O calor que chegou com o mês de agosto tornou-se pauta principal em conversas diárias. Por sua vez, o cenário com temperaturas fora do padrão para esta época do ano é pouco favorável para a fruticultura, pois antecipou o florescimento de variedades de frutas. O comércio também se vê prejudicado, pois, para eliminar os estoques de inverno, precisaram encontrar alternativas, entre elas, investir em promoções e liquidações.
Os agricultores já percebem o florescimento de rosáceas como pera, pêssego, nectarina e ameixa. Para o chefe do Escritório Municipal da Emater/RS- Ascar, Vicente Fin, o surgimento dessas frutas fora de época não é positivo para a agricultura, pois, caso ocorra geada, a produção pode ser muito afetada. O citrus também passou a florescer, nesse ano, antes da hora. Se fizer frio de novo, segundo Fin, os efeitos serão negativos. No caso do trigo, as baixas temperaturas atrasarão o alongamento da haste, ou seja, a diferenciação floral. “Como esquentou, a haste vai alongar e caso haja um frio tardio, que pegue o trigo na diferenciação floral, haverá umidade, e o estrago será grande. Se não esfriar, não vai ter problema”, explica.
As altas temperaturas também aceleram o processo de podas de árvores. “Se a carreira de pêssego tiver brotado, é um problema, porque, com a poda, podem quebrar as flores ou os brotos novos”, ressalta. Ele ainda observa que as pragas na agricultura também sofrem alteração no ciclo de reprodução em função do calor. Esta situação também faz com que as pessoas precisem fazer o controle delas com antecedência. “Uma invasora cresce em poucos dias com o calor, mas, se tivesse frio, teria a germinação parada”, explica.
Por sua vez, segundo Vicente, há um efeito positivo diante de todo esse florescimento precoce. Para a plantação de milho, o calor é favorável, pois o produto germina. Se as temperaturas fossem mais baixas, levaria cerca de uma semana para a planta se estabelecer.
AGRICULTOR
De acordo com Fin, a agricultura já passou por momentos como esse. O calor fora de época traz como risco o fato de cair granizo. “Outra coisa, se der geada, na flor não tem problema, mas se der geada com fruto, prejudica quase 100% a produção”, comenta.
O agricultor Marcus Hinterholz, 48 anos, morador de Linha Santa Emília, não nega a preocupação. Ele, que cultiva árvores de pêssego desde 2013, diz já ter passado no ano anterior por situação semelhante, e o prejuízo na produção foi de 80%, pois ocorreu geada. “O pêssego deveria dar só em dezembro, mas já tenho frutas prontas para serem colhidas agora. é muito ruim quando floresce tão cedo”, observa ele. Marcus, que possui cerca de 320 pessegueiras na propriedade, tem como objetivo comercializar as frutas. Para não ter perdas como no ano anterior, o agricultor mantém o pensamento positivo: “Tomara que não caia granizo e não tenha geada, porque se isso ocorrer, vai ser um problema muito grande.”
O pêssego deveria dar só em dezembro, mas já tenho frutas prontas para serem colhidas agora. é muito ruim quando floresce tão cedo
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