Por decisão do Governo do Estado, Escola Mariante encerrará as atividades no fim deste ano

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Fundada em 1939, a Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante, em Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, encerrará as atividades em 30 de dezembro deste ano. A data foi confirmada após reunião entre o responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, e a equipe diretiva da escola, ainda em novembro. A decisão do Governo do Estado marca o fim da história de 85 anos do educandário, que foi castigado pela enchente do rio Taquari, em maio deste ano – os alunos estão na EEEM Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova.

Na manhã de hoje, a direção se reunirá com representantes do Círculo de País e Mestres (CPM) e membros da comunidade escolar para informar a decisão. Em ata da reunião realizada há poucas semanas, à qual a reportagem teve acesso, Pinho de Moura relatou três principais motivos para a finalização das atividades: a destruição do prédio em Vila Mariante; o desinteresse por parte da Prefeitura de investir no segundo distrito; e a realocação de famílias na região de Vila Estância Nova, nas unidades habitacionais que serão construídas na área do antigo Instituto Penal Mariante (IPM), ao lado da Escola Adelina.

Contatado pela reportagem da Folha do Mate, o coordenador Luiz Ricardo Pinho de Moura não retornou as ligações e mensagens. A diretora da Escola Mariante, Naira Elisabeth da Rosa, relata que a 6ª CRE não ofereceu uma opção para a comunidade escolar e nem consultou pais e moradores. “Sempre corremos para tentar ajudar a escola. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance”, lamenta.

A vice-diretora, Sinara Cezar Maria, afirma que é possível entender a opção, principalmente pela questão econômica e as possibilidades apresentadas na Escola Adelina, no entanto, o impacto maior é a questão emocional. “É uma história que está sendo arrancada. Não apenas da escola, mas de toda uma comunidade”, diz.

Promessas

Naira e Sinara elencam diversas promessas que foram feitas pela 6ª CRE e pelo Governo do Estado no período pós-enchente. Conforme elas, o planejamento inicial apontava para a ida dos alunos para o campus de Venâncio Aires da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ideia que foi abandonada com o baixo número de alunos, que caiu, na época, para cerca de 90.

Escola tem 85 anos de história (Foto: Leonardo Pereira)

Neste projeto, constava a expectativa de que os estudantes se mantivessem na Unisc até a construção de um novo prédio para a Escola Mariante. No entanto, antes mesmo da realocação, foi optado pela ida para a Escola Adelina, mais próxima de Vila Mariante. Nos últimos meses, a ansiedade da diretoria ficava por conta da falta de notícias com relação ao futuro do educandário. “Chegamos a enviar um ofício, em outubro, para a CRE pedindo explicações”, acrescenta Sinara.

Falta de empatia com a comunidade da Escola Mariante

Emocionada, Naira enfatiza que a prioridade número um da diretoria nos últimos anos foi atender da melhor forma possível os alunos e que, neste mês de dezembro, a equipe trabalhará até o último dia para seguir com esse objetivo. “Não vai ser fácil, mas vamos tocar até o fim”, garante, com lágrimas nos olhos.

Ainda não há uma definição com relação ao futuro do prédio da Escola Mariante, que pode se tornar área de preservação permanente (APP).

Conforme Sinara, a decisão se torna ainda mais impactante pela forma como foi tomada. Ela relembra que a escola era referência para toda uma comunidade, que se desenvolveu ao seu redor, e que agora está espalhada em vários pontos do município e de outras cidades por conta da tragédia de maio. “É a escola que dá vida para a comunidade. O Governo do Estado aproveitou um momento de fragilidade de todos para anunciar o encerramento das atividades”, completa.

50 – é o número aproximado de alunos matriculados na Escola Mariante. São três turmas, o 1º ano do Ensino Médio em turno integral, o 3º ano do Ensino Fundamental e o 6º ano do Fundamental. São 18 professores e dois funcionários.

Últimos anos da Escola Mariante

Em 21 de junho de 2022, o primeiro prédio da Escola Mariante foi interditado por problemas estruturais. Após todos os alunos serem transferidos para o segundo prédio do educandário, este foi interditado em 4 de julho, depois de complicações na rede elétrica. Com isso, todos os estudantes da escola passaram a ter aulas na modalidade Ensino a Distância (EAD).

Em 12 de setembro daquele mesmo ano, os estudantes passaram a ter aulas na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) campus de Venâncio Aires, que disponibilizou 10 salas, por meio de locação.

O prédio que foi interditado no dia 4 de julho, por problemas na rede elétrica, teve a reforma iniciada pela empresa Boa Vista Construções, de Erechim, em janeiro de 2023. O projeto de recuperação foi desenvolvido pela 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop).

A escola chegou a ficar com as aulas interrompidas nas duas enchentes do rio Taquari em 2023, em setembro e novembro, mas retomou as atividades. No início deste ano, foi confirmada a implementação do Ensino Médio em tempo integral na instituição.

Após a enchente histórica de maio deste ano, os alunos foram realocados na Escola Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova, onde seguem até agora.

Alguns itens tem sofrido com furtos (Foto: Leonardo Pereira)

Antes da primeira paralisação, a Escola Mariante tinha cerca de 230 alunos. Por ser uma ‘escola polo’ para os moradores de Vila Mariante e regiões próximas, o educandário chegou a ter mais de 600 alunos – quando ainda tinha turmas com aulas a noite.

Nas últimas semanas, o prédio da escola, em Vila Mariante, tem sido alvo de furtos. Instrumentos da banda marcial, fios de energia elétrica e telhas estão sendo levados do local.

“É uma tristeza. Fica a sensação de impotência, não era esse o fim que a gente queria.”

NAIRA ELISABETH DA ROSA

Diretora da Escola Mariante

Futuro

• A Escola Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova, se tornará a referência para as documentações relacionadas à Escola Mariante. Sendo assim, a história do educandário de Mariante ficará nos arquivos da Escola Adelina.

• Os repasses do Governo do Estado dedicados para a Escola Mariante já estão sendo enviados para a Escola Adelina e, em breve, serão investidos novos valores para a construção de três novas salas de aula, refeitórios, banheiros e, também, a conclusão do ginásio de esportes.

• O patrimônio que sobrou da Escola Mariante também será repassado para a Adelina Isabela Konzen.

• As matrículas dos alunos seguirão como Escola Mariante e, no início do próximo ano, todos serão transferidos automaticamente para a Escola Adelina.

Acolhimento na Escola Adelina

O ano dos alunos da Escola Mariante foi movimentado, mas a recepção na Escola Adelina Isabela Konzen é um motivo a ser comemorado pela diretoria e pelos estudantes. Conforme a diretora da Escola Mariante, Naira Elisabeth da Rosa, as duas escolas praticamente se tornaram uma, com um acolhimento especial feito pela direção e pelos estudantes da Adelina. “Com empatia, todos querendo o melhor para os alunos”, completa.

Algo também destacado pela diretora da Adelina, Adriana Dornelles Jantsch Kroth, que enfatiza o período de adaptação dos alunos e que, agora, estão todos integrados e bem acolhidos. “Convivemos juntos esse ano e aprendemos muito uns com os outros”, diz.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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