Há quem diga que a demanda aparece quando existe o serviço. Na área da saúde, isso é bastante comum e ajuda a explicar como algumas situações, tempos atrás menores ou ignoradas, ‘brotam’ de uma hora para outra e viram necessidade.
Entre as novidades ou assuntos ainda pouco conhecidos, está o tratamento com células-tronco, que se dá, por exemplo, a partir da coleta do cordão umbilical logo após o parto. Talvez muita gente não sabe, mas isso não é apenas uma realidade de ‘cidade grande’. A coleta é algo possível, também, na maternidade do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM).
A casa de saúde de Venâncio Aires permite o serviço, mas apenas duas enfermeiras tinham condições de fazê-lo – isso há muitos anos – e mais profissionais precisavam ser treinados. Agora, o time foi reforçado e outras enfermeiras participaram de uma capacitação sobre a coleta de cordões umbilicais.
Esse treinamento ocorreu nesta segunda-feira, 25, no próprio hospital, e foi oferecido, gratuitamente, pela Hemocord, de Porto Alegre. Trata-se de uma empresa privada e que é o primeiro banco de células-tronco no sul do Brasil. “A demanda pode ser maior ou menor. Muito depende do conhecimento das famílias, também é uma questão de informação. Se houver o serviço e as pessoas souberem, a procura tende a ser maior”, considera Edilene Appelt, gerente comercial da Hemocord.
A enfermeira do HSSM, Stelamaris Guimarães, ressaltou a importância do serviço. “Precisamos estar aptos e quanto mais profissionais, melhor. Para quem precisar da coleta do cordão, pode fazê-lo aqui mesmo, sem necessidade de ir para outro hospital.”
Cerca de 12 enfermeiras participaram da capacitação. A última vez que houve coleta de cordão umbilical no hospital de Venâncio foi em fevereiro de 2018.
APLICAÇÕES
Conforme informações da Hemocord, o sangue do cordão umbilical é rico em células-tronco com grande capacidade regenerativa. Entre as aplicações aprovadas, estão doenças metabólicas, leucemias, linfomas, mieloma e tumores sólidos.
Já o tecido do cordão umbilical tem grande capacidade de multiplicação e de diferenciação, em células dos tecidos ósseo, cartilaginoso, muscular e nervoso. Das aplicações em estudo, estão doenças cardiovasculares, autoimunes, neurodegenerativas, disfunções do fígado, entre outras.
Conceito
De acordo com o Instituto de Pesquisas com Células-tronco (IPCTA), as células-tronco são capazes de autorrenovação e diferenciação em muitas categorias. Elas também podem se dividir e se transformar em outros tipos de células. Além disso, podem ser programadas para desenvolver funções específicas, já que não têm uma especialização.
COLETA
Segundo o enfermeiro da Hemocord, Fabrízio Loth, a coleta é rápida, indolor e sem riscos à mãe ou ao bebê. No momento da coleta, o sangue e o tecido do cordão umbilical são armazenados dentro de uma bolsa de sangue.
O material, devidamente resfriado, segue para Porto Alegre. No laboratório, o processo seguinte é pelo isolamento das células-tronco, que serão armazenadas em nitrogênio. Pode ser guardado por tempo indeterminado e transportado para qualquer lugar no mundo.
No caso do sangue do cordão, ele é 100% compatível com o próprio bebê e é maior a chance de compatibilidade total entre irmãos diretos. Conforme a Hemocord, o sangue de cordão umbilical já foi utilizado em mais de 40 mil transplantes no mundo.
Uma ‘carta na manga’ para Antony
Nos últimos meses, o termo ‘células-tronco’ esteve nas rodas de conversa do município, principalmente depois da campanha em prol de Antony Sackser de Mello, de 4 anos, que teve uma encefalite viral que deixou lesões cerebrais e comprometeu seu desenvolvimento. No fim de janeiro, ele foi para a Tailândia, onde realizou a primeira parte de um tratamento com células-tronco.
Foi pensando nisso que a família tomou outra decisão e que, futuramente, pode ajudar Antony. A mãe dele, Juliana Andréia Sackser, está grávida e fará a coleta do cordão umbilical de Sofia, bebê que deve nascer até o dia 16 de abril, no Hospital São Sebastião Mártir. “Vai ser ótimo ter esse serviço aqui”, comemorou, ao saber da capacitação oferecida no HSSM.
Juliana disse ainda que a decisão pela coleta e armazenamento do cordão umbilical pode ser importante para o tratamento do filho. “Essa possibilidade será como uma carta na manga. Com as constantes pesquisas na área, pode sim ser algo benéfico para o Antony.”
SEQUÊNCIA
Em fevereiro, Antony passou por semanas de tratamento na Tailândia. No país asiático, o menino recebeu, de um banco de doadores, células-tronco de cordão umbilical e placenta, o que aumentam as chances de regeneração das que ele já tem.
Desde então, “vem reagindo bem”, segundo relatou a mãe, Juliana. “No olhar, nos gestos. Ao acordar passa a mão no rosto, se vira. Quando se faz força contra o braço ou perna, ela já resiste e tenta devolver a força. Graças a Deus, ele vem reagindo muito bem.”
O tratamento no Better Being Hospital (BBH) de Bangkok terá duas partes e a nova viagem para a Tailândia está prevista para setembro.