona um servidor de carreira se seria possível ele se deslocar até um determinado local para abastecer uma máquina que, em breve, ficaria sem óleo diesel. Na sequência, o CC dá uma orientação: “Essa escavadeira aí é uma escavadeira particular, tá? Mas tem que lançar esse diesel aí nas outras máquinas. Já podia botar um pouco a mais nessa minha patrola lá, e depois nós botamos um pouco nas retros. Só marca aí porque não tem como lançar o diesel direto nela, né?”

De acordo com Muchila, “é nítido nas palavras deste senhor, que eu confesso, não sei quem é, que ele tenta induzir, ele pergunta se é possível aquele servidor abastecer uma máquina particular”. O parlamentar, além de criticar o que seria uma prática irregular na Prefeitura, disse que os servidores de carreira devem se negar a cumprir “ordens ilegais”. “Estes secretários que aí estão, estes CCs que aí estão, chefes imediatos que aí estão, ali na frente não estarão mais. Mas os servidores de carreira seguem. Ali na frente, o servidor pode responder cível e criminalmente por ordens indevidas”, disse o vereador socialista.

Pedido de exoneração

Com base nas informações constantes no áudio, Muchila exigiu que o CC seja exonerado. “Como o governo é sério, ético, espero, sinceramente, que exonere este servidor, se já não exonerou. Porque o mínimo que se espera de um governo sério, ético, é que dê exemplo aos seus servidores, para que os outros não fiquem tentados a fazer”, disparou ele. Em apartes, os vereadores Diego Wolschick e André Kaufmann, ambos do PTB, se manifestaram. Wolschick afirmou que enviará à Prefeitura um pedido de informações a respeito do episódio. Kaufmann declarou que a acusação é grave. “Temos que apurar os fatos e isso tem que vir para esta Casa, porque esta farra tem que acabar. Denúncias chegam todos os dias”, comentou.

O secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Sid Ferreira, descartou a possibilidade de exoneração do capataz.

“Não tem direito de colocar a nossa idoneidade em xeque”

Ao se manifestar sobre a denúncia, o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Sid Ferreira, afirmou que está tranquilo, pois sabe que a prática não foi irregular. Além disso, rebateu Muchila: “Não tem direito de colocar a nossa idoneidade em xeque”. O titular da pasta explicou que há um termo de cessão de uso da máquina. “É emprestada, sim. Dessa forma, tratamos como cessão, assim como fazemos quando recebemos uma máquina do Estado. O combustível é lançado como ‘outros’ e, depois, o relatório sai certinho. Não temos como lançar o diesel em máquinas que não têm seus números de frota”, esclareceu.

Com a máquina emprestada, segundo Sid, foi possível retirar 500 cargas de saibro de um barranco – também cedido – para a recuperação das estradas de Linha Salto e Harmonia da Costa, a partir da ERS-422. “Ainda fizemos um pedaço de Olavo Bilac e de Marechal Floriano até Monte Alverne”, acrescentou Sid, que também se colocou à disposição do vereador para esclarecer os fatos em uma sessão da Câmara. “Não temos nada a esconder. O vereador falou com o servidor, mas insistiu em armar um circo”, concluiu.

O áudio

• “Ô Faustão, me diz uma coisa. Tu vai vir abastecer a escavadeira aqui no Castelinho, né? Seria muito difícil pra ti, dar um pulo naquela estradinha do Gerson Ruppenthal, ali quem vai pra Cecília? Abastecer o Reverendo lá, que ele tá com um quarto de tanque só na patrola. Agora até meio-dia vai terminar o diesel dele. E aí já poderia fazer o seguinte. Essa escavadeira aí é uma escavadeira particular, tá? Mas tem que lançar esses diesel aí nas outras máquinas. Já podia botar um pouco a mais nessa minha patrola lá, e depois nós botamos um pouco nas retros. Só marca aí porque não tem como lançar o diesel direto nela, né? Se possível tu fazer isso, tá bom?”

Capataz e responsável pelo abastecimento dão versões

Embora os nomes dos servidores envolvidos no episódio não tenham sido divulgados – o áudio que o vereador Muchila rodou na Câmara foi editado, no começo, onde o apelido de um deles é citado, a Folha do Mate apurou que eles são Vanderley Pedro Algayer, capataz do 5º Distrito (Centro Linha Brasil) e Júnior Ronan Hendges, o Faustão, responsável pelo comboio de abastecimento da Sisp. Ao serem procurados, ambos agradeceram a oportunidade de poderem dar suas versões e esclarecerem o que classificam como um mal entendido.

Algayer afirmou estar tranquilo, pois tem convicção de que não houve qualquer irregularidade. “Eu já conversei com o secretário e com o Faustão. Foi uma conversa informal, no grupo de trabalho no WhatsApp, que alguém vazou para tentar atingir a Administração”, declarou, acrescentando que “o que foi feito é algo natural quando a Sisp conta com máquinas cedidas”. “Isso é uma sacanagem. Não agrega nada este barulho. Não fiz nada de errado pra estar me escondendo. Não sou bandido. Não entendo de política, não sou político, só tento fazer o meu trabalho da melhor forma possível. Os caras ficam esperando uma oportunidade para atingir a Administração. Estão contra os próprios eleitores deles. Não entendo porque fazer um Carnaval numa coisa normal assim. Fiz e assino onde precisar”, desabafou.

Hendges apresentou versão convergente. Ele informou que tem 11 anos de Prefeitura, quase 10 como responsável pelo comboio de abastecimento. “Nas três gestões das quais fiz parte, isso é de praxe. Se é máquina cedida, sem número de frota, anota nos ‘outros’ e depois acerta o relatório”, confirmou. Ele destacou que, no cargo que exerce, é preciso se acostumar com as brigas políticas. “A gente vê aflorar muito destas coisas na Câmara. Qualquer assunto que surge já é motivo para um alvoroço. Depois que o Vanderlei mandou o áudio no grupo, ainda respondemos brincando que não podia aquilo. Temos todas as planilhas com o detalhamento do consumo de combustível. Eu fui lá e fiz o abastecimento. Realmente aconteceu, porque não é ilegal, é normal. A máquina é particular, mas o diesel é do Município”, explicou.

Nenhuma fonte ouvida para esta matéria quis falar sobre quem seria a pessoa responsável por vazar o áudio do grupo de trabalho da Sisp. O secretário Sid Ferreira e os servidores Vanderley Pedro Algayer e Júnior Ronan Hendges dizem ter suspeitas, mas preferem não citar nomes. O vereador Elígio Weschenfelder, o Muchila, disse que recebeu o áudio em um grupo aleatório.

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