A Folha do Mate ouviu um morador de Venâncio Aires que convive com a síndrome do pânico. O homem na faixa dos trinta anos contou que a primeira crise ocorreu quando ele estava sozinho em casa, à noite, e assustou-se como uma dor repentina no lado direito do peito. “Liguei para um amigo e fui para o hospital, pois achei que pudesse estar correndo algum risco, infarto, pois dor no peito é sempre preocupante. Lembro que na primeira consulta a médica não descartou um problema cardíaco inicialmente, o que me deixou ainda mais assustado.” Depois de uma madrugada em observação no hospital, fez novos exames pela manhã e foi liberado, com diagnóstico de estresse e ansiedade.
“A partir disso tive vários episódios, pelo menos de duas a três vezes por semana durante mais de um ano, e era sempre muito difícil lidar com a situação, pois achava que estava correndo risco de vida.” As sensações eram de dor no peito, na cabeça, na nuca, nas costas e falta de ar. O paciente conta que no começo é difícil aceitar, pois o transtorno surge do nada e vem acompanhado de sensações muito ruins. “A melhor definição que ouvi, levando em consideração o que eu sentia, era que estava como “fobia de morte”, ou seja, medo de morrer.”
Mesmo reuniões mais simples com amigos passaram a ficar fora da sua agenda, pois preferia o isolamento e a toda hora achava que iria passar mal. “Por diversas vezes me isolei em casa, tive que deixar o trabalho me sentindo mal – a gente acha que vai ter ‘um treco’ na frente dos outros e não quer passar vergonha – e deixei de sair com amigos para jogar futebol ou ir a festas, por exemplo”, conta.
Procurar ajuda fez a diferença
Depois de várias consultas médicas e muitos atendimentos em hospitais, o homem conta que aceitou a recomendação de buscar a ajuda de um psiquiatra. “Por quase meio ano frequentei consultas mensais e, neste período, melhorou muito a minha situação. Ouvia do profissional que não havia motivo aparente para o surgimento dos sintomas, e que deveria estar relacionado mesmo com estresse e ansiedade. A medicação que me foi receitada surtiu efeito, me deu mais segurança e comecei a entender que deveria enfrentar a situação. Foi quando comecei a melhorar de verdade, mas até hoje tem episódios, embora esporádicos, de pânico.”
No caso dele, conta, as crises tinham duração de uma hora, em média, e elas começaram a cessar quando ele se conscientizou que tinha que se controlar, ‘segurar a onda’ e evitar de correr para o hospital quando tinha qualquer sensação de dor. “Meu conselho é esse: Por mais que saiba que é difícil na hora da crise, a saída é tentar ficar tranquilo, evitar pensamentos negativos e respirar fundo, porque o problema vai passar.”
Outra recomendação da parte dele é estar perto da família e dos amigos. “Porque são eles que vão dar o suporte necessário para superar este momento complicado. Ouvi vários deboches, do tipo “esse cara tá louco, pirado, tomando remédio”, e hoje sei que se não fosse a consciência de que precisava disso, não estaria quase livre desse fantasma. Aos poucos, as coisas vão voltando ao normal. é legal procurar por pessoas que estejam dispostas a ajudar para comentar sobre as aflições, e evitar falar sobre isso com quem não acredita no que você fala.”
>>> Famosos servem de exemplo no enfrentamento ao transtorno
A síndrome do pânico já acometeu muitos famosos, que ao relatarem a experiência acabam por servir de inspiração para pacientes enfrentarem o transtorno e também para desmistificar o preconceito que ainda há sobre as doenças mentais. Um exemplo é o da top model Gisele Bündchen, que confirmou ter sofrido com o transtorno em entrevista ao Fantástico no ano passado. “Foi um momento difícil. Eu tive que achar outras alternativas. Se tivesse continuado no caminho onde estava, não teria sido um final feliz. No maior desafio que vivi, veio a maior bênção. Nesse momento, quero muito estar comigo, me conhecer mais, estar com meus filhos.”
Em maio deste ano foi a vez do ator e cantor Lucas Lucco falar sobre a síndrome do pânico durante participação no programa Encontro. Ele contou que chegou a perder compromissos profissionais porque não conseguia mais sair de casa. “As coisas foram acontecendo e quando eu me vi já estava desse jeito. Comecei a não conseguir ir aos shows, faltar as gravações da novela, porque não conseguia sair de casa. Tinha medo. é uma doença, uma ferida que ninguém pode enxergar. As pessoas te olham e não conseguem ver nada além de um rosto triste. é difícil de expor, explicar. Parece que ninguém te entende. Por mais que as pessoas tentem definir o que está acontecendo com você, é muito pior do que acham. Hoje, estou muito bem”, relatou.
DICA: CARTãO PARA PEDIR AJUDAR
Para lidar com as crises, uma alternativa usada por alguns pacientes é carregar sempre consigo um cartão para entregar a quem vier lhes socorrer nos momentos de pânico (principalmente, se for um desconhecido). Segundo a psicóloga Gabriela Geara, nesse papel, há uma pequena explicação sobre como é a crise e um pedido de que alguém possa lhe fazer companhia por alguns minutos até que a ansiedade diminua. “Isso faz toda diferença, pois evita que a pessoa que está socorrendo se assuste e facilita a comunicação entre ambos. Assim, os pacientes costumam se sentir mais amparados diante dessas crises inesperadas – o que diminui o desespero e a sensação de terem perdido o controle de si que eles experimentam nesse momento.”
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