Depois de cuidar de muita gente, chegou a hora de cuidar de si próprio. Foram 25 anos de enfermagem somente como concursado pelo Município de Venâncio Aires. Um ciclo que se encerra com o sentimento de dever cumprido.
Astor Herdina, 57 anos, exerceu o último dia de trabalho ontem, no posto de saúde de Linha Tangerinas. Técnico em enfermagem, ele agora entra em período de férias, para posteriormente usufruir da licença prêmio. Em junho, quando voltaria ao trabalho, a esperada aposentadoria terá início.

No tempo de atuação pela Prefeitura, passou por diversas unidades de saúde da cidade e interior de Venâncio Aires. Durante os últimos oito anos atuou em Tangerinas, onde criou um vínculo com a comunidade. Na edição da Folha do Mate de quarta-feira, 31, foi publicada uma homenagem feita pelos moradores da localidade em agradecimento aos serviços prestados. “Só tenho a agradecer o período de trabalho em Linha Tangerinas. Uma comunidade de pessoas incríveis que me acolheram e reconheceram pelo serviço prestado”.
Herdina nasceu e cresceu em Linha Sexto Regimento, interior de Venâncio Aires. Após estudar nas escolas Professor Adolfo e Sebastião Jubal Junqueira e ajudar o pai nos afazeres da lavoura de fumo, foi para a cidade morar com o irmão para trabalhar como servente de pedreiro e terminar os estudos.
Após ser entregador no Comercial Mahle e servir ao Exército, começou o trabalho na área da saúde em 1981, como atendente do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Concomitantemente, deu início aos estudos no curso técnico de Enfermagem, no Colégio Madre Bárbara, em Lajeado. Concluiu o curso e assumiu a função de supervisor geral no turno da noite do HSSM. Durante o dia, trabalhava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Bruno Born, em Lajeado. Depois disso, também passou pelas UTIs do Hospital Beneficente de Estrela e Hospital Santa Cruz.

PLANOSCom a aposentadoria, Herdina agora quer se dedicar à família. É casado com Evanir há 25 anos, com quem tem um filho, Renan, 18 anos. É pai também de Maicon, 35, e Deise, 32, frutos do primeiro casamento. “Também quero curtir minha mãe, Elmira, que está com 88 anos”. Avô de Maria Eduarda, 11, e Gustavo, 4, quer se dedicar também à massoterapia. “Tenho curso de massoterapia e quero organizar um espaço aqui em casa para realizar os atendimentos”, comenta.
Também estão nos planos se dedicar a uma boa pescaria e tocar gaita com os amigos. Ele participa de grupos de kerb do interior e toca com amigos, mas afirma: “Não sou profissional, mas gosto de tocar gaita”. O futebol, que hoje pratica quatro vezes por semana, segue na rotina. “Eu voltei a jogar quando meu caçula era pequeno. Agora continuo e jogamos juntos na turma de sábado, me sinto disposto e bem”, completa.
“Quero pedir atenção das autoridades para as pessoas do interior, porque elas são o esteio do progresso no município. Trabalhei muito tempo nas comunidades do interior e sempre fui bem tratado e reconhecido.”ASTOR HERDINATécnico em Enfermagem
15 anos depois, o destino promove um reencontro
Sobre os desafios e momentos marcantes da trajetória profissional, Herdina destaca um caso em específico. Durante o período que estava trabalhando na UTI do Hospital Bruno Born, um bebê extremamente prematuro nasceu e foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva. A equipe de enfermagem apelidou ele como ‘meio quilo’, devido ao tamanho do recém-nascido. A família era de Venâncio Aires e o menino ficou meses isolado na UTI do hospital, que na época não tinha a ala pediátrica. “Deixávamos ele o mais isolado possível para evitar infecções, era muito frágil”, destaca.
Ele conta que a alimentação era dada em doses muito pequenas e de tempo em tempo era necessário dar um verdadeiro ‘susto’ no recém-nascido, para que ele lembrasse de respirar sozinho. “Colocávamos uma luva e a mão com muito cuidado embaixo do corpo do bebê. Com o auxílio de uma máquina a luva inflava e murchava rapidamente, para que com o impacto o recém-nascido respirasse”, recorda.
No início dos anos 2000, quando atuava no posto de saúde do Gressler, Herdina foi surpreendido. Um rapaz de 15 anos chegou com a mãe para fazer uma vacina. A mãe logo olhou para o técnico e disse: “Sabe quem é esse aqui? Tu conhece, é o meio quilo!”. Depois de tantos anos o destino uniu paciente e profissional mais uma vez. “Na hora eu me arrepiei, lembrei daquele bebê tão pequeno e vi na minha frente um rapaz forte e saudável. Nesses momentos a gente vê a importância do nosso trabalho”, finaliza.
